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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Juntas, as famílias de funcionárias e alunos mortos no massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, velam as vítimas na Arena Suzano, no Parque Max Feffer, na manhã desta quinta-feira (14).
O velório coletivo começou às 7h entre abraços, choros, sussurros e crianças pequenas que acompanham os pais, no ginásio poliesportivo que fica a menos de um quilômetro da escola, palco dos ataques.
Milhares vieram ao local prestar homenagens, formando uma grande fila do lado de fora. Alguns familiares chegaram a passar mal, sendo atendidos em ambulâncias
Às 11h, o silêncio do ginásio esportivo virou um coro de preces e cânticos religiosos, com a missa ecumênica realizada pelo pároco da igreja São Sebastião, Cláudio Taciano.
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O líder religioso criticou a violência. "Salta aos olhos a agressividade, o revanchismo, as ofensas, não só nas redes sociais, mas em vários ambientes." E pediu por paz. "Paz não só para esta escola, mas para a cidade, para o Brasil", disse.
Às 14h, está previsto outro ato ecumênico, com o bispo Dom Luís Stringhini, da Diocese de Mogi das Cruzes, e bispo Júlio Vertulo, da Igreja Mundial Cristã. Os corpos sairão do velório em direção ao sepultamento no Cemitério São Sebastião, às 15h.
O ministro da Educação, Ricardo Vélez, o secretário estadual da Educação Rossieli Soares e o prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, passaram pelo velório.
O movimento de pessoas que não são das famílias é grande na Arena circundada por dezenas de coroas de flores. Elas ficam isoladas por uma grade que as separa dos familiares -os únicos próximos aos corpos.
Estão sendo velados os estudantes Cleiton Antonio Ribeiro, 17; Caio Oliveira, 15; Samuel Melquiades Silva de Oliveira, 16; e Kaio Lucas da Costa Limeira, 15.
Também a inspetora de ensino Eliana Regina de Oliveira Xavier, 38 e a coordenadora pedagógica Marilena Ferreira Umezu, 59 -que só será sepultada no sábado (16), quando um de seus filhos chega do exterior.
Outras duas famílias optaram por velórios separados. O estudante Douglas Murilo Celestino, 16, está sendo velado desde 1h, na igreja evangélica Assembleia de Deus, em Suzano.
E o velório do empresário Jorge Antonio Moraes, proprietário de uma revendedora de carros e tio de um dos atiradores, acontece desde a madrugada no cemitério Jardim Colina dos Ypês, onde será sepultado.
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CHORO E DOR
A estudante Sofhia Cristal Reis, 16, veio ao velório do amigo Caio, porque "de alguma forma precisava estar com ele". Mas às vezes, "eu paro para pensar e não parece real ainda".
Ela não estava na Raul Brasil porque tinha acabado de trocar de escola e largou a aula quando soube do atentado no colégio onde conheceu também a coordenadora Marilena e a inspetora Eliana.
"Recebi a notícia e sai correndo. Vi que era ele pelos vídeos, fotos. Fiquei apavorada", conta ela, que dividia com o amigo o gosto por trap (subgênero do rap). "Um dia ele tá lá tão sorridente com a gente, no outro ele tá deitado num caixão."
Sobre o caixão de Samuel Melquiades repousa a bandeira do Clube Desbravadores, uma espécie de grupo de escoteiros ligado à Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Sua equipe, os Soldados da Fé, veio a caráter ao velório -calça verde escura, blusa branca com distintivos bordados, um lenço amarelo no pescoço e sapatos sociais.
"Foi uma forma de homenagear", diz Cassiano Miranda, 24. Ele dividia com Samuel as reuniões, acampamentos e o amor a Deus. "Ele também amava desenhar. Foi quem desenhou a programação jovem da igreja. Era uma pessoa totalmente irrepreensível", conta. "A gente não entende o motivo."
Este é o primeiro ano de José Victor Júnior, 15, na Raul Brasil. Ele se preparava para ir a aula na tarde desta quarta (13), quando soube do ataque. "Fiquei desesperado porque meus primos estavam na escola."
Os estudantes saíram ilesos, mas este início de ano letivo levou "a tia" -no caso, a inspetora Elaine. "Minha irmã mais velha estudou lá também, então peguei intimidade com ela muito rápido, ficava um zoando o outro." Mas "na hora de dar bronca ela dava também."
Ele não sabe o que vai ser da segunda-feira (18) que se avizinha. "A gente viu exatamente onde cada corpo tava, vamos lembrar toda vez que olhar."
Tia da inspetora Eliana, a professora Rosana da Silva, 55, aproveitou o velório para protestar contra a flexibilização da posse e do porte de armas. Ela e mais dois colegas empunhavam cartazes escritos "queremos paz e segurança nas escolas". "Estamos reivindicando nossos direitos. Ter mais armas só vai gerar mais violência", diz.
Se os professores tivessem armados, "a tragédia seria maior", completa o pensionista Julia César de Oliveira, 41. "Hoje são eles que estão chorando pelos filhos. E amanhã? Vai ser o meu filho, o meu neto?"
Os corpos dos atiradores Guilherme Taucci Monteiro, 17, e de Luiz Henrique de Castro, 25, deixaram o IML (Instituto Médico Legal) de Mogi das Cruzes (Grande SP) e foram enterrados no final da manhã desta quinta. Guilherme foi sepultado no cemitério São João Batista e Luiz, no São Sebastião. As cerimônias ocorreram por volta das 12h30 e foram fechadas à imprensa.
Há ainda outros sete feridos hospitalizados. Um deles segue em estado grave. É o estudante Anderson Carrilho de Brito, 15, transferido de Suzano para o Hospital das Clínicas, na capital paulista.
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SEGURANÇA NAS ESCOLAS
Alocar policiais da reserva dentro das escolas também será uma das iniciativas discutidas pelo secretário de Educação da gestão Doria (PSDB), Rossieli Soares, e pelo prefeito de Suzano Rodrigo Ashiuchi, para reforçar a segurança nos colégios das redes estadual e municipal.
A secretaria divulgou que faria uma revisão de procedimentos nos 5.300 colégios do estado de São Paulo.
"Temos em estudo a proposta de colocar alguns policiais em algumas escolas, não serão em todas", afirmou o secretário na saída do velório coletivo de seis vítimas. Não respondeu, no entanto, se os policiais ficariam armados.
Ele listou outras ações que devem ser implementadas como instalação de sistemas eletrônicos de vigilância e barrar o acesso nos portões de entrada, principalmente nas escolas que têm indicadores de maior vulnerabilidade.
"Mas esta não é a mais efetiva ação para esse tipo de problema. Precisamos ir pro lado humano e discutir com os jovens. Precisa da família para ajudar a identificar o problema, para darmos suporte aos alunos que tenham sofrido de depressão ou bullying", afirmou o secretário.
De acordo com o prefeito, a expectativa é de que a Raul Brasil vire um modelo de escola após a tragédia e receba uma ação mais ostensiva. "Usando policiais na reserva na parte administrativa, não na pedagógica", afirmou Ashiuchi, que pretende dar subsídios para que os agentes atuem nos colégios. "Se depender de mim sai no mês que vem."
Não haverá aulas na rede em Suzano nesta sexta (15). Na próxima semana, a Raul Brasil estará aberta para alunos e professores, mas apenas para atendimentos, reuniões e rodas de conversa.
As famílias deverão receber apoio de dois psiquiatras e um psicólogo que atuarão com a equipe do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) de Suzano.