Gafisa é condenada a pagar R$ 30 milhões por construção irregular em SP

Condomínio, que tem cerca de 160 casas, ficou pronto e começou a receber os primeiros moradores em 2000.

© PixBay

Economia Em crise 14/03/19 POR Folhapress

TAÍS HIRATA E ANAÏS FERNANDES - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em meio a uma grave crise financeira e institucional, a construtora Gafisa sofreu mais um revés -desta vez, judicial.

PUB

A empresa foi condenada, em primeira instância, a desembolsar mais de R$ 30 milhões pela construção inadequada de um condomínio, na zona Sul de São Paulo. A companhia ainda poderá recorrer da decisão.

O condomínio, que tem cerca de 160 casas, ficou pronto e começou a receber os primeiros moradores em 2000.

Menos de cinco anos depois, porém, indícios de falhas na construção começaram a aparecer: o pavimento das ruas e edificações apresentavam rachaduras, lâmpadas queimavam com frequência e problemas hidráulicos passaram a surgir.

Perícias mostraram que o terreno, que havia sido uma pedreira anos antes, foi aterrado de forma irregular, com entulhos e matéria orgânica -que inclusive passou a entrar em decomposição e formar gases- e sem compactação suficiente, o que prejudicou a estabilidade do solo.

+ Previdência: transição para militares será mais suave do que a de civis

A construtora não teria feito sondagens nem preparado o terreno de forma adequada, o que levou aos diversos problemas nas edificações.

Em 2006, os moradores decidiram entrar com a ação judicial contra a incorporadora -hoje, Cimob Imobiliária (ex-Gafisa Imobiliária, que vendeu sua participação no grupo em 2005 e mudou de nome).

A Gafisa S/A, construtora responsável pela execução da obra do condomínio, entrou na disputa só mais tarde.

"Foi um processo longo porque em nenhum momento a empresa deu suporte aos peritos ou aos moradores. Foi um relapso total", afirma o advogado Paulo Palermo, do Palermo e Castelo Advogados, que representa os moradores.

Todos os danos têm sido recuperados pelo próprio condomínio e pelos moradores. No asfalto, é possível ver inúmeras marcas de reparos.

Além do pagamento de tudo que foi gasto com essas obras ao longo dos doze anos de processo, a Justiça determinou a realização de uma reforma completa no condomínio, orçada em cerca de R$ 11 milhões.

Foi determinado também um pagamento de R$ 17,8 milhões por danos morais aos moradores, além do ressarcimento pelos custos judiciais (20% sobre o valor da condenação).

Todos esses gastos terão que ser arcados pela construtora Gafisa, segundo a sentença do juiz.

A incorporadora Cimob também terá que pagar uma multa adicional de R$ 5,5 milhões, referente ao atraso no cumprimento de determinações judiciais ao longo do processo.

Procurada, a Gafisa afirmou, em nota, que irá recorrer da decisão. "A empresa ainda reitera que atua rigorosamente dentro da legalidade e de forma transparente, visando sempre o respeito ao consumidor." A Cimob não foi encontrada pela reportagem.

O episódio é apenas mais um em meio à crise enfrentada pela Gafisa, um dos principais grupos do ramo imobiliário no Brasil.

A dívida de curto prazo da empresa (ou seja, que precisa ser paga em até um ano) soma R$ 201,4 milhões, segundo os dados do terceiro trimestre de 2018, os mais recentes divulgados. A geração de caixa nesse trimestre foi negativa em R$ 14 milhões.

O atual comando da empresa formou recentemente um comitê de reestruturação e está analisando medidas para melhorar a saúde da companhia e renegociando pagamentos com fornecedores, segundo pessoas ouvidas pela reportagem.

A construtora tenta se recuperar após seis meses turbulentos sob o comando da gestora GWI, do sul-coreano Mu Hak You. O investidor é conhecido no mercado como "rei do termo" por sua estratégia arriscada de comprar ações a prazo e lucrar caso elas se valorizem.

À frente da empresa de setembro de 2018 a fevereiro deste ano, a GWI destituiu funcionários do alto escalão da construtora, promoveu mudanças que levaram outros executivos a pedirem demissão e colocou em cargos-chave advogadas sem muita experiência na área.

A Gafisa não tem um grupo controlador, diferentemente de outras grandes do ramo, como a Cyrela, da família Horn, e a Eztec, dos Zarzur. Isso permitiu que a GWI chegasse a deter quase 50% de participação no grupo.

Além disso, a empresa estava barata na Bolsa após o ciclo recessivo que afetou o setor e um balanço machucado por aquisições duvidosas, como a da Tenda (de quem a Gafisa concluiu separação em 2017).

A gestão de You assumiu com o anúncio de uma estratégia de recuperação do valor da companhia. Um dos principais pilares era a redução de custos, o que incluiu corte de funcionários, redimensionamento de estandes de vendas, suspensão de pagamento a fornecedores e o fechamento abrupto da filial no Rio de Janeiro.

Houve também uma tentativa frustrada de transferir a sede da empresa de São Paulo para São Caetano (na Grande SP), e a Gafisa teria começado a avisar funcionários que poderia paralisar canteiros de obras -o que a direção da construtora negou à época e que acabou não se concretizando.

De toda forma, as medidas não foram bem vistas pelo mercado. Desde que a GWI começou a mexer na empresa, os papéis da construtora acumulam queda de 12% e, só em 2019, o tombo é de 42%.

Sob pressão para cobrir margens de garantia de suas posições alavancadas, a GWI promoveu no dia 14 de fevereiro um leilão de ações e reduziu sua participação na Gafisa para 7,7% -desde a quarta-feira (20), está em 4,89%.

Mu Hak You deixou a presidência do conselho de administração da construtora dias após o leilão, cargo assumido por Augusto Marques da Cruz Filho.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

politica Polícia Federal Há 10 Horas

Bolsonaro pode ser preso por plano de golpe? Entenda

esporte Indefinição Há 11 Horas

Qual será o próximo destino de Neymar?

fama MAIDÊ-MAHL Há 11 Horas

Polícia encerra inquérito sobre Maidê Mahl; atriz continua internada

justica Itaúna Há 11 Horas

Homem branco oferece R$ 10 para agredir homem negro com cintadas em MG

economia Carrefour Há 9 Horas

Se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros, diz Fávaro, sobre decisão do Carrefour

brasil Brasil Há 6 Horas

Jovens fogem após sofrerem grave acidente de carro; vídeo

fama Segunda chance Há 23 Horas

Famosos que sobreviveram a experiências de quase morte

brasil São Paulo Há 11 Horas

Menina de 6 anos é atropelada e arrastada por carro em SP; condutor fugiu

fama Documentário Há 3 Horas

Diagnosticado com demência, filme conta a história Maurício Kubrusly

fama Harry e Meghan Markle Há 2 Horas

Harry e Meghan Markle deram início ao divórcio? O que se sabe até agora