Ruralistas estão alarmados com o viés anti-China no governo Bolsonaro

Na segunda, chanceler afirmou que país não vai vender alma para exportar

© Alan Santos/PR

Economia Insatisfação 16/03/19 POR Folhapress

PATRÍCIA CAMPOS MELLO - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Representantes de diversos setores do agronegócio estão alarmados com o que consideram ser um viés anti-China espalhado no governo Bolsonaro. "Estamos comprando briga com nosso maior parceiro comercial e nem sabemos por que, só para imitar o [presidente americano, Donald] Trump", diz Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-secretário de comercialização e produção do Ministério da Agricultura.

PUB

Representantes de diferentes setores do agronegócio ouvidos pela reportagem relataram que a mensagem que têm recebido no governo é de que é preciso reduzir a "sino-dependência", diversificar mercados e diminuir a exposição à China. Setores como o de carnes, suco de laranja, algodão e soja, que fazem grandes exportações para a China ou têm planos de expandir, manifestaram preocupação.

Em encontro recente na sede da Frente Parlamentar da Agropecuária com diversas entidades do setor, representantes do Ministério da Agricultura tranquilizaram os produtores, afirmando que não haverá rompimento com a China. Mas os desestimularam de aumentar exportações para o país, encorajando-os a buscar mercados em algum dos 119 países com representações brasileiras.

O discurso do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo (foto), para alunos do Instituto Rio Branco nesta segunda-feira (11) foi a gota d'água.

+ Ciro Gomes tuíta 'escândalo' na reforma e secretário o desafia a provar

+ Guedes quer distribuir 70% do pré-sal para Estados e municípios

O chanceler afirmou que o Brasil não vai vender sua alma para exportar minério de ferro e soja.

A China é a maior compradora de soja e minério de ferro do Brasil. "Nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma. Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, isso não vai acontecer."

Araújo também questionou se a parceria com a China seria benéfica para o Brasil. "De fato, a China passou a ser o grande parceiro comercial do Brasil e, coincidência ou não, tem sido um período de estagnação do Brasil."

Produtores procuraram o líder da Frente Parlamentar Agrícola, deputado Alceu Moreira (MDB), e pediram que marcasse uma reunião com Araújo.

Também procuraram a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que teria prometido a integrantes do setor que conversaria sobre o assunto com o presidente Jair Bolsonaro na viagem aos EUA.

Araújo está tentando desfazer o mal-estar das declarações. Agendou um almoço com a ministra Tereza Cristina e parlamentares da bancada agrícola na quinta-feira (14). Na quarta (13), recebeu o presidente da Confederação Nacional da Agricultura e ouviu que a China é um parceiro fundamental para os produtos brasileiros.

Em entrevista na quinta-feira, após reunião preparatória para a cúpula dos Brics, Araújo também contemporizou, ao ser questionado sobre as declarações.

"Não me referia à China, falei de qualquer parceiro -nossa política comercial tem que vir junto com política de reforço dos nossos valores. Precisamos trabalhar tanto com crescimento econômico, quanto com os valores mais profundos da nacionalidade."

Segundo representantes do setor, a eleição de Bolsonaro havia sido comemorada como o fim da ideologização da política externa e comercial. Mas, agora, os produtores estariam muito preocupados porque veem profunda ideologização -no lado oposto.

O setor já estava muito preocupado com as repercussões da intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Diversos países árabes sinalizaram seu descontentamento e embaixadores pediram audiências com vários ministros. O Oriente Médio é um dos maiores compradores de proteína animal do Brasil.

Agora, temem que a próxima ação do governo seja de distanciamento do Irã, outro grande comprador de proteína animal brasileira. O deputado Eduardo Bolsonaro já criticou o país e afirmou que o propósito da política externa brasileira seria se aproximar dos países sunitas. O Irã é xiita.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia Dinheiro Há 12 Horas

Entenda o que muda no salário mínimo, no abono do PIS e no BPC

tech Aplicativo Há 12 Horas

WhatsApp abandona celulares Android antigos no dia 1 de janeiro

brasil Tragédia Há 6 Horas

Sobe para 14 o número desaparecidos após queda de ponte

mundo Estados Unidos Há 13 Horas

Momento em que menino de 8 anos salva colega que engasgava viraliza

fama Condenados Há 21 Horas

Famosos que estão na prisão (alguns em prisão perpétua)

brasil Tragédia Há 13 Horas

Vereador gravou vídeo na ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira pouco antes de desabamento

fama Emergência Médica Há 13 Horas

Gusttavo Lima permanece internado e sem previsão de alta, diz assessoria

fama Realeza britânica Há 5 Horas

Rei Chales III quebra tradição real com mensagem de Natal

brasil Tragédia Há 13 Horas

Mãe de dono da aeronave que caiu em Gramado morreu em acidente com avião da família há 14 anos

fama Hollywood Há 8 Horas

Autora presta apoio a Blake Lively após atriz acusar Justin Baldoni de assédio