Atirador e suspeito treinaram tiro dias antes de massacre em Suzano

Um vídeo mostra os dois recebendo instruções de um funcionário na loja Clube da Mira, no Shopping Tatuapé

© REUTERS / Amanda Perobelli (Foto de arquivo) 

Justiça Massacre 21/03/19 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cinco dias antes do massacre na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, o atirador Guilherme Taucci, 17, e o jovem de 17 anos apreendido como terceiro suspeito de planejar o crime foram até um estande de tiros e treinaram disparos com armas airsoft e arco e flechas.

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Um vídeo mostra os dois recebendo instruções de um funcionário na loja Clube da Mira, no Shopping Tatuapé, na zona leste da capital paulista. O jovem suspeito segura o casaco de Guilherme Taucci, enquanto ele examina um arco e flecha.

Taucci se matou no último dia 13 após assassinar seu tio, cinco estudantes e duas funcionárias da escola, além de seu cúmplice na execução do massacre, Luiz Henrique de Castro, 25. Os dois também feriram outras 11 pessoas durante o ataque a tiros.

No vídeo, depois de receber orientações, Taucci e o adolescente alugam equipamentos de arco e flecha e armas airsoft  -que imitam as de verdade, mas disparam balas de plástico e têm a ponta laranja. Eles treinaram por mais de uma hora, no dia 8 de março.

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Os dois usavam camisetas da banda de heavy metal Slipknot, cujo integrantes se apresentam com máscaras.

Quando pediu a apreensão do jovem suspeito, na terça (19), a polícia havia descoberto que os adolescentes treinaram tiros juntos e estavam em busca de imagens para corroborar a informação.

O delegado titular da delegacia de Suzano, Alexandre Henrique Augusto Dias, diz considerar o adolescente apreendido o autor intelectual do ataque à escola, ao lado de Taucci, embora ainda não se saiba o que teria provocado a saída dele da efetivação do ataque.

O jovem apreendido também é ex-aluno da Raul Brasil e seria melhor amigo de Taucci. Os dois estudaram na mesma classe. Ele cumprirá internação provisória por 45 dias numa unidade da Fundação Casa.

Durante as investigações, foram analisados os celulares dele e dos dois atiradores. Mensagens trocadas entre os três também mostraram à Justiça indícios concretos da participação do jovem. Entre os itens apreendidos na sua casa estavam desenhos de pessoas mortas, mensagens criptografadas e uma bota militar muito semelhantes às achadas na casa dos dois atiradores -Taucci e Castro.

Segundo o estande de tiros, que tem como propaganda o slogan "diversão para todas as idades", menores só podem praticar esse tipo de treinamento acompanhado pelos pais ou de maior responsável -os dois adolescentes, no entanto, conseguiram treinar lá sozinhos.

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A prática de airsoft em estandes de tiro por menores de idade ocupa um vácuo legal e divide opiniões, assim como a compra de armas brancas como a besta (espécie de arma medieval que dispara flechas) encontrada com os autores do massacre.

O Exército regula a venda de armas de pressão, mas não tem a incumbência de controlar quem pratica nos estandes. Exige apenas que os compradores tenham mais de 18 anos. Ou seja, os estandes de tiro limitam seu uso a maiores de idade por uma decisão interna.

O Estatuto do Desarmamento proíbe a produção e venda de simulacros de armas. Mas uma portaria do Exército classifica como simulacro um objeto que visualmente pode ser confundido com uma arma de fogo, mas que não realiza tiro de qualquer natureza -o texto deixa as armas de airsoft fora dessa classificação.

Já a besta, que pode disparar setas com velocidade de até 400 km/h, é encontrada à venda na internet sem empecilho legal, com valores de até R$ 3.000. Elas não são reguladas para comercialização pelo Estatuto do Desarmamento.

Procurada, a empresa Clube da Mira afirmou que cumpre integralmente a normativa legal de exploração comercial da modalidade esportiva do airsoft e que segue todas as orientações e determinações do Exército.

Em nota, disse que está colaborando voluntariamente com as autoridades policiais, tendo "realizado auditoria interna, que mostrou-se salutar aos novos desdobramentos das investigações".

Também repudia "qualquer insinuação de que a prática deste esporte, que cresce a cada dia, possa gerar mudança no comportamento de jovens e adolescentes".

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