© Roque de Sá/Agência Senado
DANIEL CARVALHO - BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O líder do partido do presidente Jair Bolsonaro no Senado, Major Olímpio (PSL-SP), disse não ter entendido a lógica do governo ao ver sua própria legenda votando a favor PEC (proposta de emenda à Constituição) que retira do governo poder sobre o Orçamento.
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A PEC aprovada na Câmara nesta terça-feira (26) torna o Orçamento mais engessado, pois classifica como obrigatório o pagamento de despesas que hoje podem ser adiadas, principalmente investimentos.
"Não entendi ainda qual foi a lógica do governo. Quero saber agora qual é a posição do governo diante disso. Minha avaliação primeira é que engessa mais ainda o Orçamento, tira do governo a possibilidade de fazer modificações de conteúdos orçamentários. Se o governo entender que isso está dentro da lógica, não tem porque nos opormos aqui. Por isso vou questionar o ministro Paulo Guedes [Economia]", afirmou Olímpio nesta quarta-feira (27).
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"Qual foi a estratégia de até mesmo o PSL fazer a indicação e votar com esta PEC? Se essa foi a estratégia do governo, eu simplesmente vou reproduzir a argumentação aqui no Senado, até para acelerar. Eu não entendi a lógica ainda. Pego de surpresa que fui, quero saber qual a argumentação, o que tenho que defender aqui. Às vezes eu fico confuso o que é situação, oposição. Não sei mais", disse o aliado de Bolsonaro.
Sem fazer críticas nominais, disse que não cabe a Bolsonaro ligar para os parlamentares para orientá-los.
"Uma coisa é o partido, outra coisa é o governo. Somos do partido do presidente da República. Mas não é o presidente da República que tem que estar ligando para a gente 24 horas por dia. Ele tem ministério, tem ministro, tem staff, tem aspone, tem tudo quanto é coisa no mundo para poder fazer esta interlocução e nos orientar. Muitas vezes não me chega este tipo de informação", disse o senador.
Major Olímpio disse não acreditar em falta de maturidade da bancada governista.
"Não dá para dizer de inocência. Para estar ali na Câmara dos Deputados tem que ter enganado pelo menos 50 mil pessoas. Que nem eu digo aqui no Senado: não tem bobinho. Bobinho enganou pelo menos um terço do estado", declarou.
O líder do partido do presidente da República no Senado disse que sua posição na Casa em relação a esta matéria vai depender os esclarecimentos do ministro Paulo Guedes.
"Se foi um vacilo, temos que nos desdobrar no Senado. Espero que tenha sido estratégia. Se foi vacilo, muito ruim."
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse nesta quarta-feira que dará "a celeridade possível e adequada" à tramitação da PEC na Casa.
"Naturalmente, se teve apoio da ampla maioria ontem na Câmara dos Deputados, com apoio inclusive da bancada do partido do governo e do líder do governo, o Senado vai se debruçar em relação a esse tema e vai deliberar em um momento oportuno. Eu não sei se é ruim para o governo", afirmou.
Como a Folha de S.Paulo mostrou mais cedo, a aprovação na Câmara, na noite de terça (26), se deu à revelia de uma ação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Na terça, eles passaram o dia em reunião com lideranças da Câmara para tentar apaziguar os ânimos na frágil relação entre o governo Bolsonaro e o Legislativo.
A proposta foi colocada em votação após um acordo de líderes dos partidos da Câmara, incluindo o PSL, partido do presidente.
O texto passou em votação relâmpago na Câmara, já em dois turnos, e agora será submetido ao crivo dos senadores.
Trata-se de uma derrota para o governo do presidente Jair Bolsonaro, que ainda não conseguiu consolidar uma base no Congresso.