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TÁSSIA KASTNER E JÚLIA MOURA - SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de uma breve recuperação na véspera, a Bolsa brasileira despencou mais de 3% nesta quarta-feira (27), reflexo da crise política que coloca em xeque a aprovação da reforma da Previdência. O dólar avançou mais de 2% e fechou no maior patamar desde o começo de outubro, antes do primeiro turno.
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Na noite de terça-feira (26), o governo de Jair Bolsonaro (PSL) sofreu uma nova derrota no Congresso, após a Câmara aprovar em dois turnos e por esmagadora maioria, o Orçamento impositivo.
O texto tira do Executivo autonomia para contingenciar gastos e coloca em dúvida o cumprimento do teto, aprovado na gestão Temer.
Segundo a corretora Guide, a votação relâmpago abriu a "caixa de pandora" do Congresso, ao expor a divergência entre o parlamento e o governo Bolsonaro.
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E de pouco adiantou o ministro da Economia, Paulo Guedes, falar sobre a reforma da Previdência na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado. Lá ele afirmou que permanecerá no governo se "o presidente apoiar coisas que podem resolver o Brasil".
"Vocês acham que vou brigar para ficar aqui?", questionou o ministro ao Senado.
Desde a semana passada, o presidente está sendo cobrado por deputados a defender e trabalhar pela reforma da Previdência.
Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trocaram acusações sobre de quem seria a responsabilidade de convencer o Congresso e a sociedade sobre a necessidade de aprovação de novas regras para a aposentadoria.
"O evento dos 100 mil pontos [registrado no começo da semana passada] mostrou que para continuar avançando precisaríamos de mais notícias boas, o que não aconteceu", André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.
Para ele, três fatores afetam o mercado: a disputa entre a classe política e Judiciário, explicitada pela prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), um presidente que não consegue desanuviar tensões e ainda a dificuldade de tocar apenas uma pauta, a Previdência.
As novas regras para aposentadoria são consideradas fundamentais pelo mercado financeiro para o reequilíbrio das contas públicas. Foi a larga vantagem de um governo que se posicionava pró-reforma e que tinha um economista liberal como fiador que deu impulso à Bolsa desde o final do ano passado.
Com o aumento da incerteza sobre a reforma, porém, a Bolsa despenca e retorna ao patamar de início do governo Bolsonaro.
Nesta quarta-feira (27), o Ibovespa, o principal índice do mercado acionário brasileiro, cedeu 3,57%, a 91.903 pontos.
O principal impacto negativo veio de ações da Petrobras e do setor bancário, mas a queda foi disseminada pelo Ibovespa -apenas três papéis avançaram nesta quarta.
Outros indicadores também reagiram à crise política. O dólar subiu mais de 2% e fechou a R$ 3,955, no maior patamar desde outubro, quando a euforia com a larga vantagem de Bolsonaro sobre o segundo colocado na corrida eleitoral, Fernando Haddad (PT), trazia euforia ao mercado financeiro.
Além disso, o risco-país medido pelo CDS (Credit Default Swap) sobe quase 6%, a 183,8 mil pontos. Os contratos de juros futuros negociados na B3 também avançam.
No exterior, as perdas das Bolsas americanas foram mais modestas, ao redor de 0,5%. As moedas emergentes também tiveram um dia de perda ante o dólar