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DANTE FERRASOLI (FOLHAPRESS) - Investir em tecnologia parece difícil para os pequenos e médios empresários. Com recursos limitados, eles têm de tomar cuidado para não se endividar tentando otimizar processos. Antes de fazer um investimento do tipo, o consultor do Sebrae-SP Leonardo Paiva recomenda que o empreendedor procure saber se o que ele quer comprar lhe será útil.
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"Quando se fala em tecnologia, as pessoas costumam pensar sempre no produto que é o suprassumo do setor, mas muitas vezes a empresa não precisa disso", afirma. Ele sugere começar com aplicações mais simples e acessíveis. Foi isso que a Nogueira Brinquedos fez. A empresa, que tem 60 empregados e fabrica equipamentos de entretenimento para áreas de lazer, estava quase falindo em 2016.
Sem dinheiro para grandes mudanças e precisando modernizar seus processos internos, a companhia investiu pontualmente: contratou um serviço de consultoria para ensinar os funcionários a lidar com programas e ferramentas de gestão já disponíveis no mercado. "O consultor criou planilhas de controle e nos ensinou a usar. São programas simples, mas que ajudaram bastante nos nossos processos. Não precisamos de um software caro para vender mais", diz o sócio David Gaspri Júnior, 39.
"Podia ter o melhor programa, mas pensei: 'O que há de barato e disponível?'." Ele conta ter gasto cerca de R$ 100 mil no processo, que levou mais de um ano. Quando a empresa voltou a crescer -numa média de 30% ao ano desde 2016-, sobrou dinheiro para aplicar em outras tecnologias, essas embutidas em maquinário mais moderno para a fábrica.
A Lustres Yamamura, companhia de médio porte com quatro lojas em São Paulo e ecommerce, também investiu pontualmente para melhorar com tecnologia um de seus gargalos. Toda vez que vendia algo para outro estado brasileiro, era necessário destacar algum funcionário para lidar com a guia de recolhimento de impostos, já que cada unidade federativa tem suas alíquotas.
"Tinha funcionário que ficava o dia inteiro aqui só fazendo isso manualmente", afirma Carlos Vidal, 57, gerente da empresa. A Yamamura aplicou o dinheiro a conta-gotas: contratou uma empresa especializada nesse serviço, chamada Dootax, que, por meio de um software, lê os dados da venda, emite a guia, paga-a e envia as informações ao cliente.
O dinheiro gasto anualmente pelo serviço, que solucionou o problema e liberou os funcionários para outras atividades, é menor que 0,5% do faturamento da companhia, conta Vidal. Há ainda outras opções para atualizar processos tecnológicos gastando pouco. Se o empresário quer começar a vender online, por exemplo, uma alternativa é buscar os marketplaces -sites que, em troca de comissão por cada venda, permitem que empresas anunciem seus produtos.
Dessa forma, explica Cesar Caselani, professor de finanças da FGV, o empreendedor não precisa contratar alguém para desenvolver uma página de compras online só sua. André Duarte, professor de operações no Insper, diz que uma outra opção é procurar linhas de crédito específicas para a área tecnológica, com taxas mais atraentes.
Esse tipo de financiamento, conta, existe no BNDES, na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e no Desenvolve SP. Além disso, pode-se firmar parcerias para que instituições de ensino desenvolvam uma tecnologia específica para o seu negócio.
"Na parceria com escolas, a empresa não tem praticamente nenhum custo. O que tem de ser alinhado é o 'timing', porque às vezes o empreendedor precisa do produto logo e as pesquisas para desenvolvê-lo levam tempo", diz Duarte.