© José Cruz/Agência Brasil
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A audiência com o ministro da Economia, Paulo Guedes, na Câmara, terminou em confusão, pouca defesa da reforma da Previdência por parte dos deputados e reclamação de líderes do centrão.
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Com a base desarticulada, Guedes enfrentou nesta quarta-feira (3) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) a tropa de choque da oposição.
O estopim do tumulto, com empurra-empurra entre parlamentares do PT e PSL, foi uma provocação do deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR). Ele é filho do ex-ministro José Dirceu.
Às 20h23, ao questionar o ministro sobre a proposta de reforma, Zeca afirmou que o ministro é tigrão com uns e tchutchuca com outros, sugerindo que Guedes privilegia banqueiros e rentistas.
Ele queria estudos da equipe econômica para que o governo decidisse priorizar o endurecimento das regras de aposentadoria, em vez de propor mudanças no sistema bancário.
"Eu estou vendo que o senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidade. É tigrão quando é com agricultores, com professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país. O cargo público que você ocupa exige uma outra postura", afirmou Dirceu.
O deputado foi logo interrompido por aliados do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
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Guedes também reagiu. O ministro se ofendeu e revidou: "Tchutchuca é a mãe, tchutchuca é a avó!". Depois, pediu respeito: "Eu te respeito. Você me respeita!". Tchutuca e tigrão são referências a um funk dos anos 2000, da banda Bonde do Tigrão.
Irritado, o ministro pegou o celular e já ameaçava ir embora. Ao lado dele estava o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Marinho cochichou no ouvido com o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR).
Instaurou-se um caos generalizado no plenário da comissão e, após seis horas e meia de audiência, a sessão foi encerrada antes mesmo que metade dos deputados inscritos conseguissem falar.
O bate boca continuou. O deputado Éder Mauro (PSD-PA) disparava para Zeca Dirceu: "Vai falar assim na sua casa". Delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido na Casa, disse que iria embora. "Não vou ficar com bandido aqui", disse.
Em meio aos empurrões, o ministro saiu escoltado por parlamentares aliados e foi embora por uma escada lateral do anexo 2 da Câmara.
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Segundo o deputado petista, a confusão foi uma estratégia do ministro para deixar a audiência. "Ele queria encerrar há tempos, usou isso como desculpa para fugir do debate", disse.
A confusão continuou entre deputados e assessores. A deputada Maria do Rosário (PT-RS) acusou a assessora especial do ministro, Daniella Marques, de agressão.
Marques foi levada ao departamento de polícia da Câmara. "Aqui é o local de trabalho dos parlamentares, não vou permitir que seja agredida aqui", disse a deputada.
Segundo ela, deputadas da oposição se aproximaram da mesa depois do fim da sessão para tentar retomar a audiência, mas foram empurradas pela assessora.
Ao longo da audiência, a temperatura foi subindo, e o ministro recebeu críticas ao deixar de responder questões técnicas dos deputados.
O ministro tem assumido o papel de articulador político da reforma, mas o esperado era que respondesse a dúvidas sobre o texto em si.
O governo, porém, quer deixar o debate do mérito da proposta apenas para a comissão especial. Por isso, uma corrente defendia que Guedes nem sequer fosse à CCJ.
Guedes, no entanto, fez uma defesa política da reforma, e deu respostas evasivas sobre questões econômicas. A posição desagradou membros da CCJ, mesmo entre aqueles que não fazem parte da oposição.
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A deputada Clarissa Garotinho (PROS-RJ), por exemplo, cobrou que o ministro respondesse sobre os efeitos, em 12 anos, do gatilho previsto para aumentar automaticamente a idade mínima para aposentadoria a cada quatro anos.
De acordo com a proposta, a idade mínima subirá proporcionalmente ao aumento do tempo de sobrevida -quantos anos uma pessoa de 65 anos vive a mais.
"Espero que o ministro tenha boa memória, porque fiz várias perguntas e não vi nenhuma anotação", afirmou ela. Horas depois, porém, o ministro desceu da mesa para entregar respostas escritas à deputada em gesto de conciliação.
Na frente de Guedes, deputados favoráveis à PEC cobraram respostas sobre o impacto de cada medida prevista na reforma da Previdência. A equipe econômica decidiu revelar esses números apenas futuramente.
Fora do plenário da comissão a estratégia do ministro também desagradou.
"Talvez seja preciso que Paulo Guedes volte à CCJ da Câmara. Há dúvidas sobre a nova Previdência e os impactos das novas regras. O governo precisa intensificar o convencimento dos parlamentares e da população de que a reforma precisa cortar privilégios", disse nas redes sociais o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA).
Guedes se envolveu em embates em diversos momentos. Com menos de 30 minutos de reunião, o ministro respondeu a deputados que gritavam que o Brasil se tornaria o Chile caso a reforma fosse aprovada.
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"O Chile tem US$ 26 mil dólares de renda per capita, o dobro do Brasil. A Venezuela deve estar melhor, né?", afirmou, gerando caos no colegiado.
Deputados do PSOL levantaram cartazes, gritos tomaram o plenário e o presidente da comissão, Felipe Francischini (PSL-PR), tentava acalmar os ânimos: "Isso aqui não é briga de rua".
O clima voltou a esquentar quando Guedes atacou deputados de esquerda após ser interrompido por Ivan Valente (PSOL-SP), que fez pergunta sobre eventual retirada de direitos de domésticas.
"Vocês estão há quatro mandatos no poder. Por que não votaram imposto sobre dividendos? Por que deram benefícios para bilionários? Por que deram dinheiro para a JBS? Por que deram dinheiro para o BNDES?", disse.
O ponto de maior tensão aconteceu quando o ministro afirmou que quem acha que não é preciso fazer uma reforma da Previdência precisa de internação psiquiátrica.
"Quem acha que [a reforma da Previdência] não é necessária é um problema sério. É caso de internamento", afirmou.
O ministro pareceu perplexo com a reação de deputados, que se ofenderam com o comentário. Houve gritaria, e Francischini ameaçou encerrar a sessão.
Entre os membros do centrão que estão na comissão, o jeito "pavio curto" do ministro incomodou. Além disso, a ausência de líderes partidários chamou a atenção de deputados.
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Guedes chegou à comissão escoltado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e líderes ligados ao parlamentar, como Baleia Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Maia permaneceu à mesa durante a maior parte da reunião, em atitude que não é praxe do presidente da Câmara.