© REUTERS / Jim Young (Foto de arquivo) 
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando chegou ao Brasil, em 2012, o Lollapalooza se apresentou como um festival alternativo, seguindo as tradições do evento original, idealizado por Perry Farrell, do Jane's Addiction, nos anos 1990.
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Se o Rock in Rio, recém-reformado um ano antes, era tido como o megafestival do mainstream, o Lolla vinha para trazer as banda do indie, que representavam uma música mais contemporânea e viviam seu auge no começo da década.
Estabelecido como o maior festival anual de música do Brasil, em 2019 a franquia chega à oitava edição consecutiva em São Paulo (entre os dias 5 e 7, novamente no Autódromo de Interlagos). Atualmente, sobrou pouco da pegada de nicho do Lolla, que está abrindo seu leque para a música jovem, o EDM (Electronic Dance Music) mais popular e o hip-hop.
Neste ano, o principal nome do evento é um rapper, o californiano aclamado por público e crítica Kendrick Lamar. Diferentemente de 2016, quando Eminem era o principal artista da escalação, desta vez o Lolla mira em um MC cujo sucesso é atual, e não um resgate do passado. Além de ser um show inédito no país.
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O hip-hop já ultrapassou o rock como o gênero mais ouvido nos Estados Unidos, mas a tendência demorou a ser percebida pelo festival. Os últimos lineups estiveram recheados de veteranos, de Metallica a Pearl Jam, que acumulam passagens pelo Brasil nesta década.
Essa inclinação ao rap, ainda bastante tímida, vem acontecendo de maneira evidente nas últimas edições, conforme o Lolla tenta renovar sua identidade simultaneamente à perda de espaço do indie no cenário mundial. Para se ter noção, o Arctic Monkeys, outro headliner deste ano, chega muito menos badalado do que em 2012, quando também fechou uma das noites do evento em show concorridíssimo.
A escalação completa dos três dias, claro, também está recheada de artistas do indie (Foals, Kings of Leon), pop (Years & Years), rock (Greta Van Fleet) e a investida rentável na música eletrônica.
Desde o começo, o Lolla reserva um palco para o gênero, mas atualmente ele ganhou um espaço ainda maior. Hoje, o palco Perry reúne artistas muito mais conhecidos e recebe um público (órfão de festivais como o Tomorrowland) que vai ao autódromo só ver DJs como Tiësto e Steve Aoki.
Apesar de sempre acenar às plateias mais velhas (já trouxe nomes como Duran Duran e New Order e, desta vez, Lenny Kravitz), o Lolla também se mantém firme na preferência do público jovem.
São eles que compõem a maioria da base de fãs de gente como Post Malone, The 1975 e Twenty One Pilots, todos com shows em horários nobres.
A comparação da escalação brasileira com as edições chilena e argentina do mesmo festival também revela o conservadorismo de algumas escolhas. Enquanto o funkeiro paulista Kevinho, dono de hits como "Olha a Explosão", foi celebrado de maneira contundente pelo público chileno, no último fim de semana a edição brasileira optou por não escalá-lo.
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A sensação espanhola Rosalía, conhecida por misturar pop e batidas eletrônicas com o flamenco, se apresentou em Santiago e Buenos Aires, mas não vem para São Paulo. Por outro lado, o público brasileiro ficou com os Tribalistas, que sobe ao palco do Lolla depois de uma bem-sucedida turnê por estádios em capitais do país.
Nunca foi barato ir ao Lolla, mas os aumentos acima da inflação por anos consecutivos dificultam ainda mais o acesso. Neste ano, para quem não é estudante, a entrada para apenas um dos dias de evento custa quase um salário mínimo (R$ 800).
Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, em algumas cidades, até mesmo para retirar ingressos em um ponto físico foi cobrada uma taxa de conveniência, que poderia chegar a R$ 360. A prática é considerada ilegal pelo Procon do Rio de Janeiro.
Apesar das reclamações se multiplicarem, o Lolla não sofreu perda significativa de público. Ano passado, cerca de 300 mil pessoas compareceram aos três dias de festa. O surgimento de diversas promoções nas últimas semanas, contudo, pode ser um indício de que este momento está para chegar.