© REUTERS/Baz Ratner
Entre 800 mil e 1 milhão de mortos em apenas 100 dias: há exatos 25 anos, o mundo começava a presenciar um dos maiores massacres da história da humanidade e que moldou para sempre o futuro de Ruanda, pequeno país situado no centro da África.
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O genocídio tutsi foi relembrado neste domingo (7), com uma série de homenagens que deram a início a 100 dias de eventos em memória das vítimas. As celebrações começaram ao meio-dia, com um minuto de silêncio em lembrança dos mortos.
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Na sequência, o presidente Paul Kagame, que em 1994 comandava os rebeldes tutsis contra o governo hutu, alçou aos céus a chama eterna no Memorial do Genocídio, na capital Kigali, onde estão os restos mortais de 250 mil vítimas.
Kagame também participará de uma vigília no estádio Amahoro, onde as tropas das Nações Unidas (ONU) tentaram proteger centenas de pessoas que haviam se refugiado no local. Ausente nas cerimônias, o presidente da França, Emmanuel Macron, propôs que 7 de abril se torne um dia internacional da memória do genocídio em Ruanda.
Na última sexta (5), ele já havia instituído uma comissão para investigar o papel francês no massacre. O país europeu é acusado até hoje por Ruanda de ter dado apoio velado aos genocidas. As cerimônias em Kigali tiveram a presença de diversos líderes africanos e de representantes europeus.
"Minha comoção neste memorial vai além das palavras", disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
História
O ódio étnico em Ruanda já vinha sendo insuflado desde que a Bélgica assumira o controle do então protetorado alemão, durante a Primeira Guerra Mundial. Inicialmente, os europeus apoiaram a elite tutsi que comandava a região.
Depois, na década de 1950, passaram a sustentar os oprimidos hutus, a quem ajudaram a tomar o governo e a implantar um sistema segregacionista contra seus rivais. Ao se retirar do território, em 1962, ano da independência ruandesa, a Bélgica deixou um caldeirão pronto para explodir a qualquer momento.
Sob o comando de Juvénal Habyarimana, no poder a partir de 1973, os hutus perseguiram os tutsis durante as décadas seguintes, promovendo matanças esporádicas ao longo do tempo. Até que, em 6 de abril de 1994, o avião do mandatário sofreu um atentado enquanto sobrevoava Kigali, e o Poder Hutu, grupo radical que pregava o extermínio da outra etnia, tomou seu lugar.
A partir daí, o que se viu foi uma carnificina sem precedentes, sob o olhar conivente da comunidade internacional e a impotência das Nações Unidas. A França, então governada por François Mitterrand, foi acusada de financiar a guerra civil ao fornecer armas para o Exército hutu.
O massacre só terminou em julho do mesmo ano, graças ao avanço da Frente Patriótica Ruandesa, guerrilha tutsi que tinha Kagame como um de seus líderes. Foram entre 800 mil e 1 milhão de mortos em apenas três meses, em um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes. O ex-combatente assumiu a Presidência em 2000 e, desde então, não deu sinais de que pretende deixar o cargo.
Um dos personagens mais célebres do genocídio, Paul Rusesabagina, cuja história deu origem ao filme "Hotel Ruanda" e que hoje vive na Bélgica, já acusou Kagame de perseguir adversários. Por outro lado, o pequeno país é tido como exemplo na redução da desigualdade e na participação das mulheres na política. (ANSA)