'Posso até ser demitido, mas não se pode atacar o Inpe', diz diretor

Ricardo Galvão disse que ele até pode ser demitido, mas que o instituto é cientificamente sólido o suficiente para resistir aos ataques do governo

© Reprodução 

Brasil Ambiente 21/07/19 POR Folhapress

CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - Depois de receber críticas do presidente Jair Bolsonaro (PSL), para quem os dados sobre desmatamento da Amazônia são incorretos, exagerados e prejudicam a imagem do país, o engenheiro Ricardo Galvão, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), disse à Folha de S.Paulo que ele até pode ser demitido, mas que o instituto é cientificamente sólido o suficiente para resistir aos ataques do governo.

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Os ataques ao Inpe, relata Galvão, começaram desde janeiro, mas tinham origem no Ministério do Meio Ambiente. "A única coisa que o Inpe faz é colher dados, nada mais, mas havia insatisfação sobre isso. Isso estava concentrado no MMA e eu não esperava que subisse à presidência da república, mas aparentemente subiu, não sei exatamente pelo esforço de quem."

"Pode haver consequências para mim, ser demitido. Mas para o instituto não pode haver. Primeiro porque o orçamento já está estabelecido para este ano; estamos preparando o orçamento para o ano que vem. E a situação ficou tão clara, foi tão incrível a quantidade de apoio, até do exterior, que fica impossível para o governo, na minha opinião, fazer algum tipo de retaliação, o que seria ainda mais contundente contra o governo", disse Galvão.

Na última sexta (19), o presidente chegou a sugerir que Galvão poderia estar "a serviço de alguma ONG" e que os dados crescentes de desmatamento não condizem com a realidade. Bolsonaro disse que ia chamar Galvão para dar explicações, mas segundo o pesquisador, essa convocatória não veio.Neste domingo (21), Bolsonaro afirmou que não vai falar com Galvão. "Eu não vou falar com ele. Quem vai falar com ele vai ser o ministro Marcos Pontes [Ciências) e talvez também ali o Ricardo Salles [Meio Ambiente]. O que nós não queremos é uma propaganda negativa do Brasil. A gente não quer fugir da verdade, mas aqueles dados pareceram muito com os do ano passado", disse.

Cientistas do país saíram em defesa do Inpe neste domingo, por meio de uma manifestações da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e da ABC (Academia Brasileira de Ciências)."É um momento importante de apoio ao Inpe e os resultados desse esforço que está fazendo a comunidade científica já estão aparecendo. Eu recebi uma mensagem do ministro de Ciência e Tecnologia, que está nos EUA para a comemoração dos 50 anos do homem na Lua, e ele pediu que eu desse mais informações sobre os métodos [de detecção do desmatamento]. Ele, na verdade, sempre apoiou o Inpe e está tentando abrir um canal de diálogo com a Presidência para que consigamos estabelecer uma solução apaziguadora e construtiva para o país, porque não podemos continuar com esse estado de antagonismo que está destruindo uma instituição de grande prestígio no mundo, que é o Inpe", diz Galvão.

Os dados de desmatamento são baseados em imagens de satélite e são obtidos diariamente e disponibilizados em um boletim mensal no site do Inpe. As informações e são utilizadas não só por entidades governamentais, como o Ibama, mas acessíveis para qualquer um que pretenda estudar o desmatamento no país.O sistema Deter funciona como um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, que serve de base para operação contra desmate ilegal, por exemplo. Já o Prodes faz a consolidação desses levantamentos e dá a taxa oficial de desmatamento do país em cada ano.

Desde 1988, quando se iniciou o monitoramento, já foram desmatados, segundo dados do Prodes, 436.258 km² de floresta amazônica, quase duas vezes a área do estado de Roraima, o que equivale a cerca de 10% do bioma no país.

A gestão ambiental do governo Bolsonaro e do Ministro Ricardo Salles é marcada por ações que limitam ações de conservação e o combate ao desmatamento. Entre as medidas tomadas pela gestão estão a exoneração de servidores, a transferência de órgãos para outros ministérios e a recente polêmica sobre como gerir o Fundo Amazônia, que recebe dinheiro da Noruega e Alemanha para estimular ações de controle sobre desmatamento e uso sustentável do bioma.

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