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Após uma longa tramitação e muito debate, a reforma da Previdência foi aprovada, em primeiro turno, na Câmara dos Deputados. Toda a discussão suscitada pela proposta, porém, não foi suficiente para mudar o cenário dos planos de previdência privada, cujos números estão praticamente estagnados há quatro anos.
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Hoje, os planos privados congregam 6% dos brasileiros, ou 13,2 milhões de pessoas, segundo dados de maio, o último disponível na Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), entidade que representa 67 seguradoras e entidades abertas de previdência complementar no País. O número é um pouco menor que os 13,5 milhões de pessoas do mesmo período do ano passado, exatamente o mesmo contingente de maio de 2017 e ligeiramente superior aos 12,5 milhões de igual mês de 2016.
Na opinião dos operadores do setor, o setor ainda enfrenta resistências entre os investidores. Henrique Diniz, superintendente de previdência da Icatu, diz, no entanto, que isso é natural. O principal motivo, afirma, é ainda reflexo da recessão que o País atravessou, com a diminuição da capacidade de poupança das pessoas.
Marcelo Wagner, diretor financeiro da Brasilprev, concorda. Para ele, o setor enfrentou um forte crescimento no início dos anos 2000 e, de lá para cá, a tendência é de avanço moderado. Mesmo assim, muito dependente do cenário macroeconômico. "A previdência privada tem três capítulos no País. O primeiro, nos anos 2000, quando investidores com riquezas previdenciárias migraram para o sistema, o que gerou um grande crescimento. Esse movimento mudou desde 2015 pelos efeitos da crise, quando ficamos sem excedente de poupança. Após a melhora, no terceiro movimento, o crescimento marginal deve continuar. Não esperamos mais crescimento de 20% ou 30%", diz.
Dados do Banco Central apontam que, nos primeiros seis meses de 2019, a caderneta de poupança, principal veículo de investimento entre os brasileiros, registrou captação positiva apenas em março e junho. No mês passado, o saldo entre saques e depósitos ficou positivo em R$ 2,77 bilhões.
Complexidade
Além do pouco dinheiro, há também a percepção entre especialistas de que os fundos privados de previdência têm regras complexas. A principal queixa é com relação aos dois regimes tributários - o PGBL, que cobra imposto de renda sobre os depósitos anuais, e o VGBL, que só cobra sobre os rendimentos no saque. "O produto é pouco interessante. As pessoas não entendem as diferenças entre os dois regimes tributários e acabam comprando sem saber se estão fazendo o melhor para eles", diz o professor Valdir Domeneghetti, coordenador de cursos da Faculdade Fipecafi.
Para o professor de finanças da FGV e colunista do jornal O Estado de S. Paulo Fabio Gallo, a previdência ainda é um produto caro para o padrão brasileiro de investimento. "A taxa de administração é alta. Já caiu muito, mas tem gente cobrando 4%. Além disso, tem taxa de entrada, taxa de saída e até taxa de carregamento. Esses custos e práticas tendem a cair em desuso, mas ainda existem", diz. "A previdência é muito fácil de comprar, mas para ser bem adequada a cada investidor em particular, ele tem de ser bem adaptado, e não se vê no mercado as pessoas preparadas para essa venda do produto", afirma.
Modernização
Para o presidente da FenaPrevi, Jorge Nasser, os fundos e gestores estão já há algum tempo trabalhando para baratear e modernizar os produtos do ramo. Segundo ele, as taxas cobradas pelos fundos já não são mais diferentes das cobradas por fundos de investimentos tradicionais. "Hoje, existem taxas de 1,5%, a mesma da média de um fundo de multimercado. Mas essa discussão não deve ser a central. Um fundo com boa gestão compensa a cobrança da taxa com a lucratividade registrada", destaca Nasser, que também diz ser cada vez mais difícil encontrar produto com taxa de carregamento e cobrança para entrada e saída. "Isso está mudando. Os fundos estão mais acessíveis", diz.
Nasser também destaca que os analistas apostaram de forma errada na popularização dos fundos de previdência a partir dos debates sobre a reforma da Previdência. "A gente espera uma resposta dos investidores um pouco mais para a frente, com as definições das regras e a clareza do benefício no sistema público no bolso das pessoas. E, mesmo assim, não esperamos uma corrida pela previdência privada. Será muito mais uma caminhada", diz.
Em valor de captação, os planos de previdência privada aberta fecharam o mês de maio com R$ 873,1 bilhões em reservas, volume 11% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior. De janeiro a maio, as contribuições somaram R$ 45,7 bilhões, resultado 3,7% superior aos cinco primeiros meses de 2018, quando totalizaram R$ 44,0 bilhões. A captação líquida seguiu com saldo positivo de R$ 15,5 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.