Pilotos da F1 se mobilizam e cobram corridas mais emocionantes

Os participantes do atual grid estão se mobilizando para buscarem mais participação na discussão dos rumos do esporte

© REUTERS / Ricardo Moraes (Foto de arquivo) 

Esporte Velocidade 29/07/19 POR Estadao Conteudo

Os pilotos da Fórmula 1 deixaram de lado nos últimos meses o individualismo e a rivalidade para terem uma união inédita na história da categoria. Os 20 participantes do atual grid estão juntos em uma mobilização em busca de mais participação na discussão dos rumos do esporte, com o objetivo de ter uma modalidade mais atrativa para o público e mais emocionante para quem guia os carros.

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O foco dos pilotos está na próxima mudança de regulamento da Fórmula 1. Para 2021, a categoria prepara regras novas na parte técnica, com destaque para uma geração mais moderna de carros. Será a primeira grande alteração desde a compra da F-1 pelo grupo norte-americano Liberty Media, no fim de 2016. Em um contexto de muitas reuniões e brigas nos bastidores entre equipes e dirigentes, os pilotos também querem dar palpites.

Em vez das discussões serem focadas apenas na parte técnica e, principalmente, em questões orçamentárias, os competidores do Mundial de 2019 se esforçam para atuar nos bastidores com sugestões de segurança e medidas para transformar a Fórmula 1 em um esporte mais atrativo. Os pilotos estão representados nos debates pela Associação dos Pilotos de Grande Prêmio (GPDA, na sigla em inglês), órgão que ganha cada vez mais força na F-1.

"Espero que a GPDA possa ser parte importante para definir as regras de 2021. Nós podemos fazer parte disso para transmitir nossa opinião. Nós, pilotos, nos sentimos felizes por ajudar o esporte a melhorar", disse o pentacampeão mundial Lewis Hamilton. Esta é a primeira vez na história que a GPDA tem a participação de todos os pilotos do grid. O inglês da Mercedes é uma das vozes mais ativas no grupo, assim como o finlandês Kimi Raikkonen, da Alfa Romeo.

A principal demanda dos pilotos é por corridas emocionantes e autódromos cheios. Provas sem ultrapassagens e em países com pouca tradição no automobilismo causaram reclamações recentemente. O próprio Hamilton criticou a escolha do comando da Fórmula 1 para correr no Vietnã em 2020 e relembrou que, anos atrás, o GP da Índia foi disputado para arquibancadas vazias. "Nós temos muita história com automobilismo na Inglaterra, Alemanha, Itália. Se a Fórmula 1 fosse um negócio administrado por mim, eu tentaria fazer mais eventos nestes países", disse o piloto à BBC no fim do ano passado.

Nas últimas corridas, disputas acirradas na Áustria, Inglaterra e Alemanha diante da grande presença de público, deram força para os pilotos defenderem a maior participação no futuro da categoria. "Toda vez que passava nas arquibancadas em Hockenheim, sentia o carinho do público. Era empolgante. Eu realmente gostei muito desse carinho", disse Vettel no domingo, após ser segundo colocado no GP da Alemanha.

O atual vice-líder do Mundial, o finlandês Valtteri Bottas, é outra voz ativa na Fórmula 1. O piloto da Mercedes afirmou que a associação dos pilotos pretende sugerir quais pistas poderiam ser mantidas no campeonato. "Muitas escolhas de pistas para o calendário são por razões políticas e econômicas, em vez de se discutir se o circuito é bom ou não para correr. Com a GPDA, nós queremos participar desse processo. Até porque nós estamos nos carros e conhecemos muito bem todas as pistas", comentou.

A GPDA foi criada na década de 1960 e por muito tempo teve como foco melhorar a segurança. Em 2014, a entidade passou a ter como presidente o austríaco Alexander Wurz, ex-piloto da F-1. Ele começou a articular com os pilotos uma participação maior e tem conseguido levar alguns dos competidores do grid para reuniões importantes com dirigentes. A última delas foi no começo deste mês, em Paris. Procurado pelo Estado, Wurz não retornou os pedidos por entrevista.

Esse protagonismo da GPDA é recente. No passado, a entidade se concentrava somente nas questões de segurança em suas raras e pouco influentes reuniões. "Nós falávamos muito pouco, na verdade. É a história de sempre: fala, fala, fala e pouca coisa acontece. Eles [os dirigentes] não ouviam muito. Era meio que uma regra", lembra o brasileiro Tarso Marques, que competiu na F-1 entre 1996 e 2001.

O ex-piloto da Minardi vê como positiva a nova atuação da associação. "É o palhaço querendo dar palpite no espetáculo do circo. Ninguém melhor que os pilotos para falarem sobre o que precisam tanto na parte de segurança quanto na parte técnica. Por mais que existem comissários para criar regras e tudo, é diferente. Comissários não são pessoas que vivenciaram aquilo", disse Marques, ao Estado.

Um fator importante para o protagonismo maior dos pilotos é não só a união, como a própria abertura da Fórmula 1 para se ouvir mais opiniões. O chefe anterior da categoria, Bernie Ecclestone, era visto como uma pessoa centralizadora, enquanto os atuais donos, o grupo americano Liberty Media, tem mostrado mais interesse em discutir o futuro da modalidade.

"A opinião dos pilotos nunca foi levada em consideração. A Fórmula 1 nunca ouviu tanto os pilotos como agora. Esse movimento é importante. A experiência que um piloto tem é totalmente diferente dos demais, sejam dirigentes ou comissários. É o que vale na prática, muito mais do que a teoria", afirma o ex-piloto da categoria.

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