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Técnico em enfermagem morre na UTI em que trabalhava em Jundiaí

Silva ficou 13 dias na UTI

Técnico em enfermagem morre na UTI em que trabalhava em Jundiaí
Notícias ao Minuto Brasil

11:14 - 05/05/20 por Folhapress

Brasil Tristeza

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O sonho do técnico em enfermagem Tiago Andrade da Silva, 35, era trabalhar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital São Vicente, em Jundiaí. Após várias tentativas nos últimos anos, em fevereiro, ele foi chamado e passou a atender pacientes no setor.

Foi nele que, no último dia 19, Silva morreu, após 13 dias de internação devido à Covid-19.

Morador de Caieiras, ele estava em ascensão profissional -trabalharia em mais um hospital, mas quando foi convidado já estava internado- e em busca de uma casa própria, para morar com a mulher, Ana Paula Dourado de Andrade, 42, e a enteada Ana Julia, 13, quando começou a ter sintomas da doença.

Após ter uma vida toda como atleta (corridas), tinha hipertensão e obesidade e era favorável às medidas de isolamento social. Chegou a compartilhar a frase "Bolsonaro genocida" em uma rede social em 24 de março, após o presidente criticar o fechamento de escolas e atacar a imprensa.

"Minha casa não tinha silêncio, ele e minha filha brincavam o tempo todo, conversavam demais. Hoje o silêncio faz um eco que dói demais. Ele morreu lutando, lutando muito", disse Ana Paula.

Ela conta que o marido, com quem estava casada havia dois anos, começou a espirrar e a ter coriza em 30 de março. No dia 2, passou a apresentar febre alta. A mulher o levou à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Franco da Rocha, mais perto de casa, onde um raio-X não deu nenhum indicativo da doença, segundo ela.

Com uma licença médica de cinco dias nas mãos, o casal voltou para casa e, por precaução, isolaram Silva num quarto. Sua enteada foi levada para a casa da madrinha.

"Mesmo com antibiótico e dipirona de seis em seis horas a febre não baixava. No dia 5 ele começou a ficar fadigado, abatido, falando pouco, e após tentar levá-lo a um hospital em Caieiras, o levei para o São Vicente, que é onde ele trabalhava. Em uma hora e meia já tinham feito tomografia e viram que a pressão estava muito alta. Foi direto para a UTI, já na madrugada do dia 6", disse.

Depois de dois dias com oxigênio, com pressão descontrolada e com a tomografia apontando alteração significativa no pulmão, um teste rápido confirmou a Covid-19. A equipe médica decidiu pela intubação.

"Ele foi entubado consciente e ligou para mim e para os irmãos. Ele disse que sabia da gravidade, por ter tratado de casos de Covid-19 na própria UTI, mas que iria voltar para casa. Não voltou, foi a nossa despedida."

Silva trabalhava no hospital desde janeiro de 2016, mas a promoção para a UTI saiu neste ano. "Era o sonho da vida dele trabalhar na UTI. Tinha tentado e não conseguia. Quando conseguiu, aconteceu isso. Preciso acreditar que não foi à toa, é o que me sustenta."

AMPARO

Ana Paula disse que foi muito bem atendida pelos médicos e enfermeiros, que afirmavam fazer tudo que estivesse ao alcance para que o técnico em enfermagem sobrevivesse. "Os médicos me ligavam e explicavam tudo. Tentaram hidroxicloroquina, mas não deu certo. Quando o rim começou a parar, entraram com hemodiálise. Na última ligação, disseram que dificilmente ele passaria mais uma noite vivo. E foi o que aconteceu, me ligaram de madrugada para ir lá."

Além de Ana Paula e Ana Julia, deixa três irmãos e muitos amigos, dentro e fora do hospital, que escreveram em um jaleco frases que eram pronunciadas por Silva no dia a dia, como "Fica em paz",

"Não quero te ver sofrer" e "Amiga, precisa de ajuda?". O objetivo era que ele utilizasse a vestimenta ao receber alta.

"Ele perdeu a mãe num dia 19 de janeiro e o pai num 19 de setembro. Ele foi em 19 de abril. É meio impressionante, pensar nessas coisas, mas acho que ainda que a gente não entenda, há algum significado."

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