Caminhoneiro pode ser foco da Covid em cidade com pico de casos no MS
"Uma pessoa levou a Covid-19 a Guia Lopes e fez com que [a doença] se espalhasse e alcançasse esse número: ela contaminou 4, que contaminaram 19 e, agora, os 98", resumiu o secretário de estado da Saúde Geraldo Resende
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Brasil Surto
CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) - Guia Lopes da Laguna, cidade a 233 km de Campo Grande (MS), de 10.366 habitantes, tornou-se preocupação no estado por conta da disseminação do novo coronavírus. Na semana passada, em apenas dois dias, a cidade passou da 17º posição ao 1º lugar no ranking de incidência, em crescimento vertiginoso que começou em um frigorífico e foi agravado pelo hábito cultural da roda de tereré.
"Uma pessoa levou a Covid-19 a Guia Lopes e fez com que [a doença] se espalhasse e alcançasse esse número: ela contaminou 4, que contaminaram 19 e, agora, os 98", resumiu o secretário de estado da Saúde Geraldo Resende. Nesta terça-feira (19), novo boletim apontou 106 casos, a maior incidência no estado.Sem UTI para casos graves, a cidade está no segundo lugar do ranking em números absolutos, atrás apenas de Campo Grande, com 188 casos.
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No total, o Estado tem 642 casos confirmados e 16 mortes.A pessoa é um caminhoneiro que passou por Guia Lopes no fim de abril para fazer entrega no frigorífico de carne bovina Brasil Global. Ele teve contato direto com funcionários do setor de descarregamento.
O assessor jurídico da empresa, Eduardo Mânica, disse que o homem ligou no dia 29 de abril, avisando que havia contraído o vírus.Os funcionários que tiveram contato direto com ele foram colocados em isolamento e, no dia 1o de maio, um deles relatou sintomas compatíveis com o novo coronavírus, sendo submetido ao exame. O resultado foi positivo.Em pouco tempo, outros relataram sintomas, evidenciando que o vírus já havia se espalhado na empresa. Nas primeiras semanas, dos 311 funcionários, 19 tiveram exame positivo para a doença.
No dia 7 de maio, o frigorífico resolveu suspender as atividades e pedir que todos ficassem em isolamento domiciliar. No dia seguinte, quando parte desses exames ainda estava em processamento e a cidade tinha 12 casos confirmados, a prefeitura decretou "lockdown", o bloqueio total de circulação nas ruas. Pelo decreto válido até esta segunda-feira (18), a saída é permitida apenas duas vezes por semana, condicionada ao mês de nascimento e somente para quem precisa ir ao mercado, farmácia ou posto policial.
"A receita é ficar em casa, não tem o que fazer" disse o prefeito Jair Scapini (PSDB). Desde o dia 8 de maio também está em vigor o uso obrigatório de máscaras nas ruas e toque de recolher das 20h às 5h.A preocupação é que os números não param de crescer. Foram somente 11 dias entre o primeiro e os atuais 98 casos confirmados.
O secretário municipal de Saúde, Marcelo Gonçalves, conta que estão sendo monitoradas mais 280 pessoas, entre funcionários do frigorífico e familiares. Todos estão em isolamento domiciliar. Hoje, 90% dos infectados fazem parte deste grupo.
Hoje, a incidência é de 990 por 100 mil habitantes, número "catastrófico", nas palavras do secretário estadual. É o maior índice em Mato Grosso do Sul.Um hábito que pode ter contribuído na contaminação, na opinião de Resende, é bastante difundido no estado: o tereré, bebida à base de erva mate, semelhante ao chimarrão, mas que se serve com água gelada e normalmente em roda, com compartilhamento da cuia e da bomba. "É cultural na região e acabou propiciando esse alto grau de contágio".
A disseminação do vírus em Guia Lopes também é fator de preocupação para municípios vizinhos. Jardim fica a apenas 6 km de distância, e vários moradores trabalham em uma cidade e moram na outra."Não tem como separar uma cidade da outra", disse o prefeito de Jardim, Guilherme Monteiro (PSDB) –ele diz que várias ações estão sendo feitas em conjunto, como o patrulhamento no toque de recolher. A cidade também adotou uso de máscara obrigatória. A cidade tem 20 casos confirmados.Bonito, a 67 km de Guia Lopes, com 14 casos confirmados, também adotou medidas restritivas.
As atividades turísticas estão suspensas até maio, mas os empresários do setor organizam a volta das atividades em junho.Os três municípios não têm leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Caso haja pacientes com sintomas graves, precisarão ser transferidos para Hospital Regional em Campo Grande, a unidade de referência. A taxa de ocupação ainda é baixa no estado -até a semana passada, eram 152 leitos estaduais públicos para a Covid-19, com 2,6% ocupados.
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