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Após perder filhos em deslizamento, casal sofre com pandemia em SP

Os delizamentos aconteceram na madrugada do dia 3 de março

Após perder filhos em deslizamento, casal sofre com pandemia em SP
Notícias ao Minuto Brasil

06:20 - 25/05/20 por Folhapress

Brasil CORONAVÍRUS-LITORAL-SP

GUARUJÁ, SP (FOLHAPRESS) - Chorando, Gabriela Cristina Granero Ferreira, 25, avisou o marido, Talisson Onorato de Jesus, 18, que não havia mais o que comer na nova casa, emprestada como forma de socorro há quase um mês por uma amiga de infância no bairro Jardim Mar e Céu, em Guarujá, no litoral paulista.

Os dois fazem parte das centenas de pessoas desabrigadas das fortes chuvas que vitimaram 45 pessoas em Guarujá, Santos e São Vicente na madrugada do último dia 3 de março e têm sofrido com o aumento das dificuldades na pandemia de Covid-19.

Veja também: Brasil registra 653 novas mortes por coronavírus nas últimas 24h

O sofrimento não cessa. O maior deles foi a perda de dois dos filhos, Allefer Adailton Granero da Silva, 6, e Allana Granero de Oliveira, 3, encontrados já sem vida em meio à lama. O casal só sobreviveu devido ao choro da filha mais nova, Thayla, de cinco meses, que serviu de guia para o resgate dos três.

Quase dois meses depois da tragédia, Gabriela e Talisson ainda não receberam a primeira parcela da verba do aluguel social prometido pelo município.

"A prefeitura nos diz que precisamos de uma conta no banco aberta e de RG. Mas como? Perdemos tudo e não conseguimos tirar novos documentos agora com o Poupatempo fechado", diz Gabriela.

O Guarujá reservou às vítimas o valor de R$ 3.700, diluído em 12 prestações – a primeira parcela é de R$ 1.500 e outras 11 de R$ 200. Segundo a prefeitura, 531 famílias recebem o benefício.

"Já ofereci até a minha conta, tentamos pelo CPF da Gabriela, mas a prefeitura não aceita nada. Nesta semana recebi R$ 50 e deixei para eles lá. Até a minha irmã, que mora em São Paulo, fez uma rifa para ajudá-los", diz Fabiana da Cruz Granero, 42, mãe de Gabriela.

Desde a chegada do novo coronavírus ao país, o casal não conseguiu trabalhos informais e acabou sendo despejado da primeira casa que conseguiu com a ajuda de amigos e parentes."Eles estão sem nada. Venderam até a bicicleta que ganharam para não passarem fome", conta Fabiana.

Gabriela e Talisson tiveram a casa em que moravam há dois anos e meio na Barreira do João Guarda, em Guarujá, totalmente destruída pelos deslizamentos de terra. A comunidade registrou 23 das 45 mortes no litoral.

Na ocasião da tragédia, soterrados, já sem forças para suportar parte do muro e escombros que estavam sobre eles, o choro do bebê ecoou como "sirene". A bebê foi a primeira a ser retirada, enquanto Gabriela e Talisson demoraram mais de duas horas para ser resgatados. Eles tiveram apenas ferimentos superficiais."Carregaremos uma marca para sempre", desabafa Gabriela. "É como uma cicatriz, isso está em nós agora", disse Talisson.

O alento recente ao casal foi o pagamento da primeira parcela do auxílio emergencial de R$ 600 a Talisson. Com dívidas e dificuldades, porém, o valor já se esvaiu."Onde eles estão agora é mais barra pesada. No quintal onde eles moram roubaram duas bicicletas da vizinha. Eles precisam recomeçar", disse Fabiana.Além da filha do casal, somente um pássaro restou no antigo lar. O animal ganhou o nome de Sobrevivente.

A família atingida perdeu os três barracos que possuía no local. Eles relatam que o chão da casa foi sugado para baixo com a força da terra. Paredes e estruturas se romperam.

No mesmo dia da tragédia, em entrevista concedida na Prefeitura de Santos, o governador João Doria informou que o estado também vai disponibilizar verba para o recurso no valor de R$ 4.600 diluído, sendo uma parcela de R$ 1.000 e mais 12 de R$ 300. A família também não recebeu o valor."Que motivos temos hoje para comemorar um dia das mães, por exemplo? Ela ainda sofre muito, não tem mais alegria e passa dificuldades", conta Fabiana.

A Prefeitura de Guarujá diz está regularmente em dia com todas as famílias cadastradas para a locação social e que, no caso de Gabriela, o benefício não foi pago pela ausência de conta bancária em seu nome.

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