Estudantes planejam desocupar duas escolas em São Paulo
São elas: Manoel Ciridião Duarte e a Romeu de Moraes, ambas localizadas na Vila Ipojuca
© Reprodução/Agência Brasil
Brasil Desocupação
Alunos planejam desocupar, ainda hoje (7), duas escolas estaduais da zona oeste da capital paulista – a Manoel Ciridião Duarte e a Romeu de Moraes, ambas localizadas na Vila Ipojuca. De acordo com a Secretaria Estadual da Educação, outras duas unidades, a Anhanguera e a Godofredo Furtado, continuam ocupadas. No auge das ocupações, que ocorrem em protesto contra a reorganização escolar proposta pelo governo estadual, cerca de 200 unidades foram ocupadas.
Hoje pela manhã, uma comissão da Diretoria de Ensino acompanhou o início do processo de desocupação, que inclui uma perícia a ser feita pela Polícia Civil. O supervisor de ensino Flávio Dalera disse que os estudantes não serão pressionados. “Vamos respeitar a decisão dos alunos, e acompanhar. Esse é o nosso papel. No tempo deles. Eles não desocuparam ainda, mas permitiram que nós estivéssemos aqui”, afirmou.
Dalera informou que a vistoria poderá ser acompanhada pelos alunos, mas não detalhou como funcionará na prática. “Havendo uma depredação do patrimônio publico é necessária uma investigação. Não partiremos do princípio de que alunos depredaram, mas é necessário haver, legalmente, uma apuração se o patrimônio foi depredado ou furtado."
A reposição das aulas deve começar assim que a unidade for entregue. Os alunos terão de completar o cronograma escolar estabelecidos em 200 dias letivos. Para isso, haverá reposição até mesmo durante os sábados.
Limpeza
Nas duas escolas que estão sendo desocupadas hoje, a madrugada foi de faxina. “Estamos entregando a escola totalmente limpa e organizada, a gente virou a noite limpando tudo. Muita gente nem dormiu”, contou Bárbara dos Santos Oliveira, estudante do 2º ano do Ensino Médio da escola Manoel Ciridião Duarte, onde os alunos permaneceram por 45 dias.
Bárbara espera conseguir manter, após a devolução, os projetos desenvolvidos pelos alunos, como cultivo de plantas no jardim da escola e atividades como palestras, aulas especiais e prática de yoga. “Vamos ver se florescem todas as coisas que a gente tentou implantar aqui, tudo o que agente tentou mudar. Espero que agora a gente consiga fazer uma escola diferente, que nos ensine a viver."
Gabriela Olivieri é estudante do 3º ano do ensino médio na escola Romeu de Moraes, onde a ocupação durou 42 dias. Vestibulanda, a aluna conta que foi beneficiada pelas aulas de professores voluntários de um cursinho pré-vestibular, que ensinaram física e química. “Eu estava sem base nenhuma porque não tive física o ano inteiro e inglês tive meio período. Isso por falta de professor”, disse. Além das aulas preparatórias, os alunos participaram de oficinas, aulas de sociologia, luta e dança. “Aqui a gente aprendeu a viver em sociedade. Para o nosso crescimento, amadurecimento, foi um aprendizado maravilhoso", acrescentou.
Viviane Vernareccia, artista plástica, mora ao lado da escola e tem dois netos matriculados na unidade. Ela apoiou o movimento dos alunos. “Achei que foi positivo, porque eles conseguiram o que estava sendo reivindicado. Se você não dá um grito para mostrar para os outros que realmente está faltando alguma coisa, como é que vão saber? Eu acho que falta muita coisa para a educação”, ressaltou.
Materiais não distribuídos
Os estudantes denunciam a existência nas escolas de materiais didáticos e outros produtos nunca distribuídos aos alunos. Na Manoel Ciridião Duarte violão, havia bolas, uniformes esportivos e papel para provas e trabalhos. “Encontramos tudo isso nos armários e foi uma revolta muito grande. A gente expôs nas redes sociais e fez Boletim de Ocorrência contra a escola”, contou Bárbara.
Os alunos da escola Romeu de Moraes encontraram tinta, apostilas, livros, antena de televisão, ventilador, bola e até bolinhas de pingue pongue. “Os alunos tinham que improvisar com bolinha do desodorante roll on, sendo que a gente encontrou mais de 100 bolinhas lá. Tinha aluno que trazia bola de casa, porque as daqui eram péssimas”, afirmou Gabriela.
O supervisor de ensino Flávio Dalera informou que os casos serão investigados. “A escola tem a possibilidade de ter um almoxarifado com materiais de reposição. É verdade que os alunos têm direito de acesso ao material, estamos falando de uma escola com mil alunos, no qual o fluxo de materiais é constante. Óbvio que, havendo a denúncia, que deve ser protocolada, vai ser aberta a apuração prelimina." Com informações da Agência Brasil.