Maior hospital privado gaúcho registra 130% de lotação na UTI por Covid-19
O hospital recebeu no início da tarde um contêiner frigorífico com capacidade para armazenar oito corpos, que será usado para desafogar o necrotério do local
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Brasil Coronavírus-RS
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) - Uma ala comum precisou ser convertida em 28 leitos de UTIs para abrigar pacientes graves com Covid-19 no Hospital Moinhos de Vento (HMV), o principal da rede privada de Porto Alegre. A unidade atingiu lotação de 142% nas vagas de UTI da capital gaúcha, que vive situação grave na pandemia. Também nesta quarta-feira (3), o hospital recebeu um contêiner para abrigar corpos das vítimas.
O hospital tem, originalmente, 66 leitos de UTI. Do total de 94 casos graves atualmente no hospital, 85 são de Covid-19. Outros três doentes confirmados no serviço de emergência do HMV estavam à esperam de leito para tratamento intensivo.
O HMV apresentou o índice mais alto de ocupação de UTI em Porto Alegre nesta quarta-feira (3), na pior semana da cidade em toda a pandemia de Covid-19.
Um desses pacientes na UTI é o marido de Fernanda Tavares, que é funcionário de uma grande rede de supermercados de Porto Alegre e tem 48 anos. Ele recebeu diagnóstico positivo para Covid-19 na segunda-feira (1º), mas os sintomas se agravaram na madrugada de terça. Chegou à emergência do HMV às 6h desta quarta com falta de ar e dor no peito. Às 15h, ainda aguardava leito para ser transferido à UTI.
"Estou muito agoniada, sem informação alguma. Não sei nada do estado de saúde dele", disse Fernanda. Ela teve Covid-19 no início de janeiro, mas não precisou ser internada.
O marido de Maria de Lourdes Stephânia conseguiu um leito de UTI por volta das 16h. Com oxigenação de 91% e metade dos pulmões comprometidos pela pneumonia, o homem de 67 anos deu entrada na emergência do HMV às 9h já na categoria vermelha -a mais grave do serviço de emergência. "Rezo para que dê tudo certo. Pelo menos ele conseguiu leito", diz ela.
O hospital recebeu no início da tarde um contêiner frigorífico com capacidade para armazenar oito corpos, que será usado para desafogar o necrotério do local. No final de semana, segundo relato de funcionários, houve 12 óbitos para uma capacidade de apenas três corpos no necrotério do hospital.
A contratação do contêiner foi anunciada na terça-feira pelo superintendente médico do HMV, Luiz Antônio Nasi.
Na rede pública, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) estava com lotação de 109,6% na terça (2). Com capacidade para 167 doentes, a unidade tinha 183 pacientes, 100 deles com confirmação de Covid-19. Além disso, havia 24 casos suspeitos e outros 42 com testes positivos aguardando leito de UTI no serviço de emergência do hospital.
Outros oito hospitais do sistema de saúde de Porto Alegre apresentaram índices de ocupação de UTI de 100% ou superior. Havia 942 pacientes internados em terapia intensiva para um total de 924 vagas no sistema. Dois em cada três desses pacientes são casos confirmados ou suspeitos de Covid-19.
"As equipes estão totalmente estressadas. Para ter uma ideia, quem atua na UTI está evitando até tomar água para não ter de ir ao banheiro durante os plantões, tamanha a exigência dos atendimentos", relatou o intensivista José Beltrame Neto, do HCPA.
A sala de recuperação de cirurgias do Clínicas foi transformada em UTI para pacientes com outras enfermidades. Com isso, todas as cirurgias eletivas estão suspensas.
O Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP) também decidiu alugar quatro contêineres frigoríficos como medida preventiva ao aumento no índice de mortes por Covid-19 registrado no estado.
Juntos, os quatro contêineres têm capacidade para armazenar 32 corpos e serão usados caso o sistema funerário de Porto Alegre entre em colapso. Na manhã de terça-feira, o Departamento Médico Legal (DML), gerido pelo IGP, tinha 34 corpos armazenados na sua câmara fria -quatro a mais que a capacidade do equipamento.
Em abril de 2020, no início da pandemia, o órgão já havia alugado cinco contêineres frigoríficos diante da possibilidade de um aumento nas mortes, que não ocorreu. Os depósitos foram devolvidos dois meses depois sem terem sido usados.
Neste ano, porém, o ritmo de óbitos está mais acelerado. O Sindicato dos Estabelecimentos Funerários do Rio Grande do Sul informou que a demanda por sepultamentos vem registrando aumento expressivo nos últimos dias em Porto Alegre.
A Central de Óbitos de Porto Alegre informou que o pico de mortes ocorreu no dia 26 de fevereiro, com 66 sepultamentos em Porto Alegre. Nesta semana, os registros já indicam 153 óbitos na capital, 20% acima da média registrada nas últimas semanas de janeiro.
No final da tarde, o Hospital publicou uma nota em que desmente um vídeo divulgado em redes sociais que mostra uma situação normal no HMV.
"O Hospital Moinhos de Vento esclarece que o vídeo gravado nas dependências da instituição e que sugere que a situação vivida é tranquila não reflete a realidade. Além de captado sem autorização, traz informações imprecisas. O hospital registrou hoje [quarta] os mais altos índices de internações e agravamento de casos", diz a nota.
O hospital confirma que abriu leitos de terapia intensiva "de retaguarda" e fechou a tenda de atendimento a pacientes com suspeita de infecção devido à gravidade dos casos. "Direcionamos para o atendimento da emergência, que só recebe casos classificados como vermelho e laranja", diz o texto.