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Estoque de água na Grande São Paulo é 17% menor que em 2014

Um dos diretores da Sabesp admitiu publicamente a possibilidade de adotar um rodízio de cinco dias sem água por semana na região do Cantareira

Estoque de água na Grande São Paulo é 17% menor que em 2014
Notícias ao Minuto Brasil

11:17 - 27/01/16 por Estadao Conteudo

Brasil Sabesp

A Grande São Paulo entra nesta quarta-feira, 27, no terceiro ano da crise hídrica com um estoque de água nos seus reservatórios ainda 17% menor do que no início declarado da seca no Sistema Cantareira. As condições climáticas, no entanto, são opostas às vivenciadas nos meses de janeiro de 2014 e 2015, que marcaram o começo e o auge da crise. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) discorda do cálculo e afirma que a situação hoje é melhor.

Juntos, os seis mananciais que abastecem 20 milhões de pessoas na região metropolitana tinham 1 trilhão de litros no dia 27 de janeiro de 2014, quando a Sabesp emitiu o primeiro alerta público sobre o baixo nível do Cantareira. Na terça-feira, 27, eles somavam 871,5 bilhões de litros armazenados. O cálculo inclui as duas cotas do volume morto do Cantareira e um volume adicional do Sistema Alto Tietê, todos acrescidos em 2014.

Para a Sabesp, contudo, "o cálculo está errado" e a situação atual é melhor do que no início da crise hídrica porque naquele período as reservas profundas dos reservatórios ainda não estavam disponíveis para captação, o que ocorreu só após as obras emergenciais feitas pela empresa. Por essa lógica, o volume acumulado atualmente é 22,4% maior do que há dois anos.

Clima

Embora o estoque total de água ainda seja menor, o clima passou a conspirar a favor dos recursos hídricos. A estiagem nos mananciais e o calor recorde na cidade, combinação que levou a Sabesp a emitir o alerta do Cantareira em janeiro de 2014 e a admitir um rodízio de cinco dias sem água por semana há um ano, deram lugar a uma sequência de chuvas que tem enchido as represas. As temperaturas amenas têm contribuído com a inibição do consumo de água.

O melhor exemplo é o Cantareira. Até ontem, o volume de água que entrou nos reservatórios já era mais de cinco vezes maior do que o registrado em janeiro de 2015 e superior ao que chegou ao sistema durante quatro meses (janeiro a abril) de 2014. Só no último dia 16, a vazão afluente chegou a 228,7 mil litros por segundo. Em janeiro passado, o mais seco em 85 anos de registros, a vazão caiu a 4,9 mil l/s, no dia 18, uma diferença de 4.567%.

A mudança do cenário hídrico é resultado de uma sequência de meses chuvosos no manancial, que teve início em outubro de 2015. Desde então, já choveu 794 milímetros sobre o Cantareira, 61,7% e 114% a mais do que no mesmo período de 2014/2015 e 2013/2014, respectivamente. Esse novo cenário permitiu que a Grande São Paulo iniciasse 2016 com um estoque de água três vezes maior do que há um ano, quando tinham apenas 280 bilhões de litros.

"Em janeiro de 2015 e 2014 nós tivemos a influência de diversos bloqueios atmosféricos que impediram a entrada das frentes frias e úmidas na Região Sudeste. São elas que espalham nuvens carregadas e provocam chuvas. Neste ano, voltamos a uma situação de normalidade, com comportamento meteorológico típico de verão", explica o meteorologista Cesar Soares, da consultoria Climatempo.

Otimismo

Segundo o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, hoje a Grande São Paulo "está mais bem preparada para enfrentar secas muito piores" do que as previstas nos planos de recursos hídricos. "Agora, quando o Sistema Cantareira sai da reserva técnica (em 30 de dezembro de 2015), há razões para otimismo, porque tudo indica que as condições hidrológicas de 2016 serão melhores que as do biênio 2014-2015", afirma.

Kelman assumiu a Sabesp em janeiro de 2015, quando o nível do Cantareira ficou 23% abaixo de zero (com 5% da segunda cota do volume morto), o pior já registrado. O sistema recebeu o menor volume de água da história e a cidade de São Paulo vivenciou duas semanas com temperaturas acima dos 30ºC, com pico de 36,5ºC.

No dia 27, um dos diretores da empresa admitiu publicamente a possibilidade de adotar um rodízio de cinco dias sem água por semana na região do Cantareira, que acabou sendo descartado graças ao retorno das chuvas em fevereiro e março.

"O cenário hoje é completamente diferente. Este ano as massas de ar de ar frio estão chegando em São Paulo, provocando dias nublados e chuvosos. A temperatura máxima média na cidade de São Paulo foi de 27,1°C, enquanto que em janeiro de 2015 foi de 31,5°C. Chegamos a ter até alguns dias típicos de outono neste mês", afirma a meteorologista Neide Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Quanto maior a temperatura, maior o consumo de água, segundo a Sabesp. Após a recuperação do volume morto do Cantareira, no fim de dezembro, a companhia pediu aos órgãos reguladores para ampliar a exploração do sistema em 30%, de 15 mil para 19,5 mil litros por segundo, para amenizar o racionamento. Mesmo com a autorização, a empresa tem retirado 16 mil l/s. Há um ano, eram 17,3 mil l/s e, antes da crise, 31 mil l/s.

Principal reserva do Rio saiu de 1%, em 2015, para 25%. Graças às últimas chuvas do mês e às medidas de redução das vazões, o volume do reservatório da bacia do Rio Paraíba do Sul saltou de menos de 1% para um quarto de sua capacidade, na comparação do dia de anteontem com a mesma data do ano passado. Em 25 de janeiro de 2015, o reservatório, que inclui as represas de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil, operava com 0,69% de seu volume. Nesta semana, estava com 25,60%.

Segundo o superintendente adjunto de Regulação da Agência Nacional de Águas (ANA), Patrick Thadeu Thomas, apesar do crescimento, o volume da bacia do Paraíba ainda está muito reduzido quando comparado a anos anteriores. Em janeiro de 2012, ela operava com 75%; em 2013, com 40%; em 2014, 55%.

No ano passado, o Rio viveu sua pior estiagem em 85 anos de registro histórico, quando o volume do sistema do Paraíba do Sul quase zerou. O reservatório é a principal fonte de recursos hídricos do Estado e de abastecimento de água potável para a região metropolitana, composta por 18 municípios e que concentra 75% da população fluminense.

"Estamos começando de uma forma muito melhor, mas temos que esperar até o fim do ano para ver se vamos sair da crise. Ainda teremos o período de seca e precisaremos que os reservatórios se mantenham em condição confortável", disse Thomas. (Colaborou Constança Rezende)

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