Bolsonaro fala em nova onda de Covid, mas descarta fechar aeroportos
Para ele, seria ineficaz impedir a chegada de voos internacionais e repetiu que é preciso conviver com a doença
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Brasil BOLSONARO-CORONAVÍRUS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (26) que uma nova onda do novo coronavírus está a caminho, mas descartou fechar aeroportos no Brasil. Para ele, seria ineficaz impedir a chegada de voos internacionais e repetiu que é preciso conviver com a doença.
"Você não vai vedar (a entrada do vírus), rapaz. Que loucura é essa? Quer dizer, fechou o aeroporto, o vírus não entra? O vírus já está aqui dentro", disse o o presidente.
A declaração, transmitida por uma página bolsonarista no Youtube, foi feita em em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. Bolsonaro respondeu a um apoiador que cobrava "fechar o aeroporto".
O presidente havia dito que "grande parte da imprensa" é "sem noção" por criticar a resposta do governo à pandemia. "Genocida, não sei o quê. Qual é a solução, pô?", declarou.
"Agora, boa notícia aí: está vindo uma outra onda aí de Covid, lamentável", afirmou ainda o presidente.
Na sequência, ele ouviu o apelo para fechar os aeroportos. O apoiador ainda insistiu, dizendo que era preciso ao menos impedir a chegada de voos da Europa.
"Você está vendo muito Globo. Pessoal, tem de aprender a conviver com o vírus, infelizmente", respondeu o presidente.
Como revelou o jornal Folha de S.Paulo, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) propôs no último dias 12 cobrar o certificado de vacinação de quem cruza a fronteira do Brasil por terra ou para dispensar a quarentena após voos internacionais.
A agência não sugere impedir a chegada de viajantes, mas mesmo assim Bolsonaro rejeita adotar o "passaporte da vacina".
O presidente, que distorce dados sobre segurança e eficácia dos imunizantes, quer apenas abrir as fronteiras por terra e ignorar a cobrança da vacinação, segundo integrantes do governo.
Hoje estas fronteiras estão fechadas, com algumas exceções.
A ideia da Anvisa é permitir a entrada por terra, mas apenas de quem está vacinado.
A agência também sugere endurecer as regras para voos internacionais. A ideia é que viajantes façam quarentena de cinco dias, mesmo se apresentarem teste RT-PCR negativo para o novo coronavírus. A quarentena seria dispensada, porém, para quem estivesse vacinado.
As decisões sobre o controle de fronteiras na pandemia são tomadas em conjunto pelos ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Anderson Torres (Justiça) e Ciro Nogueira (Casa Civil). A agência apenas emite recomendações.
Na quinta-feira (25), o ministro da Justiça usou argumento negacionista para dizer que é contra cobrar a vacinação de quem chega ao Brasil. "Não precisa. Ela não impede a transmissão da doença."
Na sugestão enviada ao Planalto, a Anvisa afirmou que ainda são escassos os estudos sobre a transmissão por pessoas vacinadas, mas disse que dados disponíveis "indicam claramente que a vacinação continua sendo a estratégia chave para o controle da pandemia de Sars-CoV-2, inclusive da propagação de variantes, como a Delta".
Em discussões internas do governo, representantes do Ministério da Saúde apoiaram a recomendação da Anvisa, mas a pasta comandada por Queiroga ainda não apresentou um parecer formal sobre o tema.
Na nota nota técnica, a Anvisa propõe que a vacina seja aplicada 14 dias antes do embarque ao Brasil em voo internacional ou de cruzar a fronteira terrestre. A agência argumenta que segue orientação de países como os Estados Unidos, Canadá, Chile, entre outros.
Os conselhos de secretários de saúde de estados (Conass) e de municípios (Conasems) divulgaram nota nesta quinta-feira (25) em apoio à proposta da Anvisa.
"O recrudescimento da pandemia em países europeus e o aumento de casos nos EUA, e Canadá, bem como em países da América do Sul, tais como Bolívia, Equador e Paraguai, conforme informação divulgada hoje pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), exigem que o Brasil adote medidas sanitárias adicionais, de modo a proteger sua população", disseram os conselhos.
Desde dezembro de 2020, o governo cobra a apresentação do teste RT-PCR, mas não exige quarentena, apesar de a Anvisa sugerir essa medida há meses.
Bolsonaro disse na quarta-feira (24) que prefere abrir as fronteiras, mas não manda nas decisões da agência reguladora. Ele afirmou que conversou com o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, sobre o tema.
"Na minha parte, não decido, não mando na Anvisa, [mas] a gente não teria fronteira fechada", disse Bolsonaro. "Tem a questão da economia, turismo, um montão de coisas. E o vírus, já falei para vocês, tem de conviver com ele", afirmou ainda.
A ideia da Anvisa é evitar que o aumento de casos da Covid-19 registrado na Europa, entre outros locais, também ocorra no Brasil. A agência também quer impedir que o país vire atrativo para turistas não vacinados.
"A inexistência de uma política de cobrança dos certificados de vacinação pode propiciar que o Brasil se torne um dos países de escolha para os turistas e viajantes não vacinados, o que é indesejado do ponto de vista do risco que esse grupo representa para a população brasileira e para o Sistema Único de Saúde", disse a Anvisa em nota enviada ao Planalto.