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Estudos sugerem que derivados da maconha podem atuar contra Covid

No entanto, as novas pesquisas indicam que os canabinoides podem ser proveitosos não somente no tratamento quando a inflamação já atinge o paciente, mas também para evitar a evolução da doença para quadros mais severos

Estudos sugerem que derivados da maconha podem atuar contra Covid
Notícias ao Minuto Brasil

07:00 - 19/01/22 por Folhapress

Lifestyle CORONAVÍRUS-PESQUISA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alguns canabinoides, substâncias encontradas na cânabis, podem ser úteis contra a Covid-19 por tratar e reprimir o desenvolvimento da forma grave da doença, sugerem dois estudos.

A ideia de que esses componentes poderiam ser úteis no tratamento da enfermidade já era discutida antes por conta de suas propriedades medicinais anti-inflamatórias, explica Fabrício Pamplona, farmacologista de canabinoides e doutor em farmacologia pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

No entanto, as novas pesquisas indicam que os canabinoides podem ser proveitosos não somente no tratamento quando a inflamação já atinge o paciente, mas também para evitar a evolução da doença para quadros mais severos.

Um desses estudos, publicado como pré-print na plataforma medRxiv e assinado por pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, analisou o efeito do CBD (canabidiol) nos genes ORF8 e ORF10 e na proteína M, todos do coronavírus.

Utilizando células em laboratório, os cientistas observaram que o CBD impulsionou um processo imunológico chamado apoptose –uma resposta imune à infecção viral que serve para prevenir a replicação do patógeno e, consequentemente, inibir a disseminação do vírus.

É esse impulsionamento da apoptose que indicaria a possibilidade de o canabidiol ser utilizado contra a Covid-19 em um momento inicial da infecção, já que as células invadidas não passariam pela replicação do vírus.

"A descoberta sugere que o CBD pode ajudar a limitar uma infecção inicial, promovendo a remoção de células infectadas, limitando assim a disseminação", afirmam os pesquisadores no artigo, que ainda deve passar por revisão por pares antes de eventual publicação em periódico acadêmico.

O estudo ainda comparou a ação do CBD em células que não tinham os marcadores genéticos do coronavírus. Ao analisarem esse ponto, notaram que o canabidiol não impulsionou o processo imunológico, indicando que a substância incentiva a resposta somente naquelas células que sofreram a infecção.

Da mesma forma, os cientistas analisaram se os três marcadores genéticos do coronavírus por si só já seriam um fator estimulador da apoptose. Caso isso acontecesse, a ação do CBD não teria um impacto benéfico, visto que o corpo por si só iria desenvolver a resposta imune ao ter contato com o vírus.

No entanto, os pesquisadores escrevem que isso não ocorreu, já que as células com os marcadores genéticos só aceleraram o processo de apoptose quando tiveram injeção do CBD.

Pamplona afirma que "matar [por apoptose] somente as células que estão infectadas [é uma estratégia] muito elegante do ponto de vista de farmacologia contra essa doença".

Mesmo assim, o farmacologista ressalta que o estudo foi feito em laboratório e que são necessários outros testes para observar se o canabidiol é realmente benéfico no retardamento de uma infecção mais grave por coronavírus.

Pamplona faz a mesma ressalva para um segundo estudo sobre o tema que foi publicado na revista científica Journal of Natural Products, realizado por pesquisadores da Universidade do Estado do Oregon (EUA).

Nessa pesquisa, os cientistas observaram que os ácidos canabigerólico (CBGA) e canabidiólico (CBDA), substâncias encontradas na Cannabis, atuaram contra a ligação da proteína S (ou spike) do coronavírus com as células humanas. Dessa forma, os ácidos poderiam impedir a invasão do vírus a células humanas.

Para chegar a essa conclusão, o estudo também ocorreu em laboratório. Os pesquisadores utilizaram pseudovírus que expressavam a proteína spike do Sars-CoV-2. A partir daí, foi notado que os dois ácidos tiveram ação preventiva contra a invasão desses pseudovírus em células humanas no laboratório.

Pamplona explica que isso não é uma imunidade por si só "porque a imunidade é uma capacidade do organismo de combater o vírus, mas de certa maneira [essa descoberta] seria uma proteção".

"Quer dizer, as pessoas se tornam resistentes –mesmo tendo contato com o vírus, ele não entraria nas células. Portanto, não conseguiria infectar nem causar sintomas", comenta.

Os pesquisadores destacam que essa ação dos ácidos foi vista nas variantes alfa e beta do coronavírus. Para a ômicron, que tem uma grande quantidade de mutações na proteína S, não há dados.

Ainda sobre esse estudo, Pamplona afirma que existe certo grau impeditivo por ter sido feito com ácidos. Segundo ele, os canabinoides podem ser encontrados em duas formas –neutra e ácida.

A neutra é a mais comum nos fármacos já disponíveis no Brasil, enquanto que as ácidas são mais parecidas com a forma natural produzida pela planta e, por isso, também são mais difíceis de ser manipuladas em nível industrial.

"Existem produtos com as formas ácidas, mas eles são [mais recentes], no máximo dos últimos cinco anos", explica. Além disso, ele diz que "os efeitos de canabinoides que a gente conhece são [normalmente os da] forma neutra".

Assim, para Pamplona, os dois estudos sugerem mecanismos preventivos para formas mais graves da Covid, mas ainda é muito cedo para afirmar se funcionariam, de fato, no corpo humano.

"Ambos os estudos foram feitos em células, e há uma distância grande entre um fenômeno que acontece em célula e um fenômeno no organismo como um todo", reitera. "Não dá para garantir que mesmo esses efeitos descritos [nos artigos] se realizariam numa infecção normal em um paciente humano."

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