Voluntários entram em rio para encontrar jovem que desapareceu em ônibus
Ao menos seis homens entraram neste domingo (20) no rio Quitandinha, no Centro de Petrópolis, para tentar achar o estudante
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Brasil Petrópolis
MATHEUS ROCHA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Sem ajuda dos bombeiros, voluntários montaram uma operação de busca para localizar o estudante Gabriel Villa Real, 17, que despareceu em um dos ônibus que foram levados por uma correnteza durante as chuvas que castigaram Petrópolis, na última terça-feira (15).
Ao menos seis homens entraram neste domingo (20) no rio Quitandinha, no Centro de Petrópolis, para tentar achar o estudante. Na terça-feira, ele tinha ido ao centro da cidade para buscar uma bolsa em uma loja. Na volta, foi surpreendido ao lado de outros passageiros pelo temporal que arrasou a cidade.
Segundo relatos, o motorista decidiu amarrar o veículo em um poste para que ele não fosse levado pelas águas. No entanto, durante a chuva, a corda se rompeu e o veículo foi arrastado para dentro do rio.
Testemunhas gravaram um vídeo dos passageiros lutando pela vida em cima dos veículos. Foi por meio desse registro que parentes conseguiram identificar o jovem. Segundo eles, Gabriel ainda tentava ajudar outros passageiros com uma escada enquanto os ônibus afundavam.
"Ele é um herói. Ele tentou de tudo. Ele poderia ter se enfiado na escada para tentar sair logo. Mas ele não fez isso. Ele só saiu quando não tinha mais jeito", diz Vanessa de Melo Rocha, tia do jovem.
Ela diz que o estudante sonhava em ser lutador de jiu jitsu e que ele já colecionava medalhas em casa. "O Gabriel sempre foi um menino muito calmo. Nunca tivemos problemas nenhum com ele. Nunca se envolveu com nada de errado, frequenta a igreja e ajuda muito em casa."
Apesar das tentativas, o ônibus virou e os passageiros foram carregados pela correnteza, incluindo Gabriel. O jovem é uma das pessoas que sumiram durante o temporal que castigou Petrópolis na última terça-feira (15). Segundo dados da Polícia Civil, há mais de cem pessoas desaparecidas.
"Está todo mundo arrasado. O telhado de vidro não é só do vizinho. As desgraças podem acontecer com qualquer um. Não importa quem seja. Então, está todo mundo muito impactado com isso. Não só a gente. Olha a multidão de pessoas que está ajudando, pessoas que eu nem conhecia", diz ela, apontando para baixo, em direção aos homens que tentam localizar Gabriel dentro do rio.
Um deles é Rogério Barros, 40, que decidiu se juntar às buscas no último sábado (19). "Eu tenho dois filhos. Se fosse filho meu, eu ia querer que todos os homens do mundo estivessem aqui me ajudando. Eu não posso ter outro sentimento que não seja vir para cá e tentar ajudar a família a encontrar", disse ele, logo após sair de dentro do rio durante as buscas.
"A possibilidade de um corpo ficar agarrado às árvores é algo muito plausível. Enquanto ninguém enfrentar essa situação, a família não vai ter a certeza de que o corpo está aqui", afirma ele, acrescentando que não viu os bombeiros entrando dentro do rio para buscar por desaparecidos.
"O rio todo tem que ser vasculhado, porque a possibilidade de ele estar preso em uma galhada dessa é gigantesca." A Folha entrou em contato com o Corpo de Bombeiros, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
O temporal que devastou Petrópolis atingiu a marca de ao menos 152 mortos neste sábado (19), superando os desastres registrados em 1988 e 2011. Com isso, ele se tornou o mais letal já vivido pela cidade. A Defesa Civil Municipal realiza o monitoramento de chuvas e tragédias desse tipo na região desde 1932.
Entre os 144 corpos que já chegaram ao IML (Instituto Médico-Legal) até o fim da tarde deste sábado (19), 89 são de mulheres e 55 são de homens, incluindo 27 de menores de idade. Entre eles, 119 já haviam sido identificados. Até este domingo (20), 114 mortos haviam sido enterrados.