Covid piora a qualidade de vida em metade de pacientes que foram internados
O estudo foi assinado por pesquisadores da UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), em Minas Gerais, e publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Também contou com a colaboração da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma nova pesquisa observou que a Covid-19 está associada à piora da qualidade de vida por sequelas em mais da metade dos pacientes que foram internados pela doença. O sexo feminino e a idade avançada foram os aspectos que mais estavam associados ao desenvolvimento de problemas mentais ou físicos mesmo depois de meses da alta hospitalar.
O estudo foi assinado por pesquisadores da UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), em Minas Gerais, e publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Também contou com a colaboração da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
A Covid longa -como são chamados os problemas crônicos de saúde originados de uma infecção pelo Sars-CoV-2- vem sendo investigada em todo o mundo. No Brasil, iniciativas para o tratamento da perda de olfato ou uso de cannabis para a condição são alguns exemplos.
Um dos autores do estudo e professor do departamento de fisioterapia da UFVJM, Henrique Costa afirma que a ideia de fazer a investigação ocorreu quando residentes observaram "que os pacientes com pós-Covid atendidos [em unidades básicas de saúde] relataram problemas meses depois da alta hospitalar".
"O objetivo era identificar quais fatores estavam associados à pior qualidade de vida desses pacientes, porque se conseguimos identificar esses aspectos, podemos elaborar uma intervenção mais eficaz", completa o autor.
A investigação consistiu em uma revisão sistemática –quando são utilizados outros estudos publicados para entender o que já foi produzido até então sobre o assunto. Neste caso, foram utilizadas seis bases de dados que inicialmente resultaram em mais de 4.000 artigos. No final, 24 cumpriram os requisitos do tema delimitado pelo grupo de pesquisadores.
"É comum ter o número inicial alto, mas o final baixo. Neste caso, o objetivo foi muito específico. Por exemplo, nós encontramos estudos que avaliavam a qualidade de vida, mas em pacientes em âmbito ambulatorial [e por isso não entrou]", explica Costa.
Esse exemplo de artigo foi retirado do estudo porque os pesquisadores investigaram somente os pacientes que haviam sido internados –seja com ventilação mecânica ou na enfermaria– diante de uma infecção por Covid.
A partir daí, eles observaram o que a literatura já vinha discutindo sobre o tema. "Os estudos que encontramos fizeram um acompanhamento de pacientes após terem Covid que variou entre 15 dias a 6 meses depois da alta hospitalar", diz.
Em média, foi observado que de 15% a 56% dos pacientes da amostra total dos 24 artigos que compuseram a revisão relataram problemas após estarem curados da infecção.
Costa explica que essas sequelas foram divididas em categorias. Por exemplo, alguns dos problemas remanescentes eram de ordem física e as mais relatadas foram dores e desconfortos, principalmente na região torácica, articular e mialgia generalizada.
"Para explicar esse efeito, existem múltiplas causas, como uma consequência da infecção viral no sistema neuromuscular periférico", explica o professor.
Outras sequelas que pioraram a qualidade de vida dos pacientes eram mentais e foram principalmente ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e medo de reinfecção.
Além de identificar esses problemas que foram os mais persistentes no caso desses pacientes que tiveram internação por Covid-19, o estudo quis entender quais aspectos estavam mais associados a essas condições que continuaram nessas pessoas -sendo os principais o sexo feminino e a idade avançada.
"Sobre o sexo feminino, a literatura já mostrou que, em homens, normalmente a doença se apresenta numa forma mais grave e até mesmo com maior probabilidade de óbito.
No entanto, mulheres, não se sabe por que, têm uma experiência muito negativa da presença de sintomas a longo prazo", diz.
Já em relação à idade avançada, pesquisas científicas mostraram que este fator está associado a uma recuperação mais lenta da saúde física e mental, fazendo com que isso explique a continuidade das sequelas nesta parcela da população.
Além desses dois fatores, os pesquisadores também encontraram outros relacionados a presença de sequelas, como tempo de permanência no hospital, duração da ventilação mecânica invasiva, presença de doença renal, histórico de tabagismo e obesidade. Esses pontos, no entanto, não estão completamente consolidados, diferente do caso do sexo feminino e da idade avançada.
Embora o estudo não tenha envolvido diretamente os pacientes atendidos pelos pesquisadores, Costa afirma que as sequelas observadas nos artigos que compuseram a revisão sistemática são semelhantes às queixas vistas nas UBS, principalmente ansiedade e depressão.
A ideia da pesquisa é que, ao identificar essas condições que persistem juntamente com os fatores associados a elas, existe a possibilidade de desenvolver estratégias de saúde para melhorar a qualidade de vida desses pacientes mais suscetíveis a problemas persistentes.
"A aplicabilidade do estudo é muito clínica neste sentido de reconhecer os pacientes que são mais vulneráveis e direcionar algumas ações específicas para eles", conclui Costa.