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Polícia confirma 18 mortes em operação no Complexo do Alemão, no Rio

A ação durou cerca de 12 horas com intensos tiroteios, sendo finalizada por volta das 17h.

Polícia confirma 18 mortes em operação no Complexo do Alemão, no Rio
Notícias ao Minuto Brasil

05:10 - 22/07/22 por Folhapress

Justiça OPERAÇÃO-RIO

(FOLHAPRESS) - A Polícia Militar e a Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmaram ao menos 18 mortos em uma operação realizada no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (21). A ação durou cerca de 12 horas com intensos tiroteios, sendo finalizada por volta das 17h.

As corporações afirmaram, em entrevista a jornalistas, que este é um balanço parcial. Os corpos ainda estão sendo identificados pela Polícia Civil.

Considerando a contagem até o momento, a operação é a quinta mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF (Universidade Federal Fluminense).

À tarde, a Defensoria Pública afirmou, com base em informações fornecidas por unidades de saúde da região, que havia 15 corpos na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão e cinco no Hospital Estadual Getúlio Vargas. A reportagem viu sete corpos sendo carregados por moradores em lonas e toalhas.

Segundo as polícias, 16 morreram em confronto. Também foi vitimado o cabo Bruno de Paula Costa, 38, baleado enquanto estava trabalhando, em ataque à base da UPP Nova Brasília. Segundo a corporação, a morte foi uma retaliação à operação.

Ele ingressou na polícia em 2014, era casado e deixa dois filhos com diagnóstico de transtorno do espectro autista.​

Morreu ainda Leticia Marinho, 50, uma mulher que passava pela região e estava dentro de um carro com o namorado. Ele afirmou ao portal Voz das Comunidades que parou no sinal ao lado de um veículo da polícia e que, então, um policial atirou contra o seu carro. A vítima deixa três filhos.

A Polícia Civil diz que está investigando esta morte. Questionado se algum policial foi identificado e afastado pelo fato, o subsecretário operacional da Polícia Militar, Rogério Lobasso, respondeu que primeiro é preciso entender a dinâmica, para então tomar as medidas necessárias.

Subsecretário operacional da Polícia Civil, o delegado Ronaldo Oliveira afirmou que a polícia reage de acordo com a ação dos marginais. "Preferia que eles não tivessem reagido e a gente tivesse prendido. Infelizmente escolheram a reação."

De acordo com ele, havia mais de 30 mandados de prisão a serem cumpridos no Alemão.

Segundo a polícia, foram apreendidos uma metralhadora .50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas. Na favela da Galinha, próximo ao Alemão, quatro homens em fuga foram alcançados e detidos, de acordo com a corporação.

A ação, que começou no início da manhã, contou com 400 policiais do Equipes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil. Também foram utilizados dez blindados e quatro helicópteros.

Comandante do Bope, o tenente coronel Uirá Nascimento afirmou que a operação foi necessária porque dados de inteligência indicaram que a quadrilha poderia se movimentar e cometer ações criminosas na cidade, como invasão de outras favelas e roubo a bancos.

Segundo ele, os criminosos estavam arregimentados com fardas militares similares às utilizadas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil para cometer atentados na cidade.

Coordenador da Core, o delegado Fabricio Oliveira afirmou que os policiais foram violentamente atacados durante a operação -ele citou vídeos que circulam nas redes sociais mostrando rajadas efetuadas contra helicópteros das forças de segurança. Disse, também, que os criminosos ficaram desesperados com a ação.

Oliveira afirmou que os traficantes utilizaram três tipos de tática para combater a ação policial. Primeiro, a tática militar de espalhar barricadas com fogo, que impedem o trânsito dos veículos das polícias. Segundo, a tática de guerrilha de espalhar óleo nas ladeiras, também para atrapalhar a entrada dos agentes.

Por último, disse que os criminosos estão lançando mão da tática terrorista de utilizar a população como escudo humano. Segundo ele, há registro de pedidos de traficantes para que mototaxistas e moradores simpáticos ao crime fossem às ruas fazer manifestações. "Quem se associar será responsabilizado", disse.

Questionado pela reportagem sobre como diferenciar o morador que vai às ruas protestar em conluio com o tráfico daquele que protesta por vontade própria, fazendo valer seu direito como qualquer cidadão, Oliveira respondeu que, nas últimas ações, "as pessoas que vão para a rua fazer baderna são simpáticas ao tráfico".

"Basta fazer uma busca nas redes sociais. Eles falam 'morador, vamos pra pista que estão fazendo covardia com a gente'. Mas quando vai ver os vídeos das operações, o traficante está dando tiro de rajada contra a aeronave."

O delegado afirmou que, passadas as operações, as polícias são atacadas por ONGs, por algumas instituições e por "narcoativistas" -segundo ele, pessoas que defendem os traficantes.

Ouvidor da Defensoria, Pimentel afirma que recebeu relatos de muitos mortos e feridos que ainda estavam na favela à tarde. A operação se estendeu por 12 horas, com tropas adentrando a comunidade.

"Temos informação de pessoas feridas dentro da favela, pedindo socorro. Neste momento estamos cobrando do Ministério Público que tome atitudes de controle da força policial para que haja estabilização [do terreno] e a gente possa entrar e checar as graves denúncias de violações de direitos humanos", disse.

Mais cedo, o órgão recebeu denúncias sobre invasão de residências pela polícia e de helicópteros sendo utilizados como base para tiros. Ele afirma que moradores narraram intenso tiroteio e que eles estavam em pânico, inseguros dentro da própria casa.

Nascimento, comandante do Bope, afirmou que o confronto foi muito intenso e disse que, em alguns momentos, os policiais precisaram adentrar as residências para proteger a própria vida.

Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que acompanhou a operação policial para a "adoção das providências cabíveis". O órgão foi comunicado da operação pela Polícia Militar às 5h40.

Segundo decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), apenas operações excepcionais podem ocorrer no estado enquanto durar a pandemia. O MP-RJ disse que a análise do cumprimento da determinação ​será realizada posteriormente, com a remessa da comunicação ao promotor natural.

De acordo com a PM, as bases das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) Fazendinha e Nova Brasília foram atacadas por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que informações dos setores de inteligência indicaram a presença de criminosos do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos, principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna.

Segundo a polícia, o grupo vem realizando roubos a bancos e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades.

Entre os roubos de carga, de acordo com a corporação, constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras durante operações policiais, com o objetivo de dificultar o avanço das equipes.

Clínicas de saúde tiveram o funcionamento suspenso com a operação. Moradores com quem a reportagem conversou relataram que se trancaram em casa e perderam o trabalho com medo dos disparos.

A operação ocorreu apesar da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que restringiu as operações policiais para casos excepcionais no estado do Rio de Janeiro, enquanto durar a pandemia da Covid-19.

Em maio, operação policial na Vila Cruzeiro, a segunda mais letal no estado, resultou na morte de 23 pessoas. A favela é vizinha ao Alemão, alvo da ação desta quinta-feira.

A operação mais letal ocorreu em maio de 2021, na favela do Jacarezinho. Foram mortas 28 pessoas, sendo um policial civil.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro e a Ordem dos Advogados do Brasil no estado pediram que o governo do estado reduza em 70% as mortes por intervenção policial no prazo de um ano. As propostas foram encaminhadas ao Palácio Guanabara em junho.

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