Ações contra a fome na cracolândia enfrentam desafio extra
Embora os usuários de crack sejam a parcela mais visível do problema, é crescente a concentração de famílias inteiras em imóveis abandonados, vivendo em situação precária.
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Brasil CRACOLÂNDIA-SP
(FOLHAPRESS) - Não são poucos os desafios enfrentados pelas entidades que prestam apoio à população da região central de São Paulo conhecida como cracolândia.
Embora os usuários de crack sejam a parcela mais visível do problema, é crescente a concentração de famílias inteiras em imóveis abandonados, vivendo em situação precária. E as recentes ações das polícias Civil e Militar e da Guarda Civil Metropolitana têm tornado o trabalho dos voluntários ainda mais complexo.
Há 12 anos atuando na região, o Instituto Sonhe recebe 523 crianças de 6 a 17 anos para atividades esportivas, sociais, artísticas e educacionais em sua sede, localizada nos Campos Elíseos. Na pandemia, o projeto ganhou mais um braço e passou a fornecer marmitas, ação que ajudou a estreitar ainda mais o vínculo com a população local.
"Quando você aborda o cara com uma marmita na mão e se oferece para conversar, aos poucos quebra a resistência. Eu, pessoalmente, consegui encaminhar alguns a clínicas terapêuticas", revela o vice-presidente da entidade, Gabriel Pietro, 43.
Mas a dispersão dos usuários de crack tem dificultado não só a relação com eles. "Tentamos fazer um trabalho de prevenção com filhos de usuários que vivem em ocupações. Mas, quando eles são deslocados, alguns deixam de frequentar o instituto. A região é muito complexa", explica Pietro.
Segundo a assistente social Nildes Neri, 55, que atua na cracolândia desde 2007 à frente do projeto Ação Retorno, a população vulnerável na região só aumentou desde o início da pandemia. "Não estamos mais falando só de usuários. Vemos muitas pessoas que perderam o emprego e a casa, famílias inteiras vivendo em barracas ou nos prédios abandonados."
Da sede da entidade, saem 500 quentinhas por dia, inteiramente preparadas com alimentos fornecidos por pessoas físicas e empresas. Mas Neri considera seu trabalho "de formiguinha". Ela acredita que só uma força-tarefa, criada em parceria entre a sociedade civil e o poder público, seria capaz de solucionar essa que se tornou uma das mais graves crises sociais e urbanas de São Paulo.
"O pessoal lá de cima precisa olhar aqui para baixo, porque só sabe o que é a cracolândia quem está nesta ponta de cá. Agora, isso aqui virou um caos, teremos que começar do zero outra vez."