Entregador agredido no Rio diz estar 'perplexo' após ex-atleta acusá-lo de homofobia
O advogado Roberto Butter, responsável pela defesa de Sandra, afirmou que ela não pode comentar o caso porque as investigações estão sob sigilo. A polícia não confirmou essa informação
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Brasil AGRESSÃO-RIO
ALÉXIA SOUSARIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS0 - De volta ao trabalho, o entregador de aplicativo Max Angelo, 36, tenta retomar a vida depois de ter sido agredido no último dia 9, em São Conrado, na zona sul do Rio. Nesta terça (18), um dia após voltar às entregas, ele se viu novamente na 15ª delegacia, na Gávea, para tomar conhecimento das alegações da ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias, 53, que o agrediu.
Max disse ter ficado perplexo com a afirmação da ex-atleta, em depoimento à polícia, de ter sido vítima de homofobia. À Folha, a defesa do entregador negou a versão da mulher.
O advogado Roberto Butter, responsável pela defesa de Sandra, afirmou que ela não pode comentar o caso porque as investigações estão sob sigilo. A polícia não confirmou essa informação.
Casado e com três filhos, Max sustenta a família como trabalhador informal há um ano e meio, desde que perdeu o emprego de carteira assinada. Para fazer as entregas, ele usa uma bicicleta e chega a pedalar até 18h por dia.
No último dia 9, imagens registraram a agressão. A gravação mostra quando Sandra pega a guia de um cachorro e avança para cima de Max, atingindo-o nas costas. O entregador não reage. A ex-atleta também é suspeita de cometer injúria racial -ela teria se referido a ele como "preto favelado".
Na delegacia, ela alegou ter utilizado a guia do cachorro para se defender do entregador e negou as acusações de racismo contra ele.
Para a defesa de Max, no entanto, as imagens são claras em relação à agressão. O advogado Joab Gama de Souza afirmou que a mulher pode acabar ainda respondendo peplo crime de calúnia, caso insista nas alegações de homofobia por parte do entregador.
"Essa alegação dela [Sandra Mathias] não se sustenta. Max ficou perplexo porque ele nem sabia ela que era homossexual, soube somente ao ter conhecimento do depoimento dela na delegacia. Ela está usando isso como cortina de fumaça para reverter a situação e se fazer de vítima", disse o advogado.
Nesta segunda (17), Sandra foi ouvida por cerca de três horas na 15ª delegacia, na Gávea. Ela havia sido intimada na semana passada, mas apresentou um atestado médico e faltou ao depoimento.
No depoimento, a ex-atleta confirmou que a confusão começou no dia 4 de abril, quando Max passou perto dela na calçada onde os entregadores se reúnem. O ponto fica ao lado do prédio no qual ela mora.
Cinco dias depois, em outra briga, ela foi filmada atacando Max com a guia do cachorro e mordendo a perna de uma entregadora identificada como Viviane Maria de Souza. Sandra alegou que Max a segurou com força no momento em que ela estava discutindo com Viviane.
Além de ex-atleta de vôlei, Sandra se apresenta nas redes sociais como nutricionista e dona de uma escola de vôlei de praia no Leblon. Segundo a polícia, ela já tem passagens por ameaça, lesão corporal e fraude em licitação.
A Polícia Civil disse que pedirá novas imagens de câmeras de segurança para analisar o caso. Por enquanto, a corporação ouviu uma testemunha, e outras pessoas que presenciaram as agressões são esperadas para prestar depoimento.
A delegada Bianca Lima, responsável pelo caso, aceitou o pedido da defesa para que Sandra seja submetida a um exame de corpo de delito para avaliar possíveis lesões.
Max passou por exames no IML (Instituto Médico-Legal), que confirmaram os hematomas causados pela agressão, e depôs.
Ele mora de aluguel na Rocinha, maior comunidade do Rio de Janeiro. Com a repercussão do caso, uma vaquinha virtual foi criada para ajudá-lo a comprar uma casa e tirar habilitação de moto para efetuar as entregas.
A iniciativa superou a meta, que era conseguir R$ 190 mil em apenas 48 horas. Nesta terça (18), o valor arrecadado passa de R$ 250 mil.
Segundo o advogado de Max, o entregador pretende usar o dinheiro também para comprar uma casa para a mãe. "Ele me disse que num dia muito bom ganha cerca de R$ 200 com entregas, mas que também teve dia que já ganhou R$ 8 pelo trabalho", afirmou Souza.
O entregador tem recebido ofertas de emprego. Max, que teve que largar parar de estudar para trabalhar ainda no ensino médio, também ganhou da empresa para qual trabalha como entregador, o custeio da conclusão dos estudos além do ensino superior. Além disso, foi oferecido a ele e à família tratamento psicológico.