Policiais civis do RJ roubaram fuzis de facção e venderam a grupo rival, aponta PF
O relatório de inteligência foi citado na operação Drake, deflagrada na última semana para avançar na apuração sobre a atuação de policiais civis na extorsão de dinheiro de traficantes para liberar um carregamento de maconha.
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Justiça POLÍCIA-RIO
FABIO SERAPIÃO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Federal produziu um relatório de inteligência em que detalha como policiais civis do Rio de Janeiro roubaram fuzis de uma facção criminosa para vender a um grupo rival.
O relatório de inteligência foi citado na operação Drake, deflagrada na última semana para avançar na apuração sobre a atuação de policiais civis na extorsão de dinheiro de traficantes para liberar um carregamento de maconha.
De acordo com o documento, ao qual a Folha teve acesso, uma fonte do setor de inteligência levou informações aos investigadores da PF sobre "a participação de policiais civis, lotados na delegacia de roubos e furtos de cargas da Polícia Civil do Rio de Janeiro, em crimes de extorsão e venda de armas e drogas oriundas de apreensão".
Procurada, a Polícia Civil afirmou que a Corregedoria abriu uma apuração interna e que a corporação acompanha a investigação da PF.
O relatório da PF cita que a equipe de policiais civis pediu R$ 500 mil para liberar um criminoso ligado ao Comando Vermelho que havia sido preso.
Como os valores cobrados não foram quitados de forma integral, relatou a fonte à PF, os policiais civis fizeram uma ação em um local onde os criminosos armazenavam armas e apreenderam 31 fuzis da facção.
Um dos envolvidos na ação seria o policial civil Juan Felipe Alves da Silva, investigado e denunciado na operação Drake sob suspeita de participar da extorsão a criminosos para devolução de uma carga de maconha apreendida.
Juan Silva era o Chefe do Grupo de Investigação Complementar da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas da Civil do Rio.
O relatório de inteligência da PF aponta que, após a solicitação dos R$ 500 mil, os criminosos chegaram a pagar uma primeira parcela de R$ 100 mil, e um integrante da facção, chamado de Almeidinha, teria se comprometido a honrar o restante da dívida.
Como a quitação não ocorreu, disse a fonte à PF, "os policiais civis resolveram retaliar Almeidinha e estouraram um paiol onde teriam sido encontrados 31 fuzis, um número incerto de armas curtas (pistolas), quantidade incerta de cocaína e cerca de R$ 1,4 milhão".
"A equipe policial então teria vendido a droga e 29 armas para a facção intitulada Terceiro Comando Puro [TCP]", diz trecho do relatório, se referindo a um grupo rival ao Comando Vermelho.
Segundo a PF, após os policiais negociarem os 29 fuzis com o TCP, foi registrada uma ocorrência sobre a apreensão dos outros 2, que completavam os 31 roubados pelos policiais do Comando Vermelho.
No caso da operação Drake, policiais civis do mesmo setor comandado por Juan Silva teriam negociado, por meio de um advogado, a liberação da carga de 16 toneladas de maconha e a soltura do motorista mediante o pagamento de propina.
Após o acerto da propina, três viaturas da DRFC (Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas) teriam escoltado o caminhão até os acessos de Manguinhos para entrega da carga aos criminosos. A comunidade da zona norte, que fica próximo à Cidade da Polícia, é dominada pelo tráfico do Comando Vermelho.
Nesse caso, os policiais teriam cobrado R$ 300 mil para negociar a liberação da droga.
Em nota, a Polícia Federal afirmou que o nome da ação "remete ao pirata e corsário inglês Francis Drake, que saqueava caravelas que transportavam material roubado e se julgava isento de culpa em razão da origem ilícita dos bens".
Como mostrou a Folha, em meio ao planejamento das ações com o Executivo federal, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), trocou a cúpula da Polícia Civil após uma série de pressões por parte de deputados estaduais.
Nomeado há menos de um mês, o secretário José Renato Torres foi retirado do cargo após manifestar a Castro que não acataria indicações de deputados da base do governo. No seu lugar foi nomeado Marcus Amim.
O Rio de Janeiro vive uma escalada na violência e, no último dia 23,, ônibus e trens de transporte público foram incendiados após a morte de Faustão –apontado pelo Ministério Público e pela polícia como o número dois da maior milícia do Rio, hoje conhecida como Milícia do CL.
O grupo é comandado por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, tio de Faustão.
Segundo a polícia, Faustão foi atingido por tiros durante um confronto entre milicianos e agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e do DGPE (Departamento Geral de Polícia Especializada) em Três Pontes, também na zona oeste da cidade.
O suspeito chegou a ser levado para o Hospital Pedro II, mas não sobreviveu, de acordo com a prefeitura.
Também no Rio de Janeiro foram encontradas 8 das 21 armas de grosso calibre que haviam sido desviadas do Arsenal de Guerra do Exército de Barueri, na Grande São Paulo. O armamento estava no bairro da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, área de atuação de uma narcomilícia ligada ao Comando Vermelho.
Foram recolhidas quatro metralhadoras de calibre .50 e quatro fuzis de calibre 7.62 por agentes da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
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