Saiba quem foi Ustra, o torturador do DOI-Codi exaltado por Bolsonaro
Ele foi o primeiro militar considerado torturador pela justiça brasileira
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Brasil Ditadura
Comandante do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), de 1970 a 1974, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em outubro de 2015, foi o primeiro militar considerado torturador pela Justiça, em outubro de 2008. No último domingo, ele foi exaltado pelo deputado Jair Bolsonaro durante a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Ustra sempre definiu sua missão como sendo a de “combater terroristas que queriam implantar o comunismo no Brasil”. Durante depoimento à Comissão Nacional da Verdade, em maio de 2013, Ustra chegou a citar a presidente, que foi presa e torturada pelo regime militar: "Ela integrou quatro grupos terroristas".
Entre suas vítimas estão a atriz e ex-deputada Bete Mendes. Ela foi Presa e torturada em 1970 e encontrou o coronel Brilhante Ustra durante uma viagem ao Uruguai em 1985. Ela, deputada federal. Ele, trabalhando na embaixada em Montevidéu. Bete chegou a denunciá-lo ao então presidente José Sarney. Em uma entrevista, a atriz diz que foi torturada por Ustra quando foi presa pela segunda vez: “A tortura física é a pior perversidade da raça humana; a psicológica, idem.” Na ocasião, Bete Mendes trabalhava na novela "Beto Rockfeller", estudava ciências sociais na Universidade de São Paulo e participava de uma organização clandestina revolucionária. Outro caso conhecido é o de Crimeia de Almeida: “Apanhei muito e apanhei do comandante. Ele foi o primeiro a me torturar e me espancou até eu perder a consciência, sendo que era uma gestante bem barriguda. Eu estava no sétimo mês de gravidez”.
O relatório "Direito à Memória e à Verdade" acusa o ex-coronel de ser responsável por 47 sequestros e homicídios. O relatório final da Comissão da Verdade, documento oficial do Estado brasileiro sobre o período, apontou 377 pessoas, entre eles o coronel Ustra, como responsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos durante a ditadura militar.
Apesar dos inúmeros relatos envolvendo seu nome e das diversas acusações, Ustra declarou em uma entrevista ao Zero Hora que o dia em que morresse, morreria tranquilo “na presença de Deus, muito tranquilo. Tranquilo mesmo”. E que não havia cometido nada de errado. “Cumpri com meu dever, sou respeitado, graças a Deus, pelas pessoas de bem”.