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Porsche que causou a morte de motorista de aplicativo foi financiado até 2027

O automóvel é avaliado em R$ 1,3 milhões, e o IPVA do modelo, pago anualmente, é de quase R$ 34 mil.

Porsche que causou a morte de motorista de aplicativo foi financiado até 2027
Notícias ao Minuto Brasil

10:00 - 14/04/24 por Folhapress

Justiça ACIDENTE-SP

ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O carro de luxo da Porsche do empresário Fernando Sastre Andrade Filho, 24, que bateu contra o Renault Sandero do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, foi comprado no dia 28 de fevereiro deste ano por financiamento. O automóvel é avaliado em R$ 1,3 milhões, e o IPVA do modelo, pago anualmente, é de quase R$ 34 mil.

Produzido em 2023, o veículo está em nome da empresa do pai de Fernando e foi financiado até fevereiro de 2027 em um banco privado. Procurada, a instituição financeira afirma que não comenta nem confirma casos específicos em respeito às regras que disciplinam o sigilo bancário.

Procurada para comentar, a família de Fernando Sastre, por meio de sua advogada, não respondeu até a publicação desta reportagem.

Além do Porsche, a empresa do pai de Fernando tem outros 18 automóveis de alto padrão, como um Volkswagen T-Cross Highline, um Volkswagen Nivus Highline e uma moto BMW. A empresa possui capital social de R$ 100 mil.

Como a Folha mostrou, Fernando é sócio de parentes em uma empresa de administração imobiliária que possui 19 endereços na capital paulista.

Fernando Sastre aparece como sócio minoritário da Sastre Empreendimento Imobiliário ao lado do pai, do tio e de um primo. A empresa, com capital declarado de R$ 430 mil, tem como atividade principal a compra, venda e aluguel de imóveis próprios, construção de edifícios e loteamentos.

A família, que atua no ramo de material de construção, é dona de outros 42 imóveis na capital, no interior e no litoral sul de São Paulo.

A defesa do empresário ofereceu ajuda financeira de um salário mínimo por mês para a família do motorista de aplicativo, que morreu no hospital.

Em petição incluída no inquérito nesta quinta-feira (11), a defesa afirma que "dentro das dependências policiais e através da autoridade policial por meio verbal, se colocaram, junto ao advogado dos familiares da vítima, à disposição para as assistências necessárias, algo momentânea e prontamente rechaçado pelo nobre defensor ao argumento de que 'não era o momento'".

Os advogados do empresário afirmam, ainda na petição, que familiares da vítima têm dito por meio da imprensa que enfrentam dificuldades financeiras, e que por isso novamente ofereceram R$ 1.412 (um salário mínimo) por mês.

"Sensíveis ao momento, reiteram aqui o manifesto intento colaborativo, com uma ajuda financeira mensal no importe de 1 salário-mínimo, ao qual se dispõem a depósito em conta a ser fornecida pelo defensor constituído dos familiares", diz o documento.

Por meio de nota, a defesa da família de Ornaldo afirmou, na noite desta sexta-feira, que está indignada e repudia a oferta. "O causador da morte pagou R$ 500 mil de fiança e oferece a família um valor irrisório como ajuda de custo", diz em nota o advogado José Luiz Sotero.

"Não podemos esquecer que se trata da execução brutal de um trabalhador, que foi morto enquanto trabalhava para levar o sustento a sua família", diz a nota, que também reafirma a confiança do trabalho de autoridades policiais, membros do Ministério Público e Judiciário, em representar os anseios da família e da sociedade.

ENTENDA O CASO
Na noite do crime, Fernando Sastre esteve em dois estabelecimentos com os amigos. O primeiro foi um bar em que ele e outras três pessoas consumiram R$ 620. Em seguida, foram a uma casa de pôquer, onde Fernando ganhou R$ 1.000 e consumiu R$ 400.

A polícia investiga o caso e busca esclarecer se o empresário consumiu bebida alcoólica na noite do acidente. A Folha teve acesso ao inquérito com informações sobre onde Sastre e amigos estiveram antes do acidente -eles foram jantar e depois seguiram para uma casa de pôquer.

Em um dos estabelecimentos, eles consumiram oito drinques chamado Jack Pork -feito com uísque, licor, angostura e xarope de limão siciliano–, além de uma capirinha de vodca.

Também foram consumidos água, um torresmo, um bolinho de costela, um hambúrguer e outros dois salgados. O total gasto foi de R$ 620. No inquérito é dito que ainda não é possível confirmar se há imagens de Sastre ingerindo bebida alcoólica, mas que existe, sim, a possibilidade de que ele tenha consumido álcool.
Juliana de Toledo Simões, namorada de Marcus Vinicius Rocha, prestou depoimento à Polícia Civil no último dia 3 e afirmou que o amigo foi aconselhado a não dirigir por estar um pouco alterado.

De acordo com a advogada de defesa do empresário, Carine Acardo Garcia, a depoente se referiu à discussão que ele teve com a namorada, que por isso estava "alterado".
Rocha, que foi gravemente ferido no acidente, prestou depoimento no hospital e afirmou que Sastre bebeu na noite do

acidente.
Já Giovanna Silva, namorada do dono do Porsche, disse em depoimento na última terça que ele não bebeu. Afirmou que os dois namoram há oito anos e têm um combinado de que quando um bebe o outro não consome bebida alcoólica. Disse também que o namorado não bebeu nada alcoólico porque não gosta de beber enquanto joga pôquer para não perder a atenção.

A jovem afirmou ainda que pediu para ir embora, mas que Fernando não queria porque estava ganhando. Ela insistiu até que ele concordou, ficando "bastante alterado e irritado, iniciando uma forte discussão, por também se irritar com facilidade", segundo trecho do relato do depoimento.

Em seu depoimento à polícia, Sastre afirmou não ter consumido bebida alcoólica antes do acidente e disse estar um pouco acima da velocidade permitida na avenida quando bateu. Imagens da câmera de segurança de um posto de gasolina próximo ao local do acidente mostram o carro de luxo trafegando muito acima da velocidade de outros veículos.

De acordo com o Código Penal, suspeitos não são obrigados a colaborar com a Justiça e a produzir provas contra si, mas testemunhas são obrigadas a falar a verdade em depoimentos. A punição por falso testemunho vai de 2 a 4 anos de reclusão, além de multa.

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