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PM que disse celebrar mortes a youtuber é réu por homicídios em Paraisópolis

Gabriel Luís de Oliveira é um dos acusados por nove mortes em baile funk, em 2019; em vídeo, ele contou fumar charuto e beber cerveja após confrontos letais

PM que disse celebrar mortes a youtuber é réu por homicídios em Paraisópolis
Notícias ao Minuto Brasil

07:40 - 28/06/24 por Folhapress

Justiça São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O sargento da Polícia Militar de São Paulo que disse a um youtuber americano que comemora mortes em confrontos com charuto e cerveja é um dos 13 policiais acusados de participação na morte de nove pessoas em um baile funk em Paraisópolis, em dezembro de 2019.

O conteúdo da entrevista relevada pela Folha causou uma crise interna da corporação. A reportagem tentou contato com a defesa de Oliveira, mas não a localizou -ele trocou defensor.

O sargento Gabriel Luís de Oliveira era o motorista do primeiro tático móvel a chegar à favela de Paraisópolis, em apoio à perseguição a duas motos cujos ocupantes haviam atirado contra outros patrulheiros, o que teria dado início ao tumulto que terminou com nove mortos e 12 feridos, a maioria pisoteada.

Conforme a versão oficial, o veículo dos PMs foi atacado por participantes do baile com garrafas e pedras, o que teria motivado o revide com armas menos letais (como bombas de feito moral e bala de borracha). Os policiais tiveram de solicitar apoio para deixar o local e conseguiram escapar sem ferimentos.

Ainda segundo a versão oficial, após o tumulto os policiais perceberam os feridos em uma viela e foram socorrê-los.

Na denúncia aceita pela Justiça, o Ministério Público afirma que Oliveira teria descido da viatura "com o cassetete em mãos e passou a agredir quem buscasse fugir do tumulto por aquela esquina".

"Os denunciados assim agiram pela torpe motivação de causar tumulto, pânico e sofrimento, em abusiva demonstração de poder e prepotência contra a população que estava em evento cultural", diz trecho da denúncia do Ministério Público.

Na ocasião, Oliveira foi afastado dos trabalhos de rua, assim como os outros policiais envolvidos no episódio, por determinação do então governador João Doria. O policial, que era cabo na época, foi promovido a sargento, sendo classificado na zona norte no ano passado.

Nessa região, passou a trabalhar em nova equipe da Força Tática, uma das entrevistadas pelo criador de conteúdo Gen Kimura para falar da rotina da corporação. O youtuber também acompanhou algumas ações dentro de viaturas, conforme conteúdo publicado neste mês em seu canal.

Foi nesse contexto que o sargento disse, em inglês, que a morte de criminosos era comemorada com charutos e cerveja. Após a repercussão negativa, essa parte da entrevista foi retirada do material ainda disponível no canal.

Embora outras gravações do gênero já tenham ocorrido com autorização da cúpula da corporação, esse caso em específico provocou uma crise por causa das declarações de Oliveira, consideradas desastrosas, e também devido a uma suposta falha de procedimentos no setor de comunicação da PM.

Um capitão ligado à cúpula da corporação teria autorizado a gravação com o youtuber, mas sem avisar os superiores hierárquicos. O oficial seria um dos PMs afastados por causa do episódio.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que o comando da PM determinou a apuração de todas as movimentações e ocorrências relacionadas ao policial e que as investigações ficarão a cargo da Corregedoria. "A Polícia Militar é uma instituição legalista e não compactua com desvios de conduta de seus agentes. Comprovada qualquer irregularidade, os envolvidos serão responsabilizados nos termos da lei", acrescentou.

A região da zona norte é comandada pelo coronel Cleotheos Sabino de Souza Filho, que foi promovido pelo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, contrariando desejo dos próprios pares. Os colegas eram contra a promoção por causa do histórico de violência policial pelo qual Souza Filho chegou a ser condenado.

Para o ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido Silva, esses episódios criam uma imagem muito negativa do país no exterior.

"Estamos oferecendo ao mundo o pior dos espetáculos. Um rio de sangue que sai de Paraisópolis e deságua nessa imoral declaração. A polícia existe para comemorar a vida, não para celebrar a morte e a desumanidade", afirmou.

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