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Promotoria de SP investiga lavagem dinheiro do PCC com jogadores da elite do futebol

A principal suspeita dos promotores é de lavagem de dinheiro do tráfico na aquisição dos atletas

Promotoria de SP investiga lavagem dinheiro do PCC com jogadores da elite do futebol
Notícias ao Minuto Brasil

05:00 - 21/08/24 por Folhapress

Justiça Facção

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Documentos em poder do Ministério Público de São Paulo, entre contratos, comprovantes de pagamento e prints de conversas no WhatsApp, indicam uma suposta participação de criminosos do PCC (Primeiro Comando da Capital) na contratação de jogadores da elite do futebol brasileiro e mundial.

 

O material foi entregue pelo corretor de imóveis Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, dentro de um acordo de delação premiada firmado com promotores paulistas e homologado pela Justiça de São Paulo em abril deste ano.

Não há indicativo de que os jogadores tenham conhecimento da origem do dinheiro.

A principal suspeita dos promotores é de lavagem de dinheiro do tráfico na aquisição dos atletas, por meio de empresas agenciadoras de jogadores de futebol. Gritzbach admite na delação ter participado de um esquema de lavagem da facção na compra de imóveis em São Paulo. Cita, nesse contexto, outras pessoas supostamente ligadas ao PCC.

Entre os jogadores de futebol que teriam ligação com agências comandadas por faccionados citados pelo corretor de imóveis estariam alguns com passagens por clubes como Corinthians e São Paulo, dentre eles Éder Militão, ex-jogador do São Paulo e atualmente no Real Madrid.

A informação foi publicada inicialmente pelo colunista Josmar Jozino, do UOL, nesta segunda (19), e confirmada pela reportagem, que obteve parte do processo.

Logo após a publicação da reportagem, a diretoria do Corinthians divulgou nota dizendo ter recebido com enorme surpresa a possibilidade de atletas serem agenciados por integrantes do crime (leia mais ao fim do texto).

Entre os empresários ligados ao crime e com contratos com jogadores do futebol, Gritzbach citou o nome de Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Tripa, que vem sendo investigado pela Polícia Civil desde o início de 2022. Na época, o elo com o PCC já havia sido apontado pela polícia.

"É empresário de diversos jogadores de futebol, alguns alocados na UJ Football, empresa sem lastro financeiro, que se enquadra no simples e possui vários jogadores. Danilo não figura como sócio desta empresa, mas possui participação. Além desta empresa, é sócio da Lion Soccer", diz trecho da delação.

Há dois anos, a UJ negou ligação com Oliveira. Procurada novamente, a empresa que atualmente agencia Éder Militão voltou a negar (leia ao final do texto). A Lion não foi localizada pela reportagem.

Além de Oliveira, o corretor de imóveis delatou a suposta participação no esquema de uma pessoa já morta, Rafael Maeda Pires, conhecido como Japa do PCC, que teria participação nas empresas agenciadoras.

Em trocas de mensagens em grupo do WhatsApp, anexadas no processo, Japa e outros interlocutores falam da aquisição de alguns atletas do Corinthians e citam o então presidente Duilio Monteiro Alves.

"Boa tarde, meus amigos. Estamos fechando mais um jogador do Corinthians. Já pedimos referência pro Duilio", diz um interlocutor.

Oliveira é suspeito de participação no sequestro de Gritzbach, em janeiro de 2022. O corretor de imóvel teria desaparecido com US$ 100 milhões (R$ 547 milhões) e mandado matar o dono do dinheiro, suposto chefe do PCC Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, em 2021.

Os policiais do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) afirmaram, em 2022, que Anselmo Cara Preta teria passado US$ 100 milhões a Gritzbach para que ele, juntamente com Pablo Henrique Borges, investisse o valor em criptomoedas. O dinheiro, no entanto, sumiu, e Anselmo foi morto.

Os dois acabaram presos na época. Agora, Gritzbach delata o grupo, mas nega ligação com a morte.

No final de 2023, o corretor de imóveis sofreu um atentado em prédio de Tatuapé. Para policiais ouvidos pela reportagem, a morte dele é uma das missões repassadas aos integrantes do grupo.

OUTRO LADO

Procurada, a UJ Football negou ligação com o crime. "A UJ Football Talent esclarece que é uma empresa individual, conhecida como Eireli, sendo conduzida de maneira unipessoal, ou seja, sem o envolvimento de múltiplos sócios. Dessa maneira, o senhor Danilo Lima, citado na reportagem, não é e nunca foi sócio ou participou da empresa."

A empresa diz ainda que desconhece qualquer referência à UJ nas investigações. "E a citação de seu nome, o desvirtuamento da verdade, de forma irresponsável, poderá gerar apuração de responsabilidade na esfera cível e criminal."

"A empresa opera e sempre operou de forma transparente e ética, seguindo todas as normas legais e regulamentares. Desconhecemos, portanto, qualquer tipo de relação com quaisquer das pessoas mencionadas na investigação", finaliza.

O São Paulo Futebol Clube disse que não vai comentar o assunto.

O Corinthians afirmou que "recebeu com enorme surpresa a notícia da possibilidade de atletas supostamente agenciados por integrantes do crime organizado terem formalizado contratos com o clube" e que se coloca à disposição das autoridades para contribuir com as investigações.

"É de se ressaltar que, de acordo com o conteúdo das matérias veiculadas, tais contratos teriam sido celebrados anteriormente à gestão atual", acrescenta a agremiação do Parque São Jorge.

Duilio negou conhecer os empresários. "A respeito da investigação do Ministério Público de São Paulo, a gestão 2021-23 do Sport Club Corinthians Paulista informa que o presidente Duilio Monteiro Alves nunca teve qualquer contato, pessoal ou profissional, com a pessoa mencionada na investigação."

"As negociações de jogadores citados envolveram apenas os representantes legalmente constituídos dos atletas, não se sabendo de quaisquer fatos tidos como ilícitos. Vale destacar ainda que na delação ou no inquérito policial não há nenhuma citação de qualquer ato de Duilio."

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