Dia do voluntariado: exemplos de quem tenta melhorar o mundo
Fazer o bem sem olhar a quem seria uma das práticas do voluntário
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Brasil ONG
Em 28 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Voluntariado no Brasil. Mas o que é ser voluntário? Ao ouvir essa pergunta, é comum pensar nos tipos mais comuns dessa atividade, como entregar comida a moradores de rua ou atuar dentro de Organizações Não Governamentais (ONGs). Mas vai além disso.
Segundo a Lei de nº 9.608, de 1998, o voluntariado é definido como uma "atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade" que não gera vínculo empregatício "nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim".
O voluntariado é amplo, quase que a prática da frase 'ajudar sem olhar a quem' e pode ser feito das formas mais simples e inesperadas possíveis. Este é o caso do projeto Amor em Chá. Quatro cariocas que gostam muito de decorar festas perceberam que muitos objetos de decoração, como formas de doces, laços e fitas sobravam e ficavam sem uso. "Por que a gente não junta o que tem e monta a decoração para a festinha de alguém? Aí nasceu o 'Amor em Chá', com a ideia de fazer a decoração de chás de bebês para mamães sem recurso", contou Karina Rocha, coordenadora do projeto.
O primeiro chá de bebê foi realizado apenas com itens das próprias meninas, além de alguns papéis e etiquetas que imprimiram com o nome da bebê. Depois, elas criaram uma página no Facebook para aceitar doações de objetos de festas. E vale de tudo: forminhas, toalhas, descartáveis, pratos... É possível entregar os itens em postos de coleta e, a depender do local, as meninas conseguem buscar. O projeto é formado por Viviane Offrede, Fabiana Cunha, Paula Campagnoli e Karina Rocha, que se conheceram no trabalho.
Depois que os itens são coletados, o Amor em Chá pensa numa ideia de decoração, junta os objetos numa caixa e leva até a mãe que vai fazer o chá. Para escolher essas mães, o quarteto conta com a ajuda de um outro projeto, a ONG Providenciando Vidas, no Morro da Previdência, no Rio. Como a ONG trabalha diretamente com as mães da comunidade, ela faz uma triagem de quem está apta a receber a decoração.
"Não adianta indicar pra gente uma pessoa que não vai ter como fazer nada, não podemos promover a festa inteira. A gente não faz nada referente a comida, ao espaço. Mas se ela já tiver essa vontade de receber um chá, se ela já vai reunir os amigos, a gente vai poder deixar isso muito mais fofo. Teve uma que já iria fazer um almoço na casa dela para receber as amigas e receber as fraldas, aí pensamos em deixar isso com cara de chá de bebê, um topinho de brigadeiro, um lacinho. É nessa parte que a ONG nos auxilia", explica Karina.
O trabalho das cariocas é só mais uma das centenas de iniciativas voluntárias que existem. A própria Karina, inclusive, é criadora do Mini Gentilezas, um projeto da ONG Argilando, que coleta doações de kits de higiene pessoal entregues em hotéis para moradores de rua. "O Mini Gentilezas é uma ponte entre quem tem algo para doar e uma instituição que precisa receber. Hoje tem gente do Brasil todo tanto precisando quanto querendo ajudar. E a gente criou uma logística que, qualquer lugar que tenha algum projeto precisando receber isso e alguém topando aceitar as doações, dá para abrir um Gentilezas lá", diz a criadora. Atualmente, o projeto já está com mais de 50 pontos de coletas, presente em cinco estados e 17 cidades.
Além dessas iniciativas, há aqueles que oferecem seus trabalhos diretamente para algumas instituições, seja com uma posição fixa dentro das instituições, seja com visitas esporádicas a alguns grupos. Segundo pesquisa realizada em 2014 pelo Datafolha a pedido da Fundação Itaú Social, há cerca de 16,4 milhões de voluntários no País.
O professor de inglês Giancarlo Ferrari, de 23 anos, é um desses exemplos. Ele começou voluntariando numa ONG dando aulas de português para refugiados e ele teve duas grandes motivações: "O primeiro motivo é o cristianismo, porque eu tenho conceito de que bênção é algo que deus me dá para eu dar para o próximo. Então se eu tenho tempo, se eu tenho a capacidade, acho que é a minha obrigação dar isso pro meu próximo, tenho que passar isso para a frente. O segundo é que eu gosto muito da área de ensino, gosto muito de dar aula. Eu estava dando aula, ajudava meus alunos, mas percebi que poderia fazer mais, porque tinha gente que também precisava mas que não tinha condições ou meios. Aí eu conheci esse lugar que dava aula para refugiados".
A instituição a que ele se refere é o Instituto Base Gênesis, em São Paulo. Ferrari defende que ninguém deve fazer trabalho voluntário se não quiser, mas que todos deveríamos pensar mais um no outro: "Às vezes é um trabalho voluntário, às vezes é simplesmente ajudar alguém esporadicamente. É como se fosse mais um estilo de vida em si do que um momento, do que um serviço ou um trabalho que a gente faz".
Já o estudante de jornalismo André Santiago, de 28 anos, começou por influência de sua irmã. "Ela me levou para a minha primeira experiência como voluntário, quando participei de uma etapa do Jogo Oasis, que tem como objetivo a transformação de comunidades por meio da participação coletiva (entre voluntários e a própria comunidade). Mas entrei de cabeça mesmo quando fui incentivado pelo programa de voluntariado da minha empresa. A EDP é madrinha da unidade João XXIII da ONG Cidadão Pró-Mundo, que dá aulas de inglês de graça para pessoas carentes de todas as idades. Já sou um "volunteacher" há 3 anos", conta.
O trabalho voluntário muda vidas, e não só de quem recebe a ajuda, mas também na vida de quem realiza. "Desmistificou a questão de achar que pra eu ajudar alguém tem que ser um negócio muito grande. Eu sou professor, então eu posso ajudar alguém dando aula sem cobrar, dando aula para quem precisa. Me ensinou muito a trabalhar para servir, e não só por um salário. Eu não dava aula porque eu tinha um emprego, era porque eu amava. Eu consegui valorizar mais o que eu fazia justamente por não receber", diz Giancarlo.
Para Santiago, "ser voluntário é sair das nossas rotinas movimentadas e egoístas por alguns momentos para fazer algo com muito mais significado para a sociedade" e ele revela que essa atividade o ajudou "a ser uma pessoa mais humana e a tentar enxergar um pouco mais a realidade e não o que está escondido atrás de estereótipos. Isso sem contar com o benefício emocional de saber que o meu esforço pode ajudar a mudar vidas para sempre.". Com informações do Estadão Conteúdo.