Doria desconsidera gratuidades para ônibus a R$ 3,80
Falta de garantias de receitas para custear o sistema causa temor para motoristas e cobradores da cidade
© Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas
Brasil São Paulo
O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirma que precisa de R$ 550 milhões para manter o preço da passagem de ônibus congelado em R$ 3,80. Os cálculos, porém, não levam em conta o custo de R$ 650 milhões trazido pelas gratuidades do transporte, como o passe livre estudantil e o bilhete único mensal. Para cobrir esse rombo, a futura gestão tenta transferir a responsabilidade de achar recursos ao atual prefeito, Fernando Haddad (PT), criador dessas gratuidades. A gestão Haddad informou nesta quarta-feira, 26, que não comentaria o caso.
Ao Estado, a equipe de Doria disse que caberia ao prefeito eleito apenas a função de encontrar recursos para cobrir o valor que não será arrecadado com o aumento de tarifa - cujo porcentual de ajuste necessário está na casa dos 7%, segundo empresas do setor.
"Pega 7% de R$ 7,5 bilhões (o custo total do transporte). Dá exatamente os R$ 500 e poucos milhões (que Doria admite precisar para cumprir a promessa). O resto é problema do prefeito (Haddad). É a Prefeitura que está trabalhando e eles que estão tentando resolver. Estamos acompanhando para ver como eles vão resolver", disse o coordenador da equipe de transição de Doria, Julio Semeghini, provável secretário de Governo da próxima gestão.
Diferença
Os subsídios com os ônibus devem chegar à casa dos R$ 2,65 bilhões ainda neste ano. Para o ano que vem, a proposta de lei orçamentária em discussão na Câmara Municipal prevê subsídio de R$ 1,7 bilhão.
Mas técnicos da São Paulo Transporte (SPTrans) e empresários do setor estimam que esse custo chegará a R$ 3 bilhões em 2017. O buraco seria, então, de R$ 1,3 bilhão - a diferença entre o custo real e o dinheiro garantido para ele no Orçamento.
"Qual é o tamanho do problema dos benefícios para o ano que vem? R$ 1,3 bilhão. Está sendo discutido de que maneira isso será resolvido", diz Semeghini.""O que tem de ser resolvido são os (cerca de) R$ 600 milhões, que são fruto dos outros benefícios dados em 2015, começo de 2016, que o prefeito (Haddad) está tentando achar uma forma de resolver", enfatizou.
A equipe de transição afirma não ter definido um "plano B" para o caso de a gestão Haddad não apresentar formas de manter as gratuidades. A solução para o problema não está sendo buscada, uma vez que os planos da atual gestão para o setor seriam de reajustar a tarifa em 2017.
"Aí temos de sentar com as empresas de transporte e discutir outras alternativas, melhorias na eficiência", argumentou Semeghini, questionado sobre os cenários previstos caso a Prefeitura não resolva o problema neste ano. Ele descarta, porém, propor ações como reduzir número de linhas ou de ônibus, que diminuiriam gastos às custas de piora no serviço.
Uma das alternativas defendidas por empresas do setor seria a exclusão do cobrador. Em São Paulo, entretanto, uma lei municipal garante o emprego desses trabalhadores. Empresas do ramo também articulam, no Congresso, a criação de um imposto municipal sobre combustíveis específico para custear as tarifas, mas não têm expectativa de obter vitória ainda neste ano.
Preocupação
A falta de garantias de receitas para custear o sistema já implica temor para motoristas e cobradores da cidade, receosos de não terem aumento de salário.
O presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário e Urbano de São Paulo (Sindimotoristas), Valdevan Noventa, afirma que vem tentando uma audiência com a equipe de Doria para "explicar" os problemas do setor. "Ele precisa se informar sobre a realidade nas empresas, que já estão parcelando pagamentos e cortando benefícios de farmácia e convênio", disse. A reunião ainda não tem data marcada para acontecer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.