Filho de diarista, jovem de SP entra para Universidade Yale
Adolescente de 18 anos ainda aguarda resultados de outros processos seletivos no exterior
© Arquivo Pessoal
Brasil Dedicação
O jovem André Garcia, de 18 anos, morador de Embu das Artes, em São Paulo acaba de mostrar que com muita dedicação é possível chegar longe nos estudos, mesmo vindo de uma família humilde. O estudante acaba de ser aprovado para a Universidade Yale, nos Estados Unidos. André ainda aguarda o resultado de outros processos seletivos que fez para instituições também no exterior.
Filho de uma diarista e um vendedor de produtos de limpeza, André Garcia teve um ensino em escola pública até o nono ano, mas quando foi para o Ensino Médio, conseguiu com muito esforço uma bolsa de estudos em um colégio particular, através de uma ONG, o programa Ismart – Instituto Social Para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos, que oferece a alunos de baixa renda bolsas de estudos em escolas particulares. Em entrevista exclusiva para a Sputnik, o jovem disse que por três anos enfrentou uma maratona para conseguir ter a chance de fazer uma faculdade no exterior.
"Desde quanto eu descobri o Ismart e comecei a participar do processo seletivo, eu comecei a ver muitas histórias inspiradoras sobre muitas pessoas que estavam conquistando o mundo. Muitas pessoas que estavam estudando nas melhores faculdades do Brasil e do mundo e eu fiquei bem interessado em ter uma educação parecida. Eu acabei me apaixonando pelo estilo de ensino americano superior e falei: eu quero isso para mim. Desde o primeiro ano do Ensino Médio até o final eu me dediquei bastante para isso e deu certo."
Para alcançar a meta, André contou que passou por muita luta, como por exemplo levar mais de duas horas diariamente no trânsito para ir de casa até a escola.
Eu enfrentava toda essa rotina diariamente para ir para a escola. Eu estudava no Colégio Lourenço Castanho, na Vila Olímpia (SP) e eu morava em Embu das Artes, mas eu ia sem muito choro, porque eu fico feliz e muito grato pela oportunidade que eu tive, porque muitas outras pessoas não tiveram a mesma oportunidade, então, eu me agarrei a ela e fiz o melhor que eu pude."
Ao ingressar na escola particular, o futuro universitário disse que não chegou a sofrer preconceitos por vir de uma escola pública, mas disse que enfrentou algumas barreiras para manter notas e conseguir melhorar os estudos de língua inglesa, um grande desafio, segundo ele.
"Discriminação não teve, porque a minha escola é sensacional, pois ela visa formar cidadãos. O que eu mais tive dificuldade mesmo foi acompanhar os estudos, as aulas, fazer as provas. Eu lembro que as minhas primeiras notas foram bem ruins para quem estava acostumado a tirar 9 e 10 na escola pública, mas eu me empenhei, estudei muito. Inglês mesmo foi a maior derrota no começo, eu tirei 4 e 5 na primeira prova, aí eu estudei nas férias, pegava livro na biblioteca e estudava um capítulo por dia. Foi uma coisa eu aprendei e me orgulho bastante de ter enfrentado tantos desafios para esse resultado."
A opção pela Universidade Yale surgiu após André desenvolver uma pesquisa sobre aquecimento global e como isso poderia influenciar no número de casos de dengue na sua cidade. O estudo acabou rendendo uma vaga para um curso de verão (Programa Young Yale Global Scholars) realizado entre julho e agosto deste ano, onde o jovem pode vivenciar o dia-a-dia de um estudante universitário fora do Brasil.
"Quando estudar fora foi um sonho para mim, Yale aparecia no topo das melhores universidades do mundo, tem uma rede de ex-alunos famosos e eu acabei me interessando bastante. No começo do segundo ano do Ensino Médio eu ouvi sobre a oportunidade de participar de um curso de verão. Na primeira tentativa eu não fui aprovado, mas me esforcei mais para o processo no ano seguinte e consegui uma bolsa completa e fui de julho para agosto deste ano. Fiquei duas semanas lá e estudei sustentabilidade, energia e meio ambiente. Foi sensacional, porque eu senti na pele o que era ser universitário lá. Eu comia e dormia no campus, tinha aula com professores de ponta da universidade."
André Garcia ainda não sabe a área que vai seguir, até porque a universidade americana oferece por dois anos matérias básicas com diversos assuntos para que o aluno se decida, porém, por conta do trabalho científico realizado na escola, ele acredita que vá seguir o ramo das ciências, como bioquímica ou estudos ambientais.
Ao falar sobre o que a família acha de todo seu esforço ter sido recompensado com a entrada em Yale, o jovem diz que está não só realizando o seu sonho de estudar, mas também o de seus pais, que não tiveram a mesma oportunidade.
"Eu estou realizando um sonho que eles não puderam realizar. Minha mãe, por exemplo, teve que parar de estudar cedo para trabalhar e sustentar a casa. Realmente, eles colocaram todas as fichas nos filhos e graças a Deus estou podendo realizar tudo que eles não puderam e que eu também sonho para mim."
Mesmo diante da crise na educação brasileira e das dificuldades que teve de passar André Garcia afirma que vale a pena toda a dedicação e alerta que todas as oportunidades devem ser agarradas, pois é possível conseguir conquistar pouco a pouco um lugar ao sol.
"A dica que eu dou é se esforcem, sempre dê o seu melhor em tudo e agarrem todas as oportunidades que vocês tiverem, porque tudo o que eu conquistei eu não fiz sozinho, eu tive muita ajuda. Eu tive muitas oportunidades, que nem todas as pessoas de lugares pobres como eu tem, só que eu me agarrei a elas, diferente do que a maioria faz e dei o meu melhor e assim outras oportunidades apareceram." (Sputnik News Brasil)
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