'É uma chantagem', diz governador do ES sobre greve da Polícia Militar
Em uma espécie de desabafo, Paulo Hartung (PMDB) classificou o movimento como "atitude grotesca"
© Reuters / Paulo Whitaker
Brasil Declaração
O governador licenciado do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), afirmou nesta quarta-feira (8) que o movimento que suspendeu o policiamento no Espírito Santo é uma chantagem. "É um caminho errado que rasga a Constituição, é uma chantagem."
Em uma espécie de desabafo, Hartung classificou o movimento como "atitude grotesca". "Se não enfrentarmos isso, é hoje aqui e amanhã no resto do Brasil", afirmou. "Sequestraram o direito do povo e estão cobrando resgate, mas não se paga resgate por aspecto ético nem pelo descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal."
O governo do Espírito Santo mantém a posição de conversar com os policiais militares somente se o policiamento for retomado. A paralisação dos PMs começou no dia 3 de fevereiro.
"Estamos à disposição para conversar dentro da nossa realidade de caixa com a condição de que de cumpra a lei", disse César Colnago, governador em exercício, já que Hartung está afastado por questão de saúde.
O secretário da Segurança, André Garcia, evitou fazer um balanço de ocorrências, mas disse apenas que houve em grande aumento de mortes. Segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo, 85 pessoas já morreram no Estado desde o início da greve. "Coloco essas ocorrências e mortes na conta do movimento", disse Garcia.
Tanto o governador quanto o secretário da segurança afirmaram que o movimento de familiares foi politizado. Na noite desta terça (7), mulheres de policiais se reuniram com deputados e com a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) na Assembleia do Estado.
Depois disso, segundo eles, os policiais que começavam a sair às ruas, voltaram para os quartéis. "Existe um movimento para desorganizar a segurança. Uma interferência de atores atrapalhou. O processo foi sabotado", disse Colnago. "Não podemos colocar a sociedade de vítima desse jogo político. Tem gente apostando do quanto pior, melhor", completou.
REAJUSTE SALARIAL
Desde sábado (4), familiares de policiais bloqueiam a saída de viaturas das unidades de polícia. Eles pedem melhores condições aos policiais militares, como aumento de salário e adicionais por periculosidade e trabalho noturno. De acordo com o Clube dos Oficiais da PM do ES, os servidores estão há três anos sem receber recomposição da inflação -a última reposição foi em 2014, de 4,5%. O último aumento salarial da categoria ocorreu em 2010.
Onda de violência no ES PM está em greve desde o dia 3 de fevereiro Com PM em greve, ES tem aumento de violência e pede ajuda do Exército Justiça diz ser ilegal greve de PM no ES e estipula multa de R$ 100 mil por dia Após ataques, ruas de Vitória ficam vazias e shoppings fecham as portas Onda de violência em Vitória superlota departamento de medicina legal "Onde vamos arrumar R$ 500 milhões para aumentar a folha da PM?", questionou Hartung. Esse valor foi discutido em reunião "escondida" com deputados, segundo ele. "Esse movimento é ilegal, inconstitucional e o método adotado por algumas lideranças dá vergonha", disse Hartung.
Colnago afirmou que não há condições de aumentar o salários dos policiais devido à crise financeira no país. "Estamos no limite, não vamos tratar de uma só categoria. Não há como dar aumento, desorganizar as contas e começar a atrasar salários de servidores."Os policiais militares são proibidos pela Constituição de realizarem greves. Justiça considerou ilegal a paralisação e determinou o fim do movimento, mas o patrulhamento continua suspenso. No caso de descumprimento da ordem, foi fixada multa diária de R$ 100 mil às associações de policiais militares.
"O movimento [de familiares] era aparentemente espontâneo, mas não tinha nada de espontâneo. Causa estranhamento", disse Garcia, se referindo a estrutura de barracas e ao fato de o movimento ter se espalhado rapidamente em todas as unidades de polícia.
INSEGURANÇA
Pelo terceiro dia seguido, escolas e postos de saúde amanheceram fechados nesta quarta (8) em Vitória (ES), mesmo com a presença do Exército nas ruas. O Sindicato dos Rodoviários decidiu manter os ônibus na garagem após o clima de tensão desta terça, quando o Exército teve que interferir para liberar uma avenida em frente ao Quartel do Comando-Geral da Polícia Militar.
Garcia voltou a dizer que 1.200 homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança patrulham a Grande Vitória. Disse também que solicitou mais tropas ao governo federal.
O governador Hartung também falou sobre seu estado de saúde. Ele passou por um procedimento de endoscopia para retirada de um tumor na bexiga na sexta (3), em São Paulo. A recomendação dos médicos é que ele reassuma o governo na semana que vem. Hartung retornou a Vitória nesta terça. Esse foi seu primeiro pronunciamento à imprensa sobre a crise no Estado. Com informações da Folhapress.
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