'Acolhidos' da cracolândia dormem no chão em espaço municipal de SP
Uma das pessoas disse que houve consumo de crack dentro do espaço, nessa segunda-feira
© Paulo Whitaker / Reuters
Brasil Precariedade
No chão frio e duro, sem colchão, ao menos duas dezenas de homens dormem enfileirados no começo da tarde - e tentam se proteger com cobertores acinzentados.
A cena não é muito diferente da que se vê em ruas do centro de São Paulo. A diferença é que eles estão dentro de um equipamento municipal, escolhido pela gestão João Doria (PSDB) para abrigar usuários de drogas retirados da cracolândia no domingo (21).
Por lá, até dois meses atrás, havia uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) que funcionava 24 horas. Agora, ela está abre meio período - apesar da nova demanda.Um dia após uma megaoperação no principal ponto de concentração de drogas da cracolândia, centenas de dependentes químicos se espalharam e consumiram crack pelas imediações da Luz.
Outros foram levados com vans ao complexo Prates, no Bom Retiro, para serem acolhidos pela prefeitura. Foi no centro de convivência desse espaço que a reportagem presenciou a situação acima nesta segunda-feira (22).
Frequentadores do local disseram faltar estrutura para atender uma nova leva de pessoas - por já estar lotado. Eles pediram para não ter os nomes revelados com medo de represálias no espaço.
Um homem afirmou haver 55 beliches improvisados na quadra e temer que novos moradores pudessem ficar em lugar descoberto até de noite. Ele disse que houve consumo de crack dentro do espaço nesta segunda-feira.
Funcionários do complexo afirmaram que foram pegos de surpresa pela ação e, por isso, não estavam preparados.
A gestão Doria diz que, para evitar vazamento da operação policial na cracolândia, suas equipes de atendimento não foram avisadas antecipadamente da nova demanda. Mas afirma que montou camas de campanha para receber um novo público - e diz que as pessoas que dormiam no chão duro no frio tinham a estrutura à disposição.
Frequentadores ouvidos pela reportagem negam. O acesso ao lugar onde ficariam as camas estava fechado à tarde, quando a reportagem esteve no local.A administração tucana diz que ainda que pretende retomar a unidade médica do local pelo período de 24 horas.
A presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool, Nathália Oliveira, criticou a falta de preparo para receber dependentes retirados da cracolândia.
"Já não havia vagas em diversos albergues, e a estrutura do Prates é emergencial para a operação inverno. Estão usando até a quadra com camas improvisadas", disse.O complexo Prates foi inaugurado na gestão de Gilberto Kassab (PSD), em 2012, numa área de 11 mil metros quadrados. Na ocasião, a previsão é que só a unidade médica que fica no local fizesse 5.000 atendimentos mensais. Com informações da Folhapress.
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