Ato lembra 15 anos da morte do jornalista Tim Lopes
Repórter foi morto em 2002 no Rio, quando fazia reportagem sobre a exploração sexual de adolescentes em bailes funk
© Tomaz Silva / Agência Brasil
Brasil Rio
Oito painéis com fotos do jornalista Tim Lopes foram instalados hoje (2) na praia de Copacabana, na altura da Avenida Princesa Isabel, e de outros profissionais da imprensa, mortos ou agredidos no exercício da profissão. Também foi colocada no local uma lista com os nomes de 37 profissionais da imprensa mortos no país desde 2002..
O ato, organizado pela ONG Rio de Paz, marca os 15 anos do assassinato de Tim, morto aos 51 anos, no dia 2 de junho de 2002, na Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte da cidade, quando fazia reportagem sobre a exploração sexual de adolescentes em bailes funk, promovidos por traficantes da região.
O presidente da ONG, Antônio Carlos Costa, disse que a homenagem foi estendida a jornalistas mortos nos últimos anos, para expor a violência contra a imprensa e a violação ao direito de informar e ser informado.
“São dados assustadores e que mostram o quanto estes profissionais são necessários. Sem eles não haveria democracia, uma vez que ela depende de cidadãos bem informados. O trabalho do jornalista consiste em desconstruir inverdades que, muitas vezes, são disseminadas pelos detentores do poder econômico, do poder político”, disse Costa, que agradeceu o trabalho da imprensa.
“Do ponto de vista dos movimentos sociais, são os jornalistas que nos pautam, que apresentam a matéria-prima das nossas manifestações. Quando vamos para as ruas protestar, são eles que dão visibilidade ao nosso ato público, aos nossos protestos. A manifestação de hoje é um agradecimento aos jornalistas brasileiros.”
De acordo com dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), de 2013 a 2016 ocorreram 300 casos de agressões a jornalistas durante a cobertura de manifestações, por parte das forças de segurança e dos manifestantes. De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o número de agressões vem aumentando a cada ano. A ONG Repórteres sem Fronteiras colocou o Brasil em 103º lugar no ranking de liberdade de expressão, o segundo país mais perigoso para profissionais de imprensa na América Latina depois do México.
Homenagem
Por volta de 10h30, familiares de Tim Lopes e de profissionais de imprensa fizeram uma pausa de cinco minutos em sua homenagem, colocando os instrumentos de trabalho em frente aos cartazes. Ao final, todos abraçaram a foto do jornalista.
A irmã de Tim, Tânia Lopes depositou rosas no local. O ato foi repetido pelo jornalista Jorge Antônio Barros, diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro e consultor da Rio de Paz.
Tânia pediu que o trabalho do irmão não seja esquecido. Para ela, quando foi encontrada a ossada do Tim, e ali estavam enterrados tantos anônimos, foi como se o irmão estivesse fazendo mais uma reportagem, denunciando a existência do cemitério clandestino. "Quero agradecer ao Rio de Paz e ao trabalho de vocês, que estão atrás das câmeras. O olhar do Tim era para os desassistidos, para os excluídos", afirmou.
Na opinião de Jorge Barros, a morte de Tim Lopes foi um marco na cobertura jornalística da cidade. “Foi um divisor de águas na cobertura jornalística da cidade do Rio de Janeiro e não foi em vão, muita coisa veio à tona e ainda hoje a gente continua esperando que mais coissas surjam.”
Também foi celebrada uma missa na Capela do Corcovado, aos pés do Cristo Redentor, para lembrar a data.
ABI
Para marcar os 15 anos da morte do jornalista, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) vai promover, na tarde de hoje (2), uma mesa redonda com André Luiz Azevedo, repórter da TV Globo, e Beth Costa, secretária-geral da Fenaj, e o jornalista Bruno Quintella, filho de Tim e autor do documentário Histórias de Arcanjo, exibido pela manhã. A mediação é do presidente da ABI, Domingos Meirelles. Com informações da Agência Brasil.