Jovens de favelas lançam movimento e cartilha sobre política de drogas
O objetivo é “começar a pensar a questão das drogas a partir de quem é mais impactado diretamente com a atual política de drogas no país”
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Brasil Movimento
Grupo de jovens moradores de favelas do Rio de Janeiro e de outras comunidades pobres do país lançou na noite de sábado (2) no Centro de Artes da Maré, zona norte da capital fluminense, o Movimentos: Drogas, Juventude e Favela.
O objetivo, segundo Jefferson Barbosa, morador da cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e integrante do grupo, é “começar a pensar a questão das drogas a partir de quem é mais impactado diretamente com a atual política de drogas no país”.
Durante o ato, será lançada também uma cartilha sobre política de drogas, elaborada pelos próprios jovens. O Movimentos vem sendo construído desde o ano passado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Cândido Mendes (UCAM).
Jefferson informou que a ideia é escutar a narrativa sobre o que é e o que deve ser a política de drogas, com a propriedade de quem vive e é impactado por essa política e que também é jovem. Disse que a questão não pode ser encarada como tabu, principalmente pelos jovens, que devem abordá-la a partir de sua própria vivência. “É o início de uma tentativa de mudança cultural”.
Ele disse ainda que a temática das drogas não pode ser vista somente sob a perspectiva da segurança pública. “Essa é uma questão forte, aguda, explícita nos nossos territórios, mas não é a única questão”, ressaltou.
Para Jefferson, os jovens de comunidades e periferias precisam também de educação, saúde, saneamento básico e de debater a questão da droga para além da segurança pública, insistiu Barbosa. “Nós acreditamos que a nossa perspectiva tem de ser ouvida”. Ele Deixou claro, porém, que isso não inviabiliza que jovens de outras regiões da cidade sejam também ouvidos sobre o problema das drogas.
O grupo de jovens que participa do “Movimentos”, entende que a guerra às drogas significa escolas fechadas, mudança na rotina, medo de sair de casa, “preocupação com o nosso bem-estar e o da nossa família”.
Protagonismo
Coordenadora do CESeC, onde desenvolve há quatro anos um projeto na área de política das drogas, a socióloga Julita Lemgruber informou à Agência Brasil que em 2016 resolveu trabalhar esse tema com lideranças e ativistas jovens de comunidades. “Foram esses jovens que criaram uma nova forma de falar sobre política de drogas dentro da favela. No vídeo produzido para o lançamento, o grupo deixa claro que não foram os jovens das favelas que decidiram quais drogas seriam legais ou ilegais, ressaltou Julita.
“Mas são os jovens da favela que acabam sofrendo os resultados de uma política de drogas equivocada que, principalmente aqui no Rio de Janeiro, aposta no confronto com os grupos de outros jovens que são envolvidos nesse mercado ilícito. No fim, o que a gente tem são jovens negros com uniformes da Polícia Militar usando de violência contra outros jovens negros, alguns envolvidos no tráfico, outros não”, disse a coordenadora do CESeC. Segundo ela, todos sofrem as consequências da “política equivocada” de segurança pública contra as drogas que “optou pelo enfrentamento e pela violência. E, com isso, estão provocando muito mais violência”.
A iniciativa dá aos jovens protagonismo na questão das drogas. Segundo Julita Lemgruber, esses jovens moradores de comunidades e periferias têm legitimidade e autoridade para falar sobre essas questões dentro da favela. Ressaltou a importância do protagonismo da juventude da favela neste momento em que é preciso “desafiar o senso comum, essa lógica da guerra às drogas”.
A expectativa da coordenadora do CESeC, a partir do lançamento do Movimentos: Drogas, Juventude e Favela, é que os jovens possam inaugurar esse diálogo dentro da favela. No próximo dia 13, o CESeC levará a iniciativa para São Paulo, seguindo-se Salvador, Fortaleza e a Região Sul.
“Este Movimentos vai começar realmente a tomar conta das favelas em todo o país para que a gente, através desses jovens, consiga desafiar essa lógica que sustenta a guerra às drogas”, concluiu Julita. Com informações da Agência Brasil.