Marinha envia fuzileiros navais e patrulha para conflito no AM
Entre sexta (27) e sábado, um grupo de garimpeiros atacou e incendiou carros e prédios de órgãos federais na cidade e uma embarcação do Instituto Chico Mendes
© Reprodução / Rede Amazônica
Brasil Garimpo
A Marinha enviou para Humaitá (AM), a 675 km de Manaus, um pelotão com cerca de 30 fuzileiros navais e um navio-patrulha para dar segurança a militares e familiares no município. Entre sexta-feira (27) e sábado, um grupo de garimpeiros atacou e incendiou carros e prédios de órgãos federais na cidade e uma embarcação do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Os ataques ocorreram dias depois que os órgão federais, tendo o Ibama à frente, desencadearam uma nova etapa da Operação Ouro Fino, que combate o garimpo ilegal em unidades de conservações e terras indígenas banhadas pelo rio Madeira. O Ibama apreendeu 42 embarcações que estavam sendo usadas para o garimpo. Recorrendo a uma previsão legal já aplicada em outras operações de fiscalização no país, o órgão destruiu 31 embarcações dos garimpeiros.
+ Incêndio na Chapada dos Veadeiros começa a ser controlado
A Marinha confirmou em nota que os garimpeiros também "tentaram invadir e incendiar a sede da Agência Fluvial de Humaitá (AgHumaitá)", uma unidade da Força. "A ação foi contida pelos militares da Marinha com o apoio do Exército e da Polícia Militar do Amazonas", informou a nota. Os fuzileiros navais chegaram a Humaitá na tarde deste sábado (28) em um avião militar.
Com tripulação prevista de 56 homens, o navio-patrulha fluvial Rondônia, enviado de Porto Velho (RO), é equipado com um canhão, seis metralhadoras e dois morteiros.
A Marinha informou que desde a terça-feira (24) vinha dando apoio à Operação Ouro Fino. "A prática [do garimpo] de forma irregular, além de causar prejuízos nocivos ao meio ambiente, contribui para o assoreamento dos rios, contamina as águas com produtos da mineração, bem como, dificulta a navegação", informou a Marinha.
O diretor de Proteção Ambiental do Ibama em Brasília, Luciano de Meneses Evaristo, afirmou que toda a atividade dos garimpeiros na área é ilegal por se tratar de uma unidade de conservação ambiental. "É um grande grupo de pessoas sem licença, poluindo o rio Madeira, jogando mercúrio na água, comprometendo a fauna e a flora e as pessoas que vivem do rio. Nós vamos continuar a fazer o nosso serviço", disse Evaristo.
Em um vídeo gravado depois dos ataques e que circula em redes sociais, o prefeito de Humaitá Herivaneo Seixas (PROS) aparece prometendo a um grupo de garimpeiros que "vai trabalhar" junto com "dez vereadores" da cidade para que o governador Amazonino Mendes (PDT) dê uma "licença ambiental" para o garimpo na região. O prefeito disse aos garimpeiros que Mendes será candidato à reeleição no ano que vem.
"Faço questão de amanhã, com o governador, mostrar para ele esse vídeo, da necessidade que o povo precisa, para nós pegarmos uma licença ambiental para vocês poderem trabalhar aqui dignamente para sustentar a família de vocês. Eu vou direto amanhã ao candidato a governador Amazonino Mendes -eleito, já que não tem quem tira essa eleição dele- para justamente cobrar dele. Eu tenho fé em Deus de que eu, como prefeito e dez vereadores, ele não dizer não para vocês aqui, para o garimpo, para os pais de família que precisam."
Um alto membro do governo do Amazonas também atacou a operação contra os crimes ao meio ambiente. O secretário de Segurança e vice-governador do Estado, Bosco Saraiva, afirmou em entrevista coletiva à imprensa no sábado (28) que o conflito "foi provocado por membros de organismos federais, situação que será efetivamente investigada a fundo e que causou aquele transtorno absurdo na cidade de Humaitá".
"A notícia que se tem é que membros do Ibama teriam ateado fogo, portanto extrapolado aquilo que era uma fiscalização, teriam ateado fogo em balsas, que inclusive teriam residências sobre elas, o que afetou muitas famílias. A população se revoltou contra", disse o secretário aos jornalistas.
Luciano Evaristo, do Ibama, disse que a decisão de queimar as balsas é amparada por lei e só foi tomada porque os garimpeiros impediram que um rebocador, alugado pelo Ibama especialmente para a ação, retirasse as embarcações da área protegida.
O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar em Humaitá, major J. Antônio, rechaçou as críticas do Ibama de que a corporação teria sido leniente na proteção ao órgão, que teve quatro carros e o prédio incendiados. Ele disse que colocou mais de 80 homens nas ruas na primeira hora do conflito e conseguiu evitar depredações em vários endereços, como a casa de um servidor do Ibama, mas a ação dos garimpeiros foi muito rápida e envolveu centenas de pessoas e diferentes locais ao mesmo tempo. Segundo o major, o prédio do Ibama em Humaitá é desprotegido, sem muro, fica à beira de uma rodovia, e seria "impossível protegê-lo da multidão".
"Nem se eu tivesse 500 homens conseguiria impedir aquela invasão", disse o major. A PM não possui batalhão de choque em Humaitá, mas sim armas não letais. Segundo o comandante, na madrugada deste domingo (29) a PM apreendeu 35 motosserras que haviam sido saqueadas da sede do Ibama. Um homem foi preso. Segundo o oficial, a PM continua atrás de outros objetos roubados do Ibama, como espingardas e redes de pesca. "Considero que fizemos o possível dentro daquelas condições, sem nenhuma vítima fatal", disse o major. Com informações Folhapress.