Exército 'ficha' morador de favela do Rio e veta imprensa
Diferentes pontos de identificação foram montados em diversas saídas das comunidades nesta sexta-feira (23)
© Reuters / Ricardo Moraes
Brasil Intervenção
Moradores de três comunidades da zona oeste do Rio estão sendo "fichados" por militares do Exército durante operação nesta sexta-feira (23). As pessoas só podem deixar suas regiões após passarem pelo cadastramento das Forças Armadas.
Diferentes pontos de identificação foram montados em diversas saídas das comunidades. A foto e o RG dos moradores são enviados por um aplicativo para um setor de inteligência das forças de segurança, que avalia se o identificado tem anotação criminal.
Após flagrar o 'fichamento' de moradores, a reportagem foi impedida de seguir no local e encaminhada por homens do Exército a uma distância de 300 metros do local. Ao justificar a medida, um militar disse que a presença da imprensa estaria "intimidando o trabalho deles".
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O pedreiro Edvan Silva Monteiro, 47, reclamou da abordagem dos militares. Pouco antes do meio-dia, ele voltava para a Vila Kennedy após ter perdido o dia de trabalho. Monteiro disse que foi obrigado a voltar para sua casa pelos militares já que estava sem documento ao tentar deixar a comunidade pela manhã.
"Estava saindo pro serviço apenas com a marmita, e o pessoal do Exército disse que precisava ver meus documentos. Ao voltar para casa, acabei me atrasando e fui dispensando por meu patrão pelo atraso", afirmou o pedreiro, acrescentando que foi fotografado com e sem boné pelos soldados do Exército.
Comandante da operação, o militar que se identificou apenas como Roberto disse que somente o RG dos moradores está sendo enviado para o banco de dados dos agentes de segurança. O CML (Comando Militar do Leste) ainda não se pronunciou sobre o motivo de "fichar" os moradores das três comunidades.
Nesta quinta (22), o presidente da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, anunciou os integrantes de uma comissão que acompanhará o trabalho dos militares no Rio. Na solenidade, ele disse que a OAB não aceita "a ideia de criminalizar a pobreza dessa cidade" e cobrou que a intervenção "montada às pressas precisa ter conteúdo".
O decreto assinado pelo presidente Michel Temer no dia 16 nomeou o general Walter Souza Braga Netto como interventor federal na segurança pública o Estado até dezembro. Na próxima semana, o militar vai anunciar os novos comandantes das polícias do Rio.
OPERAÇÃO
Desde a madrugada desta sexta (23), 3.200 militares realizam uma operação na Vila Kennedy, Coreia e Vila Aliança. Pelo menos duas pessoas foram presas.
A operação tenta prender suspeitos de matarem na terça (20) o sargento do Exército Bruno Albuquerque Cazuca durante um arrastão em Campo Grande. Na quarta (21), o subcomandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Vila Keneddy foi morto em Jacarepaguá.
A operação também conta com agentes das polícias Civil e Militar. O Exército é responsável pelo cerco e desobstrução de vias da região. A operação é acompanhada pela cúpula do Exército no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). Nesta semana, o Exército realizou operações em diversas comunidades da capital e de municípios da região metropolitana do Rio. Com informações da Folhapress.