Prefeitura do Rio promete reconstruir feira na Vila Kennedy
Crivella se desculpou pela ação da sexta-feira, quando equipes chegaram de manhã cedo com retroescavadeiras destruindo os quiosques
© Reuters / Ricardo Moraes
Brasil Favela
Depois de derrubar 52 barracas que funcionavam havia anos na Praça Miami, a principal da Vila Kennedy, favela da zona oeste do Rio, a prefeitura do Rio voltou atrás e promete realocar e legalizar os comerciantes, além de abrir uma linha de crédito para que eles possam comprar equipamentos de trabalho. Neste domingo, 11, foram pré-cadastradas 44 pessoas pela Coordenação de Feiras da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação.
No sábado, 10, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) se reuniu com 30 representantes da feira na praça e anunciou que será publicado um decreto autorizando em definitivo a presença das barracas. Tendas provisórias serão instaladas para que eles sigam trabalhando, enquanto se constroem equipamentos definitivos. No dia anterior, o município anunciara que licenças seriam sorteadas, ou seja, não valeriam para todos.
No encontro de sábado, no Palácio da Cidade, sede da prefeitura, Crivella se desculpou pela ação da sexta-feira, quando equipes da própria prefeitura chegaram de manhã cedo com retroescavadeiras destruindo os quiosques, para desespero dos donos. Os trabalhadores choraram e alguns se colocaram diante das máquinas, suplicando para que suas barracas fossem poupadas. A maior parte vende comida e tira dali sua única renda para sustento de sua família.
Na sexta à noite, o prefeito já havia divulgado nota oficial repudiando "uso desproporcional da força" na operação de ordenamento urbano e dizendo que a ideia não foi da prefeitura, mas da Polícia Militar. Na nota, afirmou que na feira havia venda de drogas e de carga roubada. O Exército apoiou as equipes, assim como a Guarda Municipal.
Segundo a Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização da prefeitura divulgou horas antes da nota de Crivella, foram encontradas construções irregulares, de alvenaria e metal, que ocupavam "quase todo o espaço livre da praça, um flagrante desrespeito à Lei orgânica do município".
No sábado, o prefeito prometeu a abertura de uma linha de crédito específica para quem atua na praça da Vila Kennedy, e sublinhou que os comerciantes terão que atuar "dentro da lei". "Não pode ter gato de luz, não pode ter ponto de água clandestino e tem que ter taxas para serem pagas, porque isso é um dever de cada cidadão". O modelo e a quantidade de quiosques a serem construídos ainda serão definidos.
"A promessa foi maravilhosa, mas quero ver na prática, se vai sair a licença definitiva. Já comprei uma tenda, custou R$ 300, não ganhei nada de ninguém. Essa é minha única renda, vou ter que dar meu jeito, não posso parar. Trabalho de domingo a domingo", disse o comerciante Leonardo Damasceno, que participou da reunião sábado e foi cadastrado neste domingo. "O prefeito jurou que não sabia de nada (da ação de sexta), nem a equipe dele. Disse que foi um pedido da Polícia Militar para a prefeitura. Tenho certeza que isso (o cadastramento) é resultado da repercussão negativa". Os comerciantes já tentavam se legalizar junto à Subprefeitura de Bangu, mas recebiam respostas evasivas, conforme contaram à reportagem.
A Vila Kennedy, favela de 41 mil habitantes que nasceu de um conjunto habitacional dos anos 1960, vem recebendo ações das Forças Armadas no escopo da intervenção federal na segurança do Rio nas últimas duas semanas. Os militares retiraram barricadas instaladas pelo tráfico de drogas para evitar a presença de forças de segurança e de bandos rivais e ajudam no patrulhamento da PM. Com informações do Estadão Conteúdo.