Promotor acusa advogado de defesa de legitimar "limpeza social"
A quarta etapa do julgamento do Massacre do Carandiru recomeçou hoje (19), no Fórum Criminal da Barra Funda, com a réplica do promotor Márcio Friggi. Estão sendo julgados dez policiais que agiram no quinto pavimento (quarto andar) do Pavilhão 9 do complexo prisional. Segundo o promotor, o advogado dos policiais, Celso Vendramini, usou um discurso que legitima a limpeza social e a tese de que “bandido bom, é bandido morto”.
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Brasil Carandiru
Após um intervalo para o almoço, o julgamento será retomado com a tréplica da defesa. A expectativa é que, en seguida, os sete jurados que formam o Conselho de Sentença reúnam-se para decidir se condenam os réus.
Friggi rebateu a principal tese da defesa, de que os dez policiais acusados não agiram no quinto pavimento do Pavilhão 9, citando o depoimento de um dos presos que ocupavam o setor e reconheceu o capitão Wanderley Mascarenhas, que estava com uma touca usada exclusivamente pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).
Mascarenhas era responsável pela equipe de policiais do Gate. O capitão e esse grupo de policiais estão sendo julgados nesta etapa.
O relato do comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos, que atuou no segundo pavimento, também sugere que os dez policiais acusados tenham agido no quinto pavimento, a mando do coronel Ubiratan Guimarães.
Friggi citou trechos do livro Rota 66, do jornalista Caco Barcellos, que apontam o capitão Mascarenhas como um dos maiores matadores da Polícia Militar. De acordo com a obra, Mascarenhas é responsável por 34 mortes, inclusive de seis pessoas que tinham doenças mentais, durante rebelião em um manicômio judiciário. Segundo o livro, o capitão especializou-se em repressão a rebeliões.
A promotoria também criticou Vendramini por ter abandonado o julgamento, o que lhe rendeu uma multa de R$ 50 mil. “Abandonou o plenário porque não estava contente com o que acontecia. Isso é lamentável, nunca abandonei um plenário em dez anos”, disse Friggi.
O promotor ressaltou que o advogado de defesa usa um discurso a favor da matança e quer transformar o julgamento em um espetáculo. Friggi, que trabalhava em um programa popular de televisão, considera “inadmissível que [o julgamento] vire um programa de auditório, um circo. Isso não vai acontecer neste plenário.”
O Massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, durante uma invasão policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 da casa de detenção. Cento e onze detentos foram mortos