Saiba quem foi Wilton, empresário que deu nome a prédio que caiu em SP
"É um momento de muita tristeza, especialmente pelas vidas perdidas, as crianças que morreram", diz Wilton Filho
© Reuters / Nacho Doce
Brasil Desabamento
"Morreu o sr. Wilton Paes de Almeida", dizia o título da notícia na página 3 da Folha de S. Paulo de 30 de junho de 1965, quase 53 anos antes de seu nome virar sinônimo de tragédia, com o desabamento do edifício que o homenageava no largo do Paissandu.
Wilton, o homem, tinha 54 anos e foi vítima de um aneurisma cerebral. Era o presidente do Banco Nacional do Comércio de São Paulo, que seria vendido ao Bamerindus na década seguinte -este, depois incorporado pelo HSBC nos anos 1990.
Wilton nasceu na pequena Estrela do Sul, no Triângulo Mineiro, em 1910. Era filho de Gregório, fundador do banco, e Orminda. A família se mudou para São Paulo em 1914 e teve três irmãos mais novos, todos homens. Sebastião, Mauro e Gregório Filho.
O de maior destaque foi Sebastião, que chegou a presidir o Banco do Brasil e foi ministro da Fazenda de Juscelino Kubitschek (1956-1961).
+ 'Acho difícil ter sobreviventes', diz bombeiro sobre buscas em SP
No centro de São Paulo, Sebastião iniciou em 1961 a construção de uma sede para abrigar o seu conglomerado de empresas, que incluía a Companhia de Vidros do Brasil. Em 1968, ao ser inaugurado, o edifício recebeu o nome de Wilton Paes de Almeida, como homenagem ao irmão mais velho, morto três anos antes.
Formado em direito pela Faculdade do Largo de São Francisco (USP), Wilton trabalhou no banco da família a vida inteira. O banqueiro é descrito no texto da Folha de S. Paulo como detentor de "elevado conceito de administrador". Repercussão da época no Diário de S. Paulo trazia discurso de José Ermírio de Moraes Filho, que classificou Wilton como um "oráculo", a quem todos procuravam para se aconselhar.
No Diário do Comércio, Nivaldo Coimbra de Ulhôa Cintra, então vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, diz que "durante anos a fio", seu gabinete era procurado por pessoas de todos os níveis sociais, "que ali compareciam muito mais para um conselho do que propriamente para tratar de negócios". "E a todos ele atendia, infatigável e bondosamente", disse.
Ulhôa Cintra reproduziu no Diário do Comércio em 1965 o depoimento de um diretor de banco sueco que qualificou o "alto nível de liquidez e eficiência" do banco presidido por Wilton com o "que há de melhor entre as congêneres nos países mais adiantados do mundo".
A medida de tal elevado conceito se dá pela lista de presentes em sua cerimônia de despedida, figuras de renome das esferas pública e privada.
Estavam lá o então vice-presidente José Maria Alkmin, o presidente do Senado, Auro Soares de Moura Andrade, dois ex-governadores de São Paulo e diversas personalidades do mercado, como Antônio Ermírio de Moraes.
Hoje com 81 anos, o filho mais velho de Wilton, que também leva seu nome, lembra da dedicação profissional do pai. "Era das 8h às 8h".
Wilton Filho afirma que o pai era um homem "caladão", muito austero, rígido na educação dos dois filhos que teve com a mulher Maria Augusta, ele e Sergio. Teve ainda 6 netos e 15 bisnetos.
Nas horas de lazer, cuidava da criação de gado em Jaguariúna (SP). O que era passatempo hoje é fonte de renda para a família, que além de gado passou a criar cavalos.
Apesar do prédio que desabou ter sido vítima de abandono e degradação que culminaram no seu incêndio, Wilton também foi homenageado em regiões da cidade.
Outro edifício leva seu nome, no Morumbi, zona oeste, com apartamentos de até 577 metros quadrados, quatro quartos e com valor de mais de R$ 3 milhões a unidade. Na Cidade Jardim, bairro nobre da mesma região, há também uma rua que homenageia o banqueiro.
Com o incêndio e queda do edifício Wilton Paes de Almeida, na madrugada do último dia 1º, estima-se que tenham morrido pelo menos sete pessoas. Com essas vidas, um pouco da memória do homem que deu nome ao prédio que já abrigou a sede paulista da Polícia Federal.
"É um momento de muita tristeza, especialmente pelas vidas perdidas, as crianças que morreram", diz Wilton Filho, que diz nem saber que o prédio estava invadido. Ele lembra que o pai não gostava de aparecer. "Agora, o nome dele está aí na boca do povo." Com informações da Folhapress.