Camisa amarela da seleção é rejeitada por parte dos brasileiros
O uniforme amarelo foi usado por manifestantes contra Dilma
© Reuters / Paulo Whitaker
Brasil questões políticas
Pouco se vê de camisas verde e amarelo pelas ruas do Brasil em plena Copa do Mundo 2018. O motivo é que manifestantes contrários ao PT e ao governo de Dilma Rousseff usaram a camisa da seleção brasileira como uniforme e, agora, quem torce pelo Brasil fica com receio de ser considerado apoiador dos protestos passados.
A camisa foi adotada como símbolo dos protestos pró-impeachment da presidente Dilma. "Foi apropriada por esses movimentos porque representa o Brasil que deu certo, mas virou sinônimo da polarização política do país. Evito usar na rua. Não quero ser confundido", afirma o estudante Matheus Peogetti, 18 anos.
O auditor Vinícius Nagawa, 24, acredita que o uso da camisa amarela nas manifestações indica o tamanho da crise de identidade dos brasileiros. "É como se precisássemos do uniforme da seleção para nos sentirmos brasileiros. Na falta de todo o resto, é o futebol que nos representa", afirma.
A verdade é que a procura pela camisa amarela diminuiu, segundo revela a Folha de S. Paulo. O uniforme azul estaria conquistando os torcedores por estar menos ligado ao racha político que pautou brigas e agressões entre a direita verde-amarela e a esquerda vermelha.
A marca patrocinadora da seleção, a Nike, informou em nota que a camisa azul caiu no gosto do brasileiro e está com um ritmo de saída acelerado, já esgotada em algumas lojas, mas atribuiu o desempenho a seu design inovador.
O escritor gaúcho Aldyr Garcia Schlee, 83, que aos 17 anos venceu o concurso que escolheu o desenho do uniforme da seleção, em 1954, diz aprovar a atual rejeição a sua criação após o uso político. "Usaram a camisa para derrubar Dilma como se fosse um símbolo nacional sem se darem conta de que ela representa uma entidade fraudulenta", considera Schlee.
O professor de literatura da USP (Universidade de São Paulo) José Miguel Wisnik, autor do livro Veneno Remédio (Companhia das Letras), que explorou as relações entre o futebol e o imaginário coletivo brasileiro, avalia que a vida pública brasileira está fortemente faccionalizada e o futebol não é capaz da magia de criar unanimidades.
A seleção não é redutível a um uso político que se faça dela, diz ele, que critica o que chama de posição puramente reativa da esquerda.