Pane em voos em 24 h é 1/3 do impacto de greve de caminhoneiros
Desta vez, a razão foi uma instabilidade na visualização de radares nos aeroportos de São Paulo
© Agência Brasil / Marcelo Camargo
Brasil Aeroporto
As principais companhias aéreas do Brasil sentiram em menos de 24 horas um impacto equivalente a um terço do golpe acumulado com a suspensão de voos na paralisação dos caminhoneiros, que deixou aeroportos sem combustível. Desta vez, a razão foi uma instabilidade na visualização de radares nos aeroportos de São Paulo.
Somadas as três maiores linhas aéreas brasileiras (Latam, Gol, Azul), foram cancelados 107 voos nesta sexta-feira (20) devido a um problema que, segundo a Aeronáutica, foi provocado por questões ligadas à energia elétrica.
Dois meses atrás, após a paralisação das estradas, as três companhias reportaram um total de 332 cancelamentos. Entre os dias 25 e 30 de maio, a Latam teve 151 voos cancelados -ou seja, uma média diária de 25 cancelamentos. Só nesta sexta, a pane obrigou a empresa a cancelar 55 voos -ou seja, mais que o dobro do impacto diário sentido na paralisação dos caminhoneiros.
Na Azul, que teve 169 voos cancelados durante os protestos nas rodovias do país entre os dias 24 e 27 de maio (média de 42 cancelamentos por dia), o impacto desta sexta-feira foi de 33 cancelamentos. As instabilidades aconteceram às 23h30 de quinta-feira (19), às 4h30 e às 10h30 de sexta (20) e atingiram toda a APP-SP, que é a Área de Controle Terminal de São Paulo, ou seja, o principal ponto de conexões de voos do país.
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O abastecimento de energia elétrica foi normalizado às 12h, segundo a Aeronáutica, mas os cancelamentos e alterações de destinos se desenrolaram até o fim da tarde. O caso tem sido visto com preocupação pelas empresas aéreas, que estão calculando os prejuízos desta sexta. Durante a greve dos caminhoneiros, a Azul anunciou perdas em torno de R$ 50 milhões.
Na Latam o registro foi de US$ 13 milhões (R$ 49 milhões) pelos dias de estradas paradas. Além dos prejuízos à malha aérea, as empresas têm custos com os passageiros em solo, como hospedagem e remarcação de viagens.
Internamente, as empresas avaliam o caso como alarmante porque se trata de uma infraestrutura básica e envolve a segurança dos voos. Executivos das linhas aéreas listaram outros problemas semelhantes que aconteceram recentemente e consideraram insuficiente a resposta da Aeronáutica, que tratou a questão como um caso pontual.
Há menos de um mês, a Abear (associação das empresas do setor) divulgou nota comentando sobre outro problema elétrico na alimentação do sistema de radares do controle de tráfego aéreo de São Paulo -que, em junho, foi responsável por atrasar e cancelar dezenas de voos nos aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Campinas (Viracopos).
Segundo a Abear, os radares servem para fornecer informações de localização, altitude, velocidade, direção de deslocamento e meteorologia, ou seja, "informam precisamente ao piloto e ao controle de tráfego a posição de uma aeronave no espaço aéreo".
Em maio, houve um outro caso que ficou mal explicado na percepção de membros de companhias aéreas. Ele voltou a ser comentado pelas empresas nesta sexta-feira. Na ocasião, o chamado ILS (Instrument Landing System), o sistema de aproximação para pouso de precisão, do aeroporto de Guarulhos, apresentou falhas e precisou passar por avaliação.
Pilotos e engenheiros chegaram a cogitar, naquele momento, que poderia haver interferência magnética com sistemas dos trens da linha 13-jade da CPTM, entregue pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) para ligar a capital paulista ao aeroporto de Cumbica. Na época, CPTM, Aeronáutica e concessionária do aeroporto negaram a versão. O problema foi atribuído a um nevoeiro.
Procuradas para comentar a pane desta sexta, as assessorias de imprensa das companhias evitaram entrar em detalhes. Informaram apenas os números de voos perdidos e as orientações para que seus passageiros que tenham viagens marcadas de ou para São Paulo verifiquem a situação de seus voos antes de se dirigirem aos aeroportos.
Em nota, a Aeronáutica afirmou que o CGNA (Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea) adotou nesta sexta as medidas necessárias para regularizar o fluxo aéreo e que em nenhum momento a segurança foi comprometida.
As instabilidades, diz, "decorreram da transição do fornecimento de energia elétrica do abastecimento comercial para o do gerador próprio". Uma das medidas adotadas foi a ampliação do horário das operações dos aeroportos Santos Dumont (RJ) e Congonhas (SP) nesta sexta.
Segundo a Aeronáutica, não há relação entre o fato desta sexta, envolvendo o fornecimento de energia elétrica, com a instabilidade de 16 de junho, quando uma das placas de telecomunicações precisou ser substituída. Com informações da Folhapress.