Sem-teto deixam Largo do Paissandu, em SP, 101 dias após tragédia
Desocupação da área era negociada com as famílias havia algumas semanas pela Prefeitura de São Paulo
© Nacho Doce/Reuters
Brasil Desabamento
Pouco mais de três meses após a criação de um acampamento no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, sem-teto desmontaram seus barracos e deixaram o local na tarde desta sexta-feira (10). A praça pública estava ocupada desde o incêndio e desabamento de um prédio no local, em 1º de maio.
A desocupação da área era negociada com as famílias havia algumas semanas pela Prefeitura de São Paulo. A saída voluntária, apesar de tardia, trouxe alívio à gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), que não precisou usar a força da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para desmontar os barracos e retomar um espaço público. Covas hesitava em relação a isso, à espera dessa saída pacífica ocorrida agora.
Nesse período, a hesitação da prefeitura foi acompanhada de tentativas pouco ortodoxas das defensorias públicas estadual e da União que acabaram não acatadas pela Justiça, como disponibilizar imóveis ociosos no centro para abrigá-los.
A Promotoria, por sua vez, demorou a atuar em relação às crianças do acampamento e atribuiu ao conselho tutelar a função de monitoramento.
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O esvaziamento nesta sexta-feira ocorreu sem confronto, e os sem-teto deixaram o largo, após acordo com a prefeitura para serem acolhidos em centros municipais especializados. A maioria daqueles que ainda estavam na praça foi encaminhada a um novo espaço direcionado para núcleos familiares, na região central da cidade.
Outros sem-teto já haviam deixado o local e se cadastrado em programas sociais ou passaram a viver em centros de acolhimento ou mesmo com familiares.
Assim que os sem-teto deixaram o Paissandu, a prefeitura iniciou a limpeza do largo, que tinha forte cheiro. Agentes de limpeza recolheram roupas, colchões e cobertores deixados para trás. Depois disso, equipes de varrição e com jatos de água também atuaram na via pública.
No entorno da igreja centenária, nas últimas semanas, se acumulam restos de comida e poças formadas pela água usada para lavar a louça. A falta de limpeza também contribuía para a proliferação de pulgas e piolhos. A prefeitura, diante da resistência dos acampados, não conseguia fazer a devida limpeza do largo durante a ocupação.
"O largo melhorou muito com essa limpeza. Mudou da água pro vinho. E espero que também tenham mudado para melhor as condições de vida das pessoas que estavam morando aí", diz o comerciante do largo do Paissandu Francinaldo Sousa, 42. "Não sei como as crianças que viviam aí não pegaram uma pneumonia ou alguma outra doença grave".
A prefeitura estima que 37 famílias ainda ocupavam o largo nesta semana. Eles, porém, não eram os mesmos dos dias após a tragédia.
Os desalojados que ocupavam o edifício Wilton Paes de Almeida deixaram os barracos de lona à medida em que passaram a receber o auxílio aluguel de R$ 400 mensais pagos a vítimas de desastres. Eles também foram cadastrados em programas habitacionais que concedem moradia a pessoas de baixa renda.
Foi a partir da saída dos desalojados que as barracas no Paissandu passaram a servir de moradia a sem-teto que nunca estiveram no prédio incendiado, mas viram ali uma chance de receber o auxílio aluguel e também furar a fila da habitação.
No fim da tarde, Lindailvo da Silva, 43, ainda andava pelo largo já sem barracas. O local foi sua moradia improvisada por três meses. Ele diz que seu irmão morava no edifício Wilton Paes de Almeida e que quando soube da tragédia, correu para ajudar os desabrigados. Desde então, ele diz ter passado a morar ali, à espera de doações.
Após a remoção das barracas, ele diz que dormirá na casa de uma irmã, no bairro da Luz, na região central. Com informações da Folhapress.