Boatos e notícias falsas prejudicam campanhas de vacinação
Desde 2016, o compartilhamento de fake news cresceu e tornou-se um dos fatores que fez cair a cobertura vacinal no Brasil, segundo o Ministério da Saúde
© Altemar Alcantara/Semco
Brasil Saúde
Ao mesmo tempo que aproximam as pessoas, aplicativos de troca de mensagens e redes sociais fazem parte do cenário que impede a população de se proteger de doenças como febre amarela, gripe e sarampo. Boatos espalhados pelo WhatsApp, Twitter e Facebook, por exemplo, tem influenciado na queda do alcance das campanhas de vacinação no Brasil desde 2016, segundo o Ministério da Saúde.
“Um dos fatores que levamos em conta, que prejudicou e ainda prejudica a imunização são as fake news”, explica o chefe da Assessoria de Imprensa e Informação do Ministério da Saúde, Renato Strauss. Outros fatores influenciam a queda, que ficou entre 70% e 75%, como o sucesso das campanhas passadas até a mudança de jornada de trabalho das pessoas.
Com o intuito de reforçar o combate às notícias falsas, o governo federal inicia nesta quinta-feira (20) uma campanha digital para combater boatos e mentiras sobre vacinação. Na ação, imagens e vídeos trazem exemplos de mentiras que circulam na internet e convidam o cidadão a refletir sobre o conteúdo que compartilha nas redes.
“Muita mentira está sendo divulgada, e quem não tem o hábito de checar acaba se tornando vítima dessa desinformação. Queremos mostrar que nem tudo que chega para as pessoas é verdade, especialmente quando falamos de saúde pública”, disse o secretário de Comunicação Digital e Inovação da Presidência da República, Wesley Santos.
Compulsão
Ainda é difícil compreender a motivação de quem dá origem e inicia o compartilhamento de notícias falsas, mas profissionais da área da filosofia, psicologia e comunicação possuem algumas teorias a respeito, segundo o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB) Paulo José Araújo da Cunha. Ele é o responsável por ministrar a disciplina Jornalismo e Fake News na FAC/UnB.
Segundo o professor, o hábito de usar notícias falsas indica uma “compulsão” por mentir e enganar os outros. Do lado contrário, quem compartilha as mentiras geralmente acredita no que está lendo e faz isso com boas intenções. Além disso, o advento da internet e redes sociais apenas facilitou esse processo - que é, aliás, muito antigo.
“Fake news de maneira geral são muito antigas. No Brasil, ocorre basicamente desde a proclamação da República. No mundo, é um fenômeno que se observa desde o Império Romano. A diferença é que antes você precisava de papel, impressora, uma base sólida para fazer a informação circular. Com a internet, isso é muito mais fácil”, explicou.