Professores, alunos e líderes comunitários se unem contra Bolsonaro
"Está em jogo tudo aquilo que conquistamos desde o fim de ditadura", destacou um professor da USP
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Brasil USP
Um ato na USP contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) reuniu cerca de cem pessoas na manhã desta quarta-feira (10) em São Paulo.
O encontro teve como objetivo organizar grupos que possam atuar nas periferias de São Paulo, debater com seus moradores o contexto eleitoral e defender o candidato petista, Fernando Haddad (PT).
Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP e colunista da Folha de S.Paulo, organizou a reunião num salão da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, que contou com a presença de alunos, professores, líderes comunitários e intelectuais.
"Está em jogo tudo aquilo que conquistamos desde o fim de ditadura. Tudo aquele contexto da ditadura pode votar pelo voto. Não se trata de ganhar a eleição, mas de garantir condições para a manutenção de embates políticos", disse Safatle.
"Um setor fez uma escolha fascista no primeiro turno, mas muitos eleitores não têm noção das consequências que isso pode ter. A conquista desse setor vai definir o destino da eleição."
Outra proposta debatida foi a criação de cartilhas que orientem o diálogo com a população das periferias.
Contra a enxurrada de fake news na internet, Safatle defendeu a necessidade de ir para as ruas conversar com a população. "Precisamos ir aos lugares, mostrar nossas caras, falar diretamente com as pessoas, entender seus argumentos para votar, tentar sensibilizá-las."
Era consenso no grupo reunido na USP que Bolsonaro é uma ameaça fascista que o país deve derrotar nas urnas. Bem mais complexo é traçar um plano comum de atuação com esse objetivo, como se percebeu pelas manifestações dos participantes.
"Não podemos chegar com a postura de intelectual arrogante que quer levar esclarecimento para a população. Devemos falar de igual para igual com eles", lembrou uma participante.
Uma outra falou que segurança pública é um tema fundamental a ser abordado, pois é um ponto central no programa de Bolsonaro. Líderes comunitários destacaram a necessidade de buscar o diálogo com a população evangélica, eleitorado que majoritariamente apoiou o capitão reformado no primeiro turno.
Para uma professora, não basta insistir no #EleNão, campanha contra Bolsonaro, mas reforçar também o Haddad sim.
Mas ser contra o capitão reformado nem significa dar apoio total ao PT, argumentaram alguns.
"Temos que combater também o fascismo que existe em certos nichos do PT", reclamou uma militante.
"Ainda estou esperando a autocrítica do PT", queixou-se uma liderança do Centro Cultural do Butantã, que recebeu uma pequena vaia em seguida. "Isso aqui não deveria ser um espaço democrático?", retrucou.
Durante o ato voluntários se inscreveram em diversas frentes de atuação -panfletagem, assessoria jurídica, confecção das cartilhas. A ideia é que os grupos entrem em ação na próxima semana.
Para facilitar os trabalhos, um professor sugeriu suspender as aulas até a votação de segundo turno, ou pelo suspender as listas de chamada até lá, o que foi recebido com ovação pelos alunos.
No encerramento, Safatle reconheceu que o tempo era curto para tarefa tão complexa -Bolsonaro largou com quase 20 pontos a mais que Haddad no primeiro turno. Buscou, no entanto, animar seus companheiros.
"Se nós perdemos, são gerações e gerações que perderão. Não há como esmorecer até o dia da votação. Não há outra opção, é vencer ou vencer."
Ouviu-se, então, outra explosão de palmas no salão. Com informações da Folhapress.