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Mais de 600 pesquisadores assinam manifesto pela democracia

Embora não declarem voto, signatários criticam ideias já defendidas por Jair Bolsonaro

Mais de 600 pesquisadores assinam manifesto pela democracia
Notícias ao Minuto Brasil

21:16 - 22/10/18 por Folhapress

Brasil Eleições

Mais de 600 pesquisadores brasileiros assinaram um manifesto em favor da democracia, divulgado nesta segunda-feira (22).

Os signatários não declaram voto em nenhum candidato, mas criticam ideias já defendidas pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), como tortura, intolerância, autoritarismo e incentivo à violência.

"Os regimes autoritários muito frequentemente instrumentalizam a ciência para fins contrários aos interesses da sociedade. A boa ciência necessita da crítica e do contraditório, do reconhecimento das diferenças e do respeito a opiniões divergentes, todas características que somente podem florescer em ambiente democrático", afirma o manifesto.

Assinam o documento nomes importantes da ciência e da política científica nacional, como o físico Ennio Candotti, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência) em quatro oportunidades, o físico Glaucius Oliva, ex-presidente do CNPq, o professor de filosofia da USP e ex-ministro da educação Renato Janine Ribeiro e o físico Sérgio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula.

Também são signatários do manifesto o físico Sérgio Mascarenhas Oliveira, o epidemiologista Cesa Victora, vencedor em 2017 do Prêmio Gairdner, uma das principais láureas na área de saúde, o neurocientista Sidarta Ribeiro, o antropólogo Otávio Velho e o climatologista Carlos Nobre.

Os pesquisadores, no documento, repudiam "com veemência, toda e qualquer apologia à tortura, as inúmeras formas de violação e as ameaças à preservação do meio ambiente praticadas por regimes autoritários do passado e do presente".

Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto, já anunciou que, eleito, retiraria o Brasil do Acordo de Paris, no qual enxerga ameaça à soberania nacional.

O documento adotado em 2015 na capital francesa contém metas fixadas de forma voluntárias em cada país, sem interferência externa. Trata-se de diminuir emissões de gases do efeito estufa para conter o aquecimento da atmosfera em no máximo 2ºC neste século, a fim de suavizar a mudança climática.

O candidato do PSL propõe acabar com o Ministério do Meio Ambiente anexando-o ao da Agricultura. Quer ainda interromper a demarcação de terras indígenas e quilombos e mobilizar o Exército para pavimentar a rodovia que liga Manaus a Porto Velho, a BR-319, algo que pode incentivar a devastação numa parte das mais preservadas da Amazônia.

O manifesto também diz que a produção de ciência "passa pela garantia da manutenção das liberdades, dos direitos humanos, pela pluralidade de ideias, pela eliminação da intimidação, da discriminação e da tortura, e pela oposição a qualquer tipo de violência, qualquer que seja sua motivação (étnica, de gênero, sexualidade, posição política ou qualquer outra)."

A preocupação de acadêmicos com o futuro da democracia brasileira vai além das fronteiras nacionais. 

Pesquisadores ligados às principais universidades alemãs também divulgaram um manifesto em "defesa de valores inegociáveis como democracia, direitos humanos e o caráter laico das instituições públicas". Entre os signatários do documento estão os renomados sociólogos Axel Honneth e Claus Offe.

No texto, os pesquisadores veem com preocupação "como, durante a presente campanha eleitoral, difamações, desinformação e perseguição vêm colocando em questão o tratamento igualitário de mulheres e homens, a dignidade de gays, lésbicas e pessoas transgênero, assim como a legitimidade política dos movimentos sociais e os direitos de minorias ameaçadas."

Segundo eles, "aprendemos, dolorosamente, com a história europeia e, em especial, com a história alemã, que a apologia da tortura e da violência e o desrespeito a concidadãos e minorias jamais serão solução para crises econômicas e políticas."

Ao final, eles instam a Justiça brasileira a colocar a democracia e os direitos humanos "acima das preferências ideológicas dos juízes e punir todos aqueles que os violem com palavras ou atos." Com informações da Folhapress.

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