Filho trans de Witzel diz ter sido 'usado' pelo candidato
Jovem transexual de 24 anos afirma que pediu ao pai que não o citasse e foi 'desrespeitado'; ex-juiz diz que avisou a ele, ainda antes do início da campanha, 'que jamais o esconderia'
© Alexandre Macieira\Flickr - Fecomércio RJ
Brasil Eleições
O chef Erick Witzel, filho do ex-juiz Wilson Witzel (PSC), afirmou ter se sentido "usado" pelo pai durante a campanha ao governo do Rio de Janeiro. Ele é transexual e o pai, membro de um partido com raízes evangélicas.
Witzel mencionou a condição do filho numa entrevista à CBN em 12 de setembro ao falar sobre "ideologia de gênero".
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"Para mim, esse negócio de ideologia de gênero tem que ser resolvido em casa. Escola é para ensinar matérias propedêuticas, de formação profissional. Eu tenho um filho trans, e a gente discutiu em casa. Meus três filhos hoje chamam o meu filho de Erick -ele era Erika-, e a gente convive muito bem com isso", disse ele.
Erick afirmou ao jornal O Globo ter se sentido "usado" e declarou que pediu ao pai que parasse de mencioná-lo. O candidato acatou o pedido.
"Pedi ao Wilson para não me citar na campanha dele, mas ele quebrou isso. Não vou mais aceitar este tipo de exploração de pessoas como eu. Principalmente ele, para se promover de uma coisa que não é verdade. Muita gente veio me dizer: 'que bom você ter um pai que é muito bacana com você'. Tenho muito respeito por ele, mas não existe todo este carinho que ele diz ter por mim. É sujo você usar alguém. Eu me senti usado por ele nas entrevistas que ele deu", disse ele ao jornal O Globo.
O chef diz que "as pessoas não sabiam que eu era trans". "Estou preocupado com isso. Eu implorei ao Wilson para não me usar de palanque. Eu pedi: 'por favor, me respeita'. Ele não me respeitou. Não adianta ter um filho trans, porque isso não faz de você uma pessoa que não seja preconceituosa. Não adianta você ter um filho assim, se você não é coerente."
Na entrevista, ele diz que se distanciou do pai quando tinha 10 anos, quando o ex-juiz se separou de sua mãe. Ele afirmou que começou "nessa caminhada como pessoa trans com 18 anos".
Erick já havia manifestado contrariedade com o pai após Witzel chegar ao segundo turno como uma surpresa da eleição. Em sua conta no Instagram, disse que aquele era "um dia triste para a história do nosso estado e do nosso país".
Witzel afirmou que "a minha maior admiração pelo que ele é".
"Quando estive pessoalmente com o Erick em fevereiro, anunciei a ele a intenção de me candidatar. Naquele encontro, no bar Amarelinho, na Cinelandia, ele pediu que eu dissesse que tinha três filhos, o que rechacei imediatamente, dizendo que tenho quatro filhos, que os amo igualmente e que tenho orgulho do que cada um estava se tornando. Desde então, nós nos falamos e sempre reiterei que jamais o esconderia", afirmou o candidato.
"Minhas declarações sobre ele (tanto quanto o que já falei sobre os outros três) não foram no intuito de fazer política e sim de mostrar que tenho uma família que amo e sempre amarei. Ele pode gostar ou não do que eu venha a dizer sobre ele, mas afirmo categoricamente que tenho a minha maior admiração pelo que ele é, de ter um filho com a determinação que o Erik tem e que estarei sempre ao lado dele", disse o ex-juiz. Com informações da Folhapress.